19.5.09

SEMANA ACADÉMICA


Estamos na Semana Académica, que termina dia 23. A bênção das fitas aqui por Lisboa realizou-se às 11h30 na Alameda da Universidade presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e a festa contou com mais de 60 mil pessoas. De resto vi alguns blogues (curiosamente não eram de Lisboa) onde colocavam fotos suas e/ou com amigos num momento tão importante da sua vida académica e pessoal. É, de facto, um momento marcante para não se deixar de postar. E é marcante mesmo para os que não têm licenciatura, mas assistindo é comovente. Tal como Fátima o é, mesmo para os não-crentes na procissão do adeus, ou o juramento de bandeira para os recrutas.

No entanto, dados vindos a lume revelam que os estudantes universitários pouco ou nada lêem, que não vão ao teatro ou a exposições, e vêem muita televisão. Não me parece novidade. As manifestações académicas são curto-circuitos propalados por uma interacção grupal e não tanto pela convicção do que defendem. Tornou-se moda contestar, reivindicar uma sociedade à altura de uma geração que se quer feliz. Mas não se deve fabricar ideologias sobre escombros disfarçados. Seja esta uma geração nova no âmbito das novas tecnologias, ou simplesmente o institucionalizado direito à indignação (também não vamos pelo caminho de Vicente Jorge Silva que do alto da sua sapiência a apelidou de rasca), o facto é que é uma geração sem referências, de famílias fracturadas, numa sociedade que não se conhece a si mesma. Não me admiro, pois, que se colmate com ânsia e euforia, o que falta no entusiasmo de outras actividades académicas e praxes culturais. Em Direito, por exemplo, fica a saber-se que interessa a área de económicas, e em Economia e Gestão fica sempre o idílico de grandes gestores e economistas numa espécie de entronização do homo economicus. Lá vão sobrando algumas áreas que por inerência obrigam a uma diferente abordagem da realidade, mas pelo caminho ficam aqueles enésimos cursos que mais parecem o cumprimento de uma lei avulsa. Existe uma apropriação demasiado pessoal e técnica dos cursos frequentados (sendo muitos os de recurso), em detrimento de um interesse cada vez mais apagado pela cultura em geral, pela tertúlias literárias, pelos fados cantados com dor, pelos intercâmbios e jornais de estudantes, por concursos e experiências de campo, e tantas outras formas de enriquecimento, geradoras de verdadeiros profissionais qualificados. Desapareceu o gosto pelo saber, e tudo o que importa é passar até poder dizer ao mundo que se é doutor! Mas quanto a isso já advertia Sócrates sobre a douta ignorância!

Arredados das verdadeiras relações humanas (que não são o mais ter e o mais saber), os jovens universitários revelam um quadro emocional francamente baixo, com decisões robóticas, encontros insípidos e confusas personalidades. A necessidade de afirmação nunca foi tão premente. Depois lá vêm as queimas das fitas, e centenas de jovens um pouco por todo o lado, participam neste pequeno frenesim como corolário e início de uma caminhada. Todavia, mais importante do que ser doutor ou engenheiro, gestor ou arquitecto, é saber usar os conhecimentos adquiridos sem nunca relegar a diacrónica formação humana, ou teremos médicos sem escrúpulos e gestores desumanizados. A felicidade não se compra, apesar de pensarmos que sim. A ideia de felicidade é que se auto-sugestiona pelo tilintar das moedas, e decididamente que muitos percebem isto. Mas há becos e travessas, demasiados estímulos e desnorteio de valores prefigurando-se como resultado dois grandes caminhos: uma exótica e tentadora corda bamba que esconde falhas podres, ou uma ponte marginalmente construída. É por isso que não valem apenas as capacidades técnicas, mas também o discernimento, a sensatez e a ética que não se adquire num curso. E este discernimento é tão mais importante quanto o mundo em que vivemos sofre constantes e importantes mutações, obrigando a uma ponderação equitativa e correcta de novas soluções face a novos casos.

O saber não é a acumulação de conhecimentos, mas a vivência humana de uma vastíssima realidade. E se aquilo que nos move é o afecto, e a decisão vem do sentimento, (é uma constatação cientifica já vinda de António Damásio) então este não é o caminho.

Entretanto, parabéns a quem vive agora este acontecimento.

Até já. :)