18.6.09

FÉRIAS DE NÓS?

foto tirada de avião
O calor aperta. Abafado ou natural, aperta. Alguns fizeram férias, outros preparam-se para elas. Dos mais variados tipos. Férias de si mesmo, de um ano lectivo, de exames ou projectos a ultimar um curso, de teses ou trabalhos numa pós graduação, do trabalho de sempre, de uma vida por viver... outros simplesmente estão de férias involuntárias há muito, ou gozam férias dentro de férias.

O que me traz à colação é o tema das férias neste tempo já estival, e não tanto o tipo de férias. É mais a substância e não a forma. Se conseguirmos esboroar metade das defesas que diariamente usamos, certamente faremos mais amizades e seremos tão predispostos como os nossos emigrantes que, quando lhes pedimos uma direcção, dizem-nos "vai sempre em frente, depois vira tout à gauche, e depois da esquina é tout à droite". Ficamos sem saber se agradecemos, se perguntamos de novo ou se percebemos a direcção. E assim, neste tempo repleto de festas e romarias, lá vamos encontrando também outras pessoas, novos e velhos, uns na loucura da novidade, outros na placidez do quotidiano. No meio de tantos "Ola Ti Manel, comment va o senhor? ou Mas o que é que tu queres, filho? Toma lá um cadeau"... fica a simplicidade da abertura e alguns vaidosismos estéreis.

Quando as férias servem para retemperarmos forças, para nos banharmos no azul da tranquilidade, nas ondas do descanso, de sensações agradáveis e despreocupadas, então vale a pena francamente tê-las. Mas se as férias se tornam sociais (dizer que se esteve fora, etc) então podem ser uma óptima simulação e acabamos por voltar a Setembro (ou ao mês que for) com a sensação de desgaste. Foi, sem dúvida, um diferente período de tempo, mas terão sido férias?

É necessário um convívio autêntico que permita a intimidade e o descanso. Não apenas o mais fotografar, o mais ver, como se fossemos repórteres de uma revista de viagens em que temos de anotar os locais, os percursos e tirar fotos obrigatórias. Fazer férias sem pressas, sem querer ver e estar em todo o lado. Pessoalmente fui -passe a rendundância- algumas três vezes às Berlengas. E, numa delas, fui sozinho, ficando uma semana no forte da Barra, num quarto que mais devo dizer cela, com um antiquissimo postigo de ferro, uma cama, uma mesinha antiga com um antigo-lava mãos e a caliça da parede num espaço ligeiramente exíguo. Mas ouvia o som das gaivotas a deitarem-se por volta das seis da tarde, o marulhar, e sentia a dimensão humana de tão pequeninos, quando estava nos pontos mais altos e olhava o porto conseguindo medir as pessoas quase unindo o polegar com o indicador.

Quem faria férias num sitio povoado pelo silêncio, água tanslúcida, rochas, gaivotas e lagartixas? E, todavia, senti-me interiormente banhado de paz, de um sorriso que desculpa tanta atitude alheia, e que nos faz relevar aquilo que noutras épocas tentariamos explicar à exaustão. Sorrimos como quem está num avião e olhando para baixo quando este vai a aterrar ou descola, deixamos de ver terra e locais, e passamos a ver manchas cada vez mais ínfimas até estarmos literalmente nas nuvens e sentirmos que tanta gente lá em baixo a "formigar-se" por espaços pessoais, em quadradinhos de existência como se aquele fosse o único lugar e os problemas os únicos no mundo... Tudo se relativiza. Assim ali, como se estivéssemos no Monte Sinai, longe de tudo e de todos numa paz que a natureza transmite e nos obriga a aprender que a sabedoria não é conhecimento.

pessoas que se cansam de procurar um sitio para passar as férias. Istambul, Las Palmas, Gibraltar, Estados Unidos, Malta, India, Egipto ou Ibiza. Algarve, Sameiro, Cuba, Nepal, Canadá, Florença, Republica Dominicana, Tibete ou Estoril? Campismo ou excursões? Auto-férias ou cruzeiros? E agora, porque não ficar em casa?... Importante é partilharmos e saborerar momentos continuados de prazer, melhor será dizer de fruição, de descanso, de um mundo temporariamente desaparecido (do trabalho, da política, das recriminaçõees, do ramerrão rotineiro ...) e enriquecermo-nos mais pelo simples gesto de sorrir. É que quando voltarmos ao mundo por onde instantes saímos, por certo estaremos revigorados e felizes por termos sido verdadeiramente nós, de que muitas vezes nos esquecemos, entrando em atitudes grupais e seguidismos de moda, conveniência ou pura ignorância.

Férias? Férias (também) de nós... sozinhos ou não.