8.7.09

COMENTÁRIO SOBRE CONTRIBUTOS

Bem, fica aqui o meu comentário às intervenções do post anterior, (DEUS NÃO SE PROVA), mas como digo, foi tão grande essa resposta que, ao tentar postar, apareceu a indicação de que não permitia o html de quatro mil e não sei quantos caracteres. Assim, eis o meu próprio comentário ;)

É gratificante ouvir todas as vossas opiniões, mas seria cansativo e longo responder a cada um. À guisa de resumo, diria isto.

O "objectivo" do post é o mesmo dos outros: a partilha, mas neste em particular, cujo nome é "Deus não se prova", se não pretendi dar à religião uma irrefutabilidade, também não pretendi dar à ciência uma legitimidade que não tem. Porque pretender explicar Deus pela ciência, é não saber o que é a ciência. Não se chega a Deus pelo método experimental. E basta que falhe um dos passos do método cientifico, para que já não seja ciência. E falhar um dos passos do método cientifico não é dizer que não existe. É verificar que a ciência se limita e restringe ao seu campo. A ciência não explica a política. Seria absurdo.

E também não podemos interpretar mal António Damásio. Antes dele temos Daniel Goleman na inteligência emocional, e António Damásio vem dizer que a Emoção precede a razão. Ou seja, as nossas decisões, por mais estranho que pareça, provêm da Emoção, não da razão. Mas se observarmos a amígdala, responsável pelas emoções, compreendemos os processos químicos e manifestações somáticas, mas não extrapolemos daí que já encontrámos a explicação para Deus.

Pessoalmente sou contra qualquer fanatismo. Seja religioso, cultural, cientifico, whatever. E, por isso, uma mente aberta, mas devidamente esclarecida, deve ajudar a essa abertura, mas não tentar apelar nem legitimar a ciência naquilo que não é dela.

A certa altura do texto, escrevo assim: "Decididamente, Deus não se alcança pelo esforço intelectual que dele possamos fazer. Porque Deus ultrapassa a finita razão, e o finito não pode conhecer o infinito. Razão e emoção são por natureza antagónicas, e no entanto não se invalidam; apenas não se imiscuem."

Razão e emoção não se imiscuem, são por natureza antagónicas, mas NÃO SE INVALIDAM. Houve também quem interpretasse mal esta parte. Assim como quem tentou a velha prova de tudo através da ciência. Prova-me (cientificamente) que Deus existe e acreditarei nele. É um silogismo. Uma vez mais, não se pode legitimar a ciência naquilo que não é dela. E, curiosamente, mais facilmente se prova pela ciência a inexistência do pai natal, ao contrário do que foi dito. Porque é impossível com fusos horários, e pela aritmética simples, que à meia noite de dia 24 em todo os pontos do mundo, em cada casa, se estivessem a depositar prendas pela mesma pessoa (pai natal) que, por sua vez, teria de viajar a uma velocidade astronómica com renas (que por sua vez se desintegrariam) etc etc...

Não se pode nem deve confundir a crítica, com uma legitimação da razão pura. Um céptico não é acrítico, como um crente não é. Este é outro problema. É que a fé não é uma fezada nem uma crença igual à da fada madrinha. A ideia de Deus não deixa de ser racional quando somos adultos e fizemos um crescimento intelectual, mas a ideia da fada madrinha, da fada dos dentes ou dos duendes e do pai natal, obviamente desaparece. E não é a ciência que começa por questionar Deus. A ideia racional de Deus provém da Filosofia, da evolução do pensamento do homem primitivo até ao que somos hoje, passando pelo Racionalismo e Positivismo, sem olharmos para a razão como compartimentada e absoluta da totalidade do seu humano. Não foi pela ciência que se começou por pensar Deus, mas pelas velhas perguntas ontológicas, como o sentido da vida, por exemplo. De onde venho, que faço aqui,, para onde vou? O próprio Comte, positivista, acabou por sentir que a ausência de uma escatologia torna a ciência um objectivo sem finalidade e por isso acabou por formular três "mandamentos": o amor como principio, a ordem como meio e o progresso como fim ultimo da Humanidade, e não apenas de seres biológicos que iniciam e cessam funções, ou seja a Razão pode pensar Deus mas não o pode conhecer. Isto para não falar das nossas definições de espaço e de tempo. A própria razão para existir, existe como fruto da reflexão. E há que perceber que tudo o que envolve cada um na sua caminhada pessoal para Deus (sim, os crentes são bastante críticos, não chegam a Deus porque sim), é uma imagem cheia de cores como a cultura diferente em cada povo. Cristo é a imagem de Deus no catolicismo, Buda no Budismo, Maome ou Shiva ou Vishnu ou Brama,... Deus assume o nome que os povos e religiões (não seitas) lhe dão. Claro que existem religiões orientais que negam o contributo da ciência e atém-se em interpretações literais, mas é por isso que existe a Teologia, a Filosofia, já que a ciência exacta (à qual pretendemos invocar o veredicto da (in)existência de Deus tem outra preocupação que é negar ou comprovar pelo seu próprio método. Uma criança nunca encontrará a mãe procurando-a nos livros ou processo biológico da reprodução.

A terminar, queria reafirmar que sou contra todos os totalitarismos da razão ou de crenças só porque sim. Mas eu intitulei o post "Deus não se prova" e não se prova mesmo. E chamaria aqui de modo particular a atenção de quem falou sobre António Damásio, que conheci e com quem falei sobre estas temáticas. Conhecermos o centro decisor das emoções (e eu já havia falado da neurobiologia e da neurofisiologia) é o mesmo que falarmos de substâncias como a oxitocina, a adrenalina, a serotonina, que uma vez estimuladas nos criam sensação de bem-estar, de amor, de paixão, de desejo sexual, do humor, etc. Nada disto pode ser confundido com a explicação de Deus. Nada.

As opiniões de todos são válidas mas merecem ser discutidas. E muitos fazem luz sobre zonas que julgávamos incontestáveis. Isto penso que se aplicará tanto a vocês como a mim.

Como dizia alguém, um ateu é um órfão que se nega a ter pai. E os que crêem sem uma base de sensatez e discernimento, ou seja, que acreditam tipo o acreditar das crianças que "Jesus vem ao teu coraçãozinho" , são os que mais tarde se emolam em seitas que vemos na televisão porque "chegou o dia". O respeito por quem crê é, TEM de ser o mesmo pelo que não crê. Mas pensar que Deus é mensurável, quantificável, explicável pela ciência, é não admitir a humildade que é pressuposto da ciência: não fazer o papel de Deus. Só ainda um exemplo: podemos clonar a vida, mas não sabemos criá-la. Podemos clonar pessoas; podemos dar sangue e fazer viver outras, mas não sabemos criar vida.

Termino com a sempre frase de Shakespeare: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que na tua filosofia".
Beijinhos e abraços a tod@s e obrigado pelos contributos.