6.4.09

O PESO DAS MINHAS ASAS


Quando tocares piano, não páres.
O dedilhar constante.
Silêncio nas palavras. Sábias de vida.
Porque de silêncio feitas.

E voltas. Constante. Sem parar.
A vida não pára mas é errática.
As notas do piano não.
Por isso não páras,
Porque sabes que a pauta está escrita no vento
até acordares de ti, e não no fim de uma clave.

Louco. Vão internar-me num hospício de poesia.
Até um dia alguém passar fora dos muros
e saber que há lá alguém preso.

Leva-me de mim.
Não te conheço, não sei quem és.
Mas leva-me de mim.

E tu vens. Abres as asas e mostras-te Luz.
Como a dizeres que fui incrédulo.
Que não acreditei nas harpas e nos clarins.

Abres a mão. Tocas na minha sem me olhar.
Tens feito muito caminho - murmuras suave.
Mas ainda nao aprendeste a conquistá-lo.

O caminho que tenho feito deixa marcas indeléveis.
Invisíveis. Nao sabem ler os meus sinais.
Que orgulho poderia ter num caminho assim?

Largas-me entao a mão e voltas aos teus céus.
Tens asas bonitas e grandes. Brancas. Embalas-me assim.

E no chão cai uma pétala. Mas não sei da flor.
Não sei de mim.

Um dia haverá um concerto majestático.
Não sei se na terra, se no céu.
Imperceptivel aos neutrais da vida.

As minhas asas são demasiado grandes
para poder voar para ali.

Onde todos se rasgam de tristeza
e rejubilam de alegria.
Cantam a vida, a amizade e a beleza do ser.

A mim, só me foi dado poder observar.
E no peso das minhas asas
farei todos os dias um clamor.