14.8.09

...ATÉ JÁ...

Estamos em pleno verão. O calor é muito. Mesmo muito. Mas de silly season esta temporada não tem nada.

Quando Aung San Suu Kyi, único prémio Nobel da Paz em cativeiro, volta a ser condenada de forma a não poder participar nas próximas eleições na Birmânia (que passou presa na prisão ou em casa 14 dos últimos 20 anos) e é a Nelson Mandela do Oriente, onde é que anda este mundo?

Quando seis dos sete suspeitos inicialmente apontados pela Policia inglesa já foram constituídos arguidos no caso Freeport e só falta José Sócrates para a lista britânica ficar completa...

Quando Fátima Felgueiras é absolvida de alguns dos crimes de que está pronunciada (absolvição não significa necessariamente inocência já que também acontece por falta de prova) e continua alegre e vitoriosamente tal como os seus eleitores, o mesmo tendo acontecido com Isaltino Morais, aqui não por absolvição mas por manter a candidatura depois da sentença e achar que, tal como Fátima Felgueiras, não fez nada...

Quando processos casapianos, apitos dourados e tantos outros se prolongam ad nauseum e, ou se arquivam por falta de prova ou acabam por prescrever...

Quando Manuela Ferreira Leite traz um novo conceito de ética, distinguindo entre corrupção pública e privada a propósito de António Preto... (E até aqui parecia estar a ser alternativa incluindo na transparência, embora também não vá pelos esquerdistas cuja demagogia assusta)...

Quando Sócrates e Cavaco mudaram 180º de estilo e de acção após as eleições europeias (Cavaco intervindo, quando até ali era tudo muito diplomático e com pinças e não é para isso que serve um Presidente, e Sócrates aberto, admitindo baixas, mais receptivo, quando é a arrogância e o orgulho em pessoa espraiado nas políticas autoritárias dos últimos quatro anos)...

...Onde é que está este mundo? Diria R. Reagan que o governo não é a solução para os problemas: o governo é o problema.

A actual crise a querer perder força, começou porquê? Enganam-se se pensam que a crise é só financeira e económica. Onde a cultura, a politica e a seriedade são de fachada, em que fica a dignidade humana e a sua moral? O descalabro deve-se a todo este ambiente de esvaziamento dos valores humanos, do indiferentismo moral e relativismo de princípios em que se tem vivido. E foi assim que se chegou ao falseamento sistemático e à fraude persistente que arruinou as finanças do planeta. Onde não houver moral e civismo também não há cidadão nem civilização. E muito menos, cultura. Há brutalidade dos predadores e a exploração das vítimas. E retaliação mútua. Não cabe um juízo moral onde não há base para ele. A moral só pode surgir como aplicação do sentido ético. A moral não é privativa das religiões. Porque não pode haver elevação cultural, política, religiosa, onde falta o sentido da dignidade do homem.

Tem sido este o grande equivoco. temos andado muito distraídos. A crise actual é esta. Tem sido mais fácil engalanar fachadas do que analisar objectivamente a situação. Se não despertamos por iniciativa própria, a crise encarregar-se-á de nos obrigar a isso. É tudo um problema de valores. da verticalidade dos valores que tanto aqui afloro.

Logo no início do post anterior eu escrevia: "Cristo soube fazer a denúncia do achincalhamento da dignidade humana sem se render aos poderes instituídos, políticos e religiosos (como os essénios, os fariseus, os zelotes...) embora também sem os desrespeitar". O problema é velho. Mas consenti-lo é ainda pior.

Se isto é a silly season, então a rentré há-de ser um carnaval onde a ética e a coisificação se degladiarão num continuum eterno. E se o mundo vai assim com falta de valores, como não queremos nós que estas coisas todas acima referidas, aconteçam?

Por falar em valores, recebi um mail sobre a questão de Deus. Aqui valores religiosos. Eu tenho de dizer que a fé só é abalada por causa das vicissitudes da vida quando se acredita num Deus providencial, uma espécie de 112, o nosso boy das pizzas, um moço de recados. Tentar falar sobre Deus é um pouco como olhar para uma pintura abstracta e tentar retratar o autor sem saber como é a espécie humana.

Quando o mundo se esvazia do sentido da ética, da moral, dos valores... queremos o quê? Políticos coerentes? Sociedades honestas? Frontalidade educada?... É por isso que costumo dizer que seria independente se fosse deputado, apesar de a política não me dizer rigorosamente nada.

Deixo-vos com este desabafo, e coloco aqui ao lado links para alguns dos meus posts, enquanto não volto à fria web, convidando-vos, assim, a (re)-ver alguns deles, porque também precisamos de tempo para olhar para trás, para sermos semente, para descansarmos um pouco, sem estarmos continuamente a inovar. E até porque precisamos sempre de actualizar as nossas decisões. Com tempo, com calma, sem estarmos sempre a reclamar, mas também sem estarmos tão acomodados à falsidade e à mentira que já incorporamos este "valores" como naturais de uma sociedade desenvolvida.

É por isso que vou ali... e venho já. :)

Espero que gostem de (re)-ler algumas das minhas coisas (apenas coloquei algumas das mais reflexivas e não das que são para divertir, ou dos desafios e prémios).

Até já. Continuação de Bom Verão e obrigado pela amizade ainda que virtual [nos casos aplicáveis, obviamente] :)