12.5.09

SE EU DE TI ME NÃO ME LEMBRAR...


Sem aqueles traços que caracterizam muitas pessoas quando pretendem ir directamente ao assunto, a minha mãe é [porque vive noutra dimensão] uma senhora suave e serena que, desde o primeiro ao último filho - num total de quatro, sendo eu o "puto" -, soube incrivelmente dar lições de vida sem que para isso fizesse quaisquer prelecções, ensinando a dignidade do ser humano pelo simples mas firme exercício do seu afã maternal. Quando algo pudesse não ir tão bem quanto eventualmente desejasse, guardava tudo para si, e foi esse silêncio que a acompanhou desde os dias da juventude em que placidamente acompanhava a minha avó na quietude e tranquilidade dos seus dias. Uma senhora que passou pela vida com o sentimento de que aquilo que lhe foi confiado havia de ser feito sem grandes reclamações, e que sem deixar de afirmar valores, cederia à compaixão e natural empatia.

O que sempre me admirou grandemente, foi o sentido que deu e o cunho que imprimiu à educação dos filhos, o tacto em dirimir as travessuras, a desdramatização que alguns de nós na irreverência da infância ou da primeira juventude, pudesse radicalizar. Mas mais ainda, e olhando criticamente para trás, o que mais marcado me fica, é o amor com que sempre nos envolveu, e sobretudo a dignidade que pelo exemplo transmitiu, e deixou nos nossos corações, indelevel e eternamente.

Nos dia de hoje precisamos de mães assim. Que sem desculpabilizar nos apertem no peito, que sem deixar de educar para valores mais elevados do que o fortuito de uma sociedade vazia, nos dêem também o alento para prosseguir a caminhada. Hoje as mães demitiram-se do seu papel de mãe. Nestes dias está muito em voga que os filhos e os pais, mais do que uma relação natural de sangue, devem sobretudo ser amigos. Não partilho. Pelo menos com essa literalidade. Um pai é um pai e uma mãe é uma mãe. (E já agora, um filho também é um filho, com tudo o que daí se deve extrair de direitos e obrigações para com os pais, e destes para com o filho).

Não se devem homogeneizar as identificações que se têm. Na escola, os miúdos têm as suas brincadeiras e cumplicidades próprias da idade, e com a mãe terão as suas brincadeiras igualmente próprias, mas num plano distinto. Discordar disto é deslocar os afectos e transformar os pais em meros procriadores, mais dignos ou menos dignos, conforme nos identifiquemos ou não com eles, à guisa do que se faz com os amigos.

Educar, assume hoje uma mais-valia em termos de vulnerabilidade e sujeição ao mundo em que vivemos; um mundo desinteressado, omisso, relapso, anónimo e assustador. A presença da mãe (sem relegar o papel do pai) deve ser um pouco a estrela em que acreditamos que nos leva a bom porto, mesmo sendo nós a acostar.

Estão sempre de parabéns as mulheres que não se deixam levar pela vaidade dos homens, porque nem por isso se tornam menos mulheres. E se hoje voltei ao tema da Mãe, foi porque o Dia da Mãe é apenas um pretexto. Costumo celebrar o Dia da Mãe no dia 05 de Fevereiro. É o dia de anos de minha Mãe. Não celebro o dia em que, ao contrário da Pietà de Miguel Ângelo, eu segurava minha Mãe em meus braços. Celebro a Vida, o respeito e a dignidade. Celebro o dom do amor que me deixou mesmo inconscientemente (ou não), e amigos, costumamos dizer que é nossa mãe, que vale sempre tudo, etc., mas não é bem assim. Há mães não biológicas que acolhendo em suas vidas esses "filhos", são as verdadeiras mães. E há avós que fazem muita mais falta quando partem do que as mães. Por isso, há mães e Mães. Porque uma Mãe não deixa de ser uma mulher, mas há mães que são MESMO mães...

Porque continuamos em Maio, mês das flores, da primavera, da esperança, do coração, da Mãe, e porque há mães e Mães, hoje e sempre, mimemo-las.No meu caso, não é a morte que choro. É a ausência de amor...



E o meu anjo falou-te ao ouvido, Mãe,
e eu recebi o teu sorriso e o teu beijinho...