6.11.09

NOVEMBRO

Tirada na Praça S. Marcos (Veneza)

Não sou daqueles que perdem a esperança, mas vejo muitas vidas em dificuldade, ou andam à deriva, ou se acantonam em becos sem saída. Esta sociedade precisa de se humanizar. Não basta o progresso cientifico e técnico, se a desumanização é um facto inegável. Assistimos à perda de valores fundamentais, a corredores de ilusão e de nadas e, mais do que disse há dois posts atrás sobre o Dia dos Fiéis Defuntos, até a morte é olhada como tabu.

À juventude oferece-se a beleza, à eficácia o lucro, à exaltação da vida o progresso da riqueza, à consciência a fuga e a ocultação, à serenidade e à interioridade o imediato e a exterioridade. Pensa-se como se vive em vez de se viver como se pensa. A medida do Homem é ser cadáver e cemitério. De Cujus, como se diz em Direito. Uma sociedade sem eternidade ignora a morte e desumaniza-se.

Novembro entra em todas as casas como um caminho de fim de tarde, onde há silêncios gritantes, porquês sem resposta, flores com sentido e lágrimas que exprimem amor. Se o homem é pó e amor, então não volta ao pó. Não podemos dizer que na morte não há nada. É um mistério e lá pode estar o maior tesouro. A morte faz parte da vida e só acontece quando deixamos de amar. É dentro do coração que a vida se transcende e não no engano de um beijo no corpo daqueles que amamos. É preciso humanizar a vida para que ela não seja apenas um ponto final. Quem disse que era?

É fácil caminhar por meio de banalidades, facilitismos e justificações para todos os comportamentos possíveis. Também não é difícil encontrar gente desiludida de tudo e a tentar apagar a consciência que não se cala por um instante. A vida dá o que nós lhe damos.

O mundo é belo, mas não é para ser devorado rapidamente. Não é para ser vivido de fora para dentro, mas de dentro para fora.

Abro os caminhos de Novembro e devíamos fazê-lo cheios de transcendência e amor. Humanizar a vida, para que o mundo se torne mais humano. Enchermo-nos de amor, respeito e dignidade, onde começa a verdadeira vocação e a certeza de um caminho para a eternidade.