9.6.09

REDIMENSIONAR A VIDA

Num curto jogo de ténis

Ouvimos todos os dias, falar de crise, de falta de emprego e habitação condigna, de exclusão social, de violência e tantas outras coisas, sem encontrarmos remédios que contrariem esta situação. O que falta? É natural que baralhemos as estatísticas e já não nos lembremos dos pés descalços pelo chão e do pão escasso em cima das mesas de outrora. Ontem, os pobres lutavam por sobreviver, amando-se. Havia para o vizinho e o amor e a solidariedade andavam lado a lado. Hoje, o egoísmo reparte-se e deixamos de pensar nos outros, extinguindo os verdadeiros valores da vida.

Temos de aprender a verdadeira arte da vida. Tanta gente que nasce, vive e morre sem nunca se terem conhecido. Morrer sem nunca ter dito um poema, ou cantado uma canção. Só na compreensão de nós mesmos se pode melhorar e permitir que a personalidade melhore a humanidade. Mas quantos olham para si e não apenas não se conhecem como se julgam conhecer. Doutos ignorantes, dizia Sócrates. Há que esvaziar os conceitos vazios do que somos e levantarmo-nos de encontro à vida. Não se pode deixar que a poeira da rua ou da cidade nos cegue, e penetrar na essência das coisas.

O segredo da vida é a humildade que nos transforma em pessoas enérgicas e eficientes, capazes de dominarmos situações adversas e os ventos contrários da existência humana. Se o elevador cai ou se incendeia por qualquer escada se sobe. Mas é muito importante não nos determos apenas no lado brilhante da coisa: a humildade da finitude, o saber que nada sabemos ou que, pelo menos, não sabemos tudo, é tão importante como o resto que acabo de dizer. São duas faces da mesma moeda: o ser humano todo, e não apenas a falsas forças e certezas de quem se julga eterno e ominiscente.

Hoje somos levados pelos impulsos libertinos dos tempos modernos, que não geram felicidade; pelo contrário, trazem insatisfação, sofrimento, confusão, desnorteamento e, até repulsa e nojo. É por isso que temos de saber ser críticos em relação a nós mesmos para depois o podermos ser em relação aos outros, às coisas e ao mundo. Não podemos meter a vida numa garagem. que fazermo-nos ao largo. Há muito amor para dar e para construir, uma força interior que une e um amor que modela e uma paz de espírito que valem mais do que todos os bens materiais ou empenhos desnecessários em vidas que mais são existências.

O coração tem a grandeza do mundo. Só quem não o dimensiona à infinitude se torna cerebral e não sabe o que é viver.

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