28.4.09

Falar-te-ei de amor até estares mal...

Hoje queria escrever só duas palavras sobre a Amizade e o Amor que tantas vezes se entrosam. Muitas vezes não é o que acontece mas a forma como lidamos com o que acontece que faz toda a diferença. Supunhamos alguém que faz inúmeros disparates na sua relação de amizade e/ou amor. Pode ser que magoe o outro, mas tenho para mim que não é tanto o acto em si, mas a forma como lidou com ele. Se em simultâneo com o que quer que tenha feito não der quaisquer sinais de receptividade, fechando-se automaticamente numa certeza ou razão, então sim, o acto torna-se duplamente grave. Porque a forma e a substância ficam igualmente ditadoras. Ou seja, se a substância é a causa primeira (magoar o outro, mal entendido, orgulho, teimosia, diferença de carácter, mentira... acrescentem o que quiserem...), a forma pode atenuar o agravo (pela receptividade, por sinais), que de alguma forma levarão de novo ao abraço e à comunhão, mesmo que com diferenças na maneira de ser e de pensar, dado que ser amigo, não é partilhar necessariamente dos mesmos ideais, e seguir apenas os mesmos caminhos. É chamarmos o outro à colação, como dizia num outro post, e se ele se mantiver fechado num egoísmo infantil do qual talvez não se tenha ainda apercebido (o egoísmo e a certeza da nossa pseudo-infalibilidade cegam-nos à evidência), então aí a escolha será do outro, se quer ouvir o que não gosta ou apenas ouvir o que quer. E a comparação arrasta consigo o juízo, e quando somos nós o juiz, a sentença tem de ser uma defesa. O julgar torna-se quase inevitável e o juízo destrói uma relação (seja ela que tipo de relação for).

Uma coisa é fazermos algo de censurável, e outra, muito diferente, é que essa pessoa seja em si mesma censurável como pessoa. Uma andorinha não faz o verão e uma fraqueza não faz o homem fraco. O engano de sempre é passar da condenação da acção à condenação da pessoa. Posso continuar a gostar de uma pessoa, apesar de não gostar de algumas das coisas que faz. O importante é não generalizar, não estabelecer categorias. Isso é julgar a pessoa antes que ela seja julgada. As etiquetas falam. As fórmulas convencem. Os títulos ofuscam. Os que temos como referência, são também, afinal, falíveis e errantes. O que ouvimos dizer e tomamos como certo, turva-nos a visão da justiça, e é o pior juízo porque não tem a aparência de o ser.

A democracia não funciona nos sentimentos. Esforçar-se em ter por todos o mesmo afecto, rapidamente iria degenerar em ter por todos um afecto mínimo. Não nos é facil manifestar o amor que temos uns para com os outros. Desconfiamos das palavras, menosprezamos os sentimentos, fugimos ao sentimentalismo. O amor tem de ser efectivo e prático. Obras são amores e não boas razões. Se alguma coisa que possamos fazer, -lo-emos de todo o coração, mas se repararem, acabamos por não fazer nada pelos amigos. O que é que podemos fazer por eles? Claro que faremos todos os favores e todos os recados que nos peçam para fazer quando se oferecer a ocasião, mas esta poucas vezes se oferece efectivamente. O facto é que na maior parte dos dias e das horas não nada que possamos "fazer" pelo amigo.

A insegurança vem da solidão, da falta de afecto e de apoio. Se deixamos o amor só para as "obras", a amizade arrefece depressa.

Até já!


(Cabe-me um particular obrigado em relação aos comentários que deixaram no meu último post, independentemente de concordar ou não com eles. A todos, muito, muito obrigado. Regra geral, como ja disse tanta vez, não costumo comentar o que me escrevem, mas tal como digo, leio cada e-mail, cada comentário, como se fosse o único).


Nota: Acabo de ler o último comentário publicado no anterior post, que termina assim: "acho louváveis os constantes desafios que colocas aos teus leitores. Assim como, o teu 'projecto' de tornar a blogosfera mais humana. (se é que me permites a fazer tal síntese :)) Isso transparece um pouco da tua própria Humanidade e forma de ser. Coisa que, olhando simplesmente para a tua fotografia, para o teu rosto, eu nunca conseguiria aferir". Nem de propósito, Luis. Também sempre tive a sensação de que me devem olhar como um "professor doutor" de nariz emproado. Não sei porquê. E se retiro o teu comentario que acabo de ler, é porque enfatiza o que digo neste, embora numa perspectiva diferente.

Vêem como um simples rosto nos pode dar impressões contrárias do que somos? Imaginem agora o resto que falo neste post. Não disse já que era um lobinho? Sou demasiado frágil, mas precisamente por isso, as defesas são maiores e, talvez por isso, o "ar" o que transparece do proprio rosto represente o que nao sou... De qualquer forma também pensava que tinha um ar terno, lol... Chuiff...
Bem, até já outra vez ;) eh eh
Daniel (Lobinho)