5.2.09

Diz-me Oh Noite

Diz-me, oh noite,
quantas estrelas tens
que meus olhos não tenham visto


E quantas lágrimas e mistérios
que perpassam a minha mente invadindo o coração.


Lágrimas que chovem em pedestais estendidos
E tu, oh noite, que me agasalhas no quente frio
na doce aridez da fragrância nocturna
emolas-me em teus braços e revelas enigmas
que outros não sabem escutar porque desatentos.


Acoitas-me, serena e límpida
no teu corpo longo e macio
e falamos porque o tempo é nosso
e ninguém o sabe
porque o espaço é imenso
e tudo podemos deixar de fora
inclusive os recreios das lembranças
e o olvidar de uma meditação universal.


Diz-me, oh noite, se quando partir,
partirás comigo
se quando morrer,
nascerás comigo.

Noite Estrela, luzeiro na terra e no céu
e eu, suspenso nesse mar imenso de luz
nesse empolado êxtase de claridade,
e tu minha noite, que depois de
breves instantes me entregaste
nostálgica ao dia
agradeci a tua chuva e cor e contei-lhe
que é na sombra que se projecta a luz,
que é em ti que o branco se forma
e a glória ganha corpo.


Tu embalas as flores
e deixas que seja o dia
a agradecer os elogios
das pétalas abertas.


Preferi ficar contigo porque
conheci as astúcias do Homem.
Desejei ficar contigo porque
entendi caravelas desenhadas em entornados
copos de ousadas valentias.


Porque tu, oh Noite, és os bastidores de
tudo o que é louvável e bonito,
supremo e grandioso, e
contigo quis ficar ajudando na sombra
sem que fosse conhecido...


Diz-me, oh Noite,
porque me deixaste chorar
se tu própria choveste?
Diz-me, oh Noite,
agora que te falo
de coração nas mãos
sem sentimentos fáceis?

Porquê? Porquê o vento a fustigar-me
o rosto e o granizo a
estalar na minha pele?
Porquê, oh Noite, guardiã do invisível,
desconhecida amada que dás
sem esperar agradecimentos,
Ensinas sem aprender,
porque tudo sabes.
crias sem saber de recompensas?


Porquê toda essa humildade
num espaço que embora teu
será dos outros e do dia
de quem muito gosto por ser luz
mas cujos sentimentos são um vazio
que não alberga os seres.

E aí vem ele, glorioso e branco,
tranquilizando a emoção e a ansiedade,
Mas o dia só mostra; nada tem!

Chorei, oh Noite,
por os outros não te entenderem.

Chorei, oh Noite,
porque nos braços do dia
ninguém se lembrará de ti.

E tu beijaste-me
como a mãe que
se despede do filho
ainda menino e que
vai para longe.

Ouviste os meus anseios
como a mãe que escuta
triste, mas serena, os
murmúrios do filho na
sua cama de doente!

Embalaste os meus sonhos e as
frias realidades como a mãe que
envolve e acaricia o pequenino
beijando-o com uma ternura inefável
e apertando-o contra o seu corpo
num triste desejo de o possuir.

Como a mãe a quem o tempo
é roubado apesar de o filho viver,
assim tu, oh Noite, me vês chorar!

Não por mim, mas pelos que não sabem chorar.
Não por ti, mas por eles mesmos.

Chorei por os outros não te entenderem.

De ti me aparto.

Diz-me, oh Noite

Quem ficará comigo

quando não tiver ninguém...?