22.2.09

Do Carnaval


Não vesti este fato nem usei estes sabres: é uma fotomontagem, obviamente, mas quiçá mascarar-me-ia de Jedi, se ainda tivesse pachorra para os apitos e chapéus na cabeça, serpentinas, comboinhos de pessoas ao som de uma qualquer música, e tudo aquilo que parece desnortear as pessoas neste breve interlúdio.


Não gosto particularmente de folias, muito menos das do tipo carnavalesco. Mas como tudo, o dia de Carnaval como interregno lúdico e livre que é, não passa da representação de uma sociedade no que seria se se declinassem as normas. A máscara tem o sentido catártico de uma disciplina socialmente imposta. As personagens que representamos confundem-se no real e no imaginário, porque tanto somos aquilo que pensamos ser, como as personagens que apenas pensamos representar. Mas hoje não é preciso haver dia de Carnaval. Carnaval é todos os dias. Há uma consciência emergente do provocatório como mais-valia pessoal, e com ou sem sentido do ridículo, somos autênticos palhaços em manifestações isoladas do quotidiano.


A educação cheira a visita de museu, e a frontalidade resvalou para a arrogância. Neste nevoeiro do conhecimento todos os dias temos os mais variados corsos onde o papel principal é sempre o nosso. Daí que o dia de carnaval seja hoje uma mera festa pública para miúdos e graúdos, porque a verdadeira, a genuína e formal, é aquela em que os carros alegóricos (pessoais ou colectivos) passam todos os dias por nós. Entre a defesa e a hipocrisia, entre o real e o intencional, as máscaras são produto de personalidades prensadas no despotismo de muitos. Neste aspecto valorizo os simples, a simpatia do riso, a desresponsabilização salutar por tantos males do mundo! O homem médio é sem dúvida o mais feliz. E passadas as vinte e quatro horas permitidas ao excesso, entra-se num período de reflexão. É a Quaresma com início no dia seguinte, a Quarta-Feira de Cinzas cuja iliteracia religiosa muitos devem desconhecer.


O Carnaval, não devia ser um tempo avulso como se fosse um workshop circense; não devia ser uma catarse lúdica concentrada num dia colectivo. E da carnavalada tantas vezes grotesca e inominável à Quarta Feira de Cinzas do dia seguinte, dia de reflexão numa perspectiva cristãs, ficam exemplos quotidianos de quem sofre e de quem ri.


É muito bom brincar, mas se é carnaval, esperemos que tempo haja para não brincarmos às guerras.