31.1.10

DIA MUNDIAL DOS LEPROSOS

Comemora-se hoje, dia 31 de Janeiro, o Dia Mundial dos Leprosos. A LEPRA ataca ainda hoje, mais de 11 milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo as estatísticas da “Organização Mundial da Saúde” no ano 2007 foram registados 254.525 novos casos de lepra. No entanto em países desenvolvidos é quase inexistente. A OMS referencia 91 países afectados, sendo que a Índia, a Birmânia, o Nepal totalizam 70% dos casos. Na Europa existem ainda alguns focos da doença em países como Espanha, Itália, Grécia e Turquia.

Apesar de considerada erradicada, os casos de LEPRA duplicaram em Portugal em 2006, relativamente a 2005. Neste ano foram registados 16 novos casos ou seja tantos casos de lepra como os ocorridos entre 2002 e 2005. Estes dados oficiais divulgados pela Direcção-Geral de Saúde, confirmam uma tendência de aumento explicada pela imigração de pessoas oriundas de países onde a doença é endémica. Existem, à data 1400 doentes registados em Portugal (DGS). FElizmente na maior parte dos casos (como no OCidente) a nosso sistema imunitário combate-a, o que não invalida a sua existência, pelos dados que referencio atrás.

Deixo-vos com uma resposta de Madre Teresa de Calcutá e lembro Raoul Follereau, um grande combatente desta causa. Tenham um bom fim de semana.

"O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares?
Eu também não.
Só por amor se pode dar banho a um leproso".

(Madre Teresa)

29.1.10

PRÉMIO LOBINHO (parte II)


Na sequência do Prémio que instituí por ocasião do primeiro aniversário deste meu canto e que a todos ofereci (e continuo a oferecer), tendo embora enfatizado alguns destinatários específicos sem prejuízo de que, quem quer que seja que por aqui passe possa levar o prémio distribuído por dois selos (a taça e o diploma) - por isso, quem ainda não levou, faça favor de se sentir à vontade para o levar -, na sequência deste gesto houve quatro pessoas que de forma directa me interpelaram para que eu igualmente respondesse. Na realidade, não fiz as perguntas para mim, e o meu perfil aí na tecla Lobinho ao lado, fala muito de mim sem contar os posts em si, mas por insistência vou responder ao Fragmentos Culturais (que me escreveu directamente para o mail e por aí respondeu e sobre quem faço alusão no final deste post), à Eli, à Carla e ao Tiago David (ah e ao Gonçalo) que, como digo, me interpelaram a responder ao meu próprio desafio. Não penso que as minhas respostas façam alguém determ-se aqui muito tempo, mas a mim fizeram-me parar o tempo suficiente (à medida que ia lendo as respostas a quem ja respondeu ao desafio) para achar que o questionário por muitos considerado longo, afinal era curto, porque ia conhecendo mais do outro, e nesse sentido é legítimo que me invectivem a responder também. E é só por isso que o faço, já que não se trata de perguntar pela cor preferida ou qual o clube desportivo. Bem, então lá fica:


a) Tens medo de quê?

Penso que não tenho medo de nada. Muito sinceramente. É como um certo desencanto ou abulia vivencial que me faz sentir livre. Mas on a second thought talvez tenha medo de terminar sozinho, não sei...

b) Tens algum guilty pleasure?

Estava a pensar qual seria quando leio uma resposta que é a minha: dormir muito. Adoro dormir. Dá-me prazer. Embora saiba que possa, nalguns casos, ser uma fuga à realidade que pretendo.

c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade?

Indubitavelmente e por ambos os motivos. Ainda hoje faço. Tudo o que tenha a ver com o ser humano, com o tecido de sentimentos e emoções, sejam amizade ou amor, merece gestos plenos de loucura, ou para arrebitar o outro, ou para surpreender, ou para demonstrar o quanto se gosta do outro independentemente do móbil ser meramente afectivo ou amoroso. Somos humanos, nao andróides, só gtemos uma vida e este é o local para a expressarmos. Também publicamente. O mundo é a nossa casa.

d) Qual o teu maior sonho? [Não vale responder Paz, Amor e Felicidade ;) ]

Juro como me chamar Daniel, que é fazer o que sempre fiz: amar incondicionalmente como fazem as crianças ainda na inocência da idade, depuradas embora para este exemplo, das birras e afins. Esse é o motivo pelo qual um dia a minha lápide podia ter a inscrição "eis aqui alguém que muito amou" assim como o motivo pelo qual não ambiciono nada de mais na vida que não a doação, a entrega, a simplicidade genuína e amizade naturais. Depois vamos vendo que as coisas não são assim, por orgulho, maneira de ser, etc. etc., amor mas ainda há quem resista ;)  Acreditem que uma casa sumptuosa, dois jeeps e dois carros, um jardim a la Versailles ou um heliporto no cimo do telhado, sem partilha, nao traz felicidade a literalmente ninguém. Já o contrário nao é verdade.

e)Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? (Não vale brincar)

Sempre fiz a hemodiálise dos afectos, i.e., se estou abatido, ninguém me pode fazer nada. Geralmente recorro à música até descompressar esse abatimento. A tal hemodiálise. Sempre fui bombeiro de serviço e nunca me habituei a ter aquele amigo especial a quem contamos tudo. Acho que talvez gostasse, mas já devo ter muitas defesas. Todavia, necessito muito de colo mesmo que não esteja abatido. E uma simples palavra para mim faz toda a diferença no estado de espírito. Eu nunca disse que era adulto, pois nao? ;)

f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta?

Considerando que incorporo ambas as naturezas numa razão, diria de 50-50 (por isso este blogue tanto podia ter o rosto que tem como podia ter um registo completamente desabrido, havendo por isso posts híbridos sendo sempre eu) seria difícil optar por alguém comunicativo, espontâneo ou mais reservado. Tudo o que peço é feedback e sinceridade no que transmite, nas forma como transmite, etc. Pessoas aparentemente sensíveis e calmas mas se calhar com défices de raiva interiores que não manisfetam, têm de ser avaliadas com calma sob pena de julgar estar a falar com alguém que é exactamente como se apresente e afinal nao ser. Por natureza sou extrovertido. Na alma tenho tanto sol e energia como oceanos húmidos de lugares longínquos numa para-melancolia e subliminidade arrasadoras, mesmo para mim. E porque incorporo muito bem essa ambivalência, ser-me-ia difícil escolher um tipo de pessoa, embora mais inclinado para a abertura de onde supostamente se é mais verdadeiro... com tudo o que possa implicar de cortesia social, que não gosto!

g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável?

Sim, claro que há insatisfações para além do desejável.

h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas)

Muito mais crítico. Mas fundamentando. Não gosto de opinar pelo que sinto no momento, na hora, e depois saber que a minha opinião não tem correspondência com argumentos válidos no real. Mas sim, sou hiper-crítico.

i) Julgas-te impulsivo, de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral)

Sou impulsivo sim, faço filmes também, mas sobretudo sou muito exigente porque também dou tudo o que tenho. E isto aplica-se em quaisquer relações: sociais, com amigos, familiares, profissionais...

j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade)

Decididamente não. O que não invalida a vontade indómita de lhe pregar um sermão de duas horas pejado de razões que me levem a esse comportamento.

k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...).

Quem se contém já se está a anular como ser humano. Abraço, beijo, rio, faço tudo o que sentir privada ou publicamente. Não me refiro a patetices como rir alto numa cerimónia formal ou infantilizar atitudes. Mas não me contenho se o sentir conforme a ocasião. A sociedade é feita por nós, e os preconceitos, visões colectivas, socialmente aceites ou rejeitadas, surgem de uma energia invisível que são as nossas atitudes. Logo, disfarçar um sentir porque estou em público, é não apenas redutor de mim mesmo, como nao fomentar gestos iguais nos outros que assim, paulatinamente, poderão começar a expressar-se mais também em locais públicos, como um adulto que entrasse num escorrega sem problemas de saber que é dirigido a crianças.

l) Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia?

Orgulho não. Teimosia sim.

m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção?

Eu sei que fui quem formulou as perguntas mas isto daria resposta para um post. Sim e não com motivos para ambos. Mas nao conseguiria reproduzir aqui os argumentos de ambas as posições. Como disse daria para um post. Logo, como tenho ambas as respostas, daria uma óptimo advogado porque defenderia ambas as partes, embora regra geral tenha posições muito definidas. A priori a resposta tem de ser SIM, mas... não deixo de encontrar argumentos válidos para alguns nim. Sobretudo na adopção, já que o casamento até contradiz as actuais formas de união de casais hetero, e que são as uniões civis, de facto.

n) O que te faz continuar com o blogue?

A partilha. Tout-court. Li em muitas respostas de quem já levou o prémio Lobinho, que é uma necessidade, porque gostava de escrever, etc. Não é o meu caso. É mesmo pela partilha. por isso talvez nem sempre fale muito de mim. Ah... e também porque teoricamente posso conhecer outras pessoas... e enriquecer com elas... ainda que pelos blogues.

o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue?

Não diria influenciar, mas estimula. Gosto muito de ver comentários e leio-os sempre todos até antes de os ver no blogue. Por isso, não me é indiferente ter ou não comentários mesmo que eu tenha o hábito de, por regra, não os comentar.

p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela?

Antes de mais haver uma espécie de portal de bloggers onde se fizesse pesquisa como se fosse um googleblogger. Vamos dar a vários blogues de forma completamente acidental, e muito raramente intencional, dado que não existem páginas amarelas de bloggers portugueses, embora exista algo assim no Brasil. Depois, a blogosfera ideal seria aquela em que nao se tenta trazer para o mundo virtual as projecções de frustrações mais ou menos conscientes, irascibilismos, maledicência, críticas sociais, politicas, etc. a tudo  e a nada só porque sim, mas um pouco mais de cada um num mundo que permitiria (pelo menos virtualmente) a afabilidade e a amizade que eventualmente contingências sociais ou de outro cariz possam invalidar parcialmente. Mas até aqui se tomam as pessoas mais como potestativos inimigos do que simples bloggers. A comunhão do abraço, da simplicidade e da unidade na diversidade. Seria essa a blogosfera ideal.

q) Deviam haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê?

Participei num onde me decidi mesmo à última da hora. Fiz amizades e como ponho muito de mim em tudo o que faço, não gosto de banalizar nem ver num jantar uma espécie de encontro fortuito que se fica por ali. Devemos levar algo de nós e manter essa chama acesa se o outro também o merecer. Mas rotinizar ou generalizar os encontros de bloggers, pode banalizar o sentido, e também pode cair no mesmo que parcialmente caiu este questionario/descoberta/partilha que promovo, e onde muitos, de tão habituados a perguntas e desafios, o levaram quase para os mesmos moldes não aprofundando respostas e alguns quase telegraficamente respondendo, ou seja, banalizando o questionario, neste caso, banalizar o encontro é torna-lo um encontro como quem vai ali e já volta. Mas claro que também tem a ver com a disposição de cada um.

r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias)

Só pode rir do outro quem souber rir de si, por isso sim, sei rir de mim e rir dos outros, não como quem goza, e obviamente sei brincar comigo mesmo e brincar com os outros (só quem não é livre tem problemas e invoca o respeito para nao brincar consigo mesmo, ou seja, nao saber rir de si).

s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos?

Sou afectivo-dependente, demasiado entregue, acredito muito na Humanidade e particularizo isso com cada pessoa que se atravesse na minha vida, mas tenho de percebecer que nem todos ficaram na idade da inocência, o que me deixa (acreditem) triste.

t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso?

Referem sempre a minha boa disposição e riso contagiantes, inteligência, sensibilidade e cultura, e de facto orgulho-mo apenas no que à sensibilidade diz respeito (porque também sou muito inseguro e vulnerável e também já não tenho pachorra para as necessidades de afirmação que se têm na fase da adolescência ;).. No entanto, o lado reverso é que me vêem sempre muito confiante, seguro, auto-suficiente, (acredito que possa transmitrir essa imagem) mas nisso nao tenho orgulho nenhum pelo simples facto de parecer e não ser. E isso deixa-me desconfortável.

u) Entre uma televisão, um computador e um telemóvel, o que escolherias?

Um telemóvel, porque me permitiria comunicar, enquanto que com uma televisão seria difícil e um computador obrigaria a que estivessem on-line. Claro que me reporto sempre às interacções, porque não vejo a vida do ponto de vista meramente individual. Nao consigo imaginar-me a ser hedonista sem haver a componente humana e das emoções. Nao é por acaso que a solidão e o vazio dá lugar, no limite, ao suicídio. Poque fomos feitos para nos relacionarmos e nao para viver sozinhos em puro hedonismo.- Façam a experiencia. Vao morrer por dentro. É uma constação nao tao empírica quanto isso.

v) Elogias ou guardas para ti?

Elogio sempre e acho estranho porque é que as pessoas por norma, simplesmente nao elogiam. Percebo que elogiar, pode ser para algumas pessoas sinónimo de se diminuirem um pouco (os nossos mecanismos psicológicos são assim mesmo) mas isso acontece se as pessoas não os trabalharem. Logo, se ha algo a elogiar, deve-se faze-lo a torto e a direito. Não por ser nosso amigo ou familiar ou... mas pelo simples facto de que merece o elogio, ou as suas atitudes. Elogiar SEMPRE, desde que o sintamos, nunca por cortesia.

w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente?

Sim. Um sim sem quaisquer dúvidas.

x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática?

Sensível.

y) Perdoas com facilidade?

Já perdoei quando o outro ainda está a balbuciar palavras. Apenas tenho de saber que o outro reconheceu ter sido menos feliz por actos ou mesmo omissões. Ou seja, não reato (embora não hostilize) sem haver gestos mais ou menos declarados, mas basta existirem, e já nem me lembro do que passou. Nao guardo nada , a nao ser que objectivamente o outro se pense com razão e então fico-me num impasse.

z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa?

A morte de minha mãe. Mas já cá não está fisicamente, por isso...

***

Missão cumprida :) E espero que aqueles que agora levarem os selos, me imitem na decomposição das respostas :)

Entretanto, agora que a greve dos enfermeiros marca a quase actualidade, deixo-vos três blogues onde é tema recorrente nos posts e dois de partilha:

FRAGMENTOS REPARTIDOS
Espaço (Ysse)
Meu Mundo, Meu Arco Íris
Enfermeiro, o Enfermo
Murmúrios

24.1.10

PERTURBAÇÃO DA LUZ



Sem nexo, sem afirmação, calcorreando entradas e saídas sem dizer olá nem adeus numa festa de loucura ou de entendimento sóbrio. Cada raio de palavrões mostra uma sala de gente, overcrowded, onde o cantor deixou de ser uma combinação genética e só lhe resta a voz intensa, penetrante, subliminal e aclamante, e ele mesmo visível por linhas de água: o suor. Isqueiros e lampiões de olhos gritantemente chorosos, piamente abertos, solenemente tristes. Sóbrios mas tristes. Não se pode esquecer aquela noite (ou talvez fosse dia) de chuva intensa, de um sol morto e de nuvens rainhas, em que ela se ajoelhou na terra serenamente e a lama colou-se sem que ela se importasse. Chorou. Oh, Deus como chorou. Depois passou a mão pela cabeça, alisando o cabelo longo e macio da tempestade do vento. Mas o dia estava diferente, escuro como se fosse noite (às tantas era mesmo noite. Nem que fosse a noite da alma).

Luzes amarelecidas, moveis chiquérrimos e caríssimos de outra eras mas feios, escuros, tenebrosos, tal como as óperas, operetas e demais, cavernosas, a meia luz, doentias, fúnebres. Quero luz e som, alegria e um mundo cheio de pessoas verdadeiras. Todos os dias falo com pessoas sem mostrar quem  sou, mas a rapariga do dia da morte chorou e foi-se embora depois de tantas horas. Um cemitério, um olhar, uma chuva intolerante, e de repente noutro lugar, outra mulher que não esta, presunçosa, convencida, vaidosa, simultaneamente afável e dona da razão, simbolicamente representando tantas outras, e lá vem a natureza do artificial e sabichonismo, doutrina social onde as pessoas se tornam camaleões.

Acabou-se o programa. Tudo é bonito, fofinho e azul. Acabou-se a tempestade e a loucura também. A noite é calma e convidativa. Depois da história a mãe vai dar-te um beijinho e não se esquecerá de te aconchegar no quentinho da roupa lavada. Dirás adeus, e Deus permita que amanhã ainda encontres quem amas.

19.1.10

UM HOMEM TEM DOIS METROS DE ALTURA




Quanto mede um Homem? Quanto vale um Homem? Pode medir-se uma Pessoa? Pode aferir-se do seu valor? Que critérios nos guiam para tamanho juízo? Não haverá aqui elementos subjectivos e psicológicos que nos desautorizam a “medir” um Homem?


O mundo exterior e o mundo psíquico podem ser duas realidades distintas. E a captação do sentido da realidade, do anárquico ou do ilusório, é uma captação pessoal com todo o caminho que cada um faz sozinho. Não há, por isso, uma verdade científica, não há uma realidade maior. Há pessoas, ângulos díspares, formas unívocas de ser e de pensar. Ainda assim, também não se pode simplesmente desistir de tentar compreender o Homem. Não se lhe pode dizer que por ser espírito, por ser ave livre do espaço e não um plano quadricular onde se defina metricamente a sua existência e porquês, se lhe anarquize todo o comportamento, justificando-o!

Somos uma realidade complexa, mas partes há que se podem (e devem) decompor. O médico que trata o doente não lhe conhece os hábitos mas diagnostica-lhe as causas. O amor de uma pessoa pela outra pode ver o exterior, as acções dessa pessoa, mas importa lê-la por dentro, conhecer-lhe os sinais. O exterior revela apenas uma parte do que somos, e o amor é uma ponte que intui o essencial, o subjectivo, o que não se vê. O interior é um cofre nem sempre bem manuseado pelo próprio, havendo vontades divergentes, como a real e a declarada. E quando a vontade real não é a declarada, exasperam-se os amigos, os amantes, os familiares; quando havendo uma forma de sentir se revela outra. Por exemplo, gostar muito de uma pessoa e provocá-la a cada instante. Apetecer telefonar ou escrever a alguém, e violentar a vontade não o fazendo. Querer chorar a dor e pretender estar bem. Desejar cruzar continentes e dizer que nada se quer excepto um quadrado de terra.


Tudo isto são evidências, asserções de facto da nossa experiência diária! Poder-se-ão chamar falhas? Como podemos, então, devido a esse hiato que nos é intrínseco, percepcionar, intuir, até mesmo compreender o outro? Talvez pela tentativa continuada de lermos nas entrelinhas sem nos deixarmos levar por juízos pessoais! Talvez por alguma necessária e pedagógica provocação, que num lapso de tempo revele muito mais do outro do que aquilo que mostrou durante anos! Talvez por um amor que supere a curiosidade e trate de amar o verdadeiro, o interior! Porque todos somos capas de nós mesmos. Todos nos socializámos! Mas crescer é anular o sentimento? Tornar-se adulto é ser um protótipo, um exemplo a seguir? Não é antes adulterar-se? Usamos capas e temos de fazê-lo mas só até ao estritamente necessário ou desejável; nunca para além daquilo que sentimos.


Algo me parece óbvio. É que não há formas acabadas de ser, e consequentemente, de não se conseguir ver e perceber o outro! É por isso que há poetas, amantes do horizonte que numa primeira visão parece nada ter! Entre o que existe e a não-realidade, criam, inventam, descobrem mundos que não vemos, dão-lhe cor, luz, alma, personificam-na, devastam ilusões, fazem cair castelos, desmoronam impossíveis... porque há um mar unívoco, pensado, desfeito pela realidade que ultrapassou o sentimento. Paradoxalmente, é nessa terra deserta que encontram seres imaculados, como se desprovidos de matéria e assomos da razão para enformarem a alma, para darem corpo ao que na realidade somos. A forma é a melancolia, a nostalgia suprema, a antecipação iludida de uma realidade.

A dor não se mede. Sente-se. Todavia, a racionalização deve existir como garante de saúde física e higiene mental, ou perderemos as nossas referências identitárias. Se é verdade que somos mais fortes quando amamos, (entendam o amor da forma que quiserem), é igualmente verdade que nos tornamos força quando não amamos alguém em particular, pelo que restará então existir ou viver. Existir, pode ser procurar nas coisas o que não temos nas pessoas; viver, é por natureza uma aventura. Mas valerá a pena pagarmos o preço da mediocridade, porque é assim, porque se faz assim, porque é suposto ser-se assim? Valerá a pena desperdiçar uma vida porque existe um fantasma social?


Uma vida sem ambições pode ser a melhor vida de sempre, alimentada pelo amor, pela solicitude, pela delicadeza e emoção. Mas isso não é uma vida medíocre. É uma homenagem vivida. Não devemos confundir êxito ou fracasso com boa vida ou mediocridade. Uma vida coroada de êxito pode ser o pior sucesso. Uma via com fracassos, (doença, pobreza, desgostos...) pode ser uma lição de humildade e de serviço. Mais: de dignidade! Porque o valor da nossa vida não depende do êxito do nosso trabalho. O importante é estarmos acordados para a vida, e se não sabemos ou desistimos de perceber o outro, não façamos grandes tempestades. O outro muitas vezes também não se percebe; escapam-lhe dados que não apreende.


Terá um Homem dois metros de altura? Pode ter mais e pode ter muito menos, porque a escala de que cada um se serve é diferente, e os resultados são por isso também diferentes. Que fazer, então? Amar quem vive na capa; não a capa. Agir mais e perguntar menos. Valorizar o silêncio. Mas também espevitar, mover as areias do conformismo e incitar a ser.


Se criarmos charme, ilusões, se esperarmos demasiado para que o dourado fique ainda mais brilhante, pode acontecer que no dia em que já pensamos ter o ouro na mão só pela nossa paciência calculada em tempo de espera, seja afinal uma amarga desilusão por já não ser um metal precioso mas um pouco de latão enferrujado. É por isso que devemos estar atentos ao outro enquanto sabemos que nos concede essa honra. Não vá acontecer tornarmo-nos cúmplices do nosso próprio desencanto porque permitimos que o outro se fosse embora!

Quando uma sociedade se inquina em falsos adágios, então como que perde a motivação para mudar, e a vocação de ser ela mesma, e dificilmente uma multidão combate um costume, porque a multidão é acéfala e não sabe de onde vem o problema. O senso comum é o maior inimigo que conheço.

Como penso ter lido algures, inacreditavelmente aparentamos com muita perfeição a falsidade!


Até já.
 

17.1.10

VOAR


Voa plano e sublime. À velocidade do som e da luz . Em trajectórias errantes ou certeiras. No sussurro do vento ou na bonomia da brisa. Ansioso ou pacificado. Em descoberta ou preguiça. Pelo prazer ou perspectiva.

Voa. Mas não tanto que um dia chegues tarde.

14.1.10

PRÉMIO LOBINHO



Fez então ontem um ano que entrei na blogosfera e cujas impressões deixei no anterior post. Tenho andado arredado do meu e dos vossos blogues por motivos de ordem vária que me consomem muito do meu tempo, mas como nunca deixo de ver os mails pessoais, e vir à web embora não necessariamente à blogosfera (os comentários e e-mails são lidos no tlm por vezes antes de os ver aqui, sim, Pedro Moura e não, não estou esquecido de ti, de forma alguma). Não particularizarei comentários sobre o balanço blogosférico, pelo que agradeço todos, como tacitamente sempre faço. Penso que não se sentem desmerecidos pelo facto de nao comentar os vossos comentários, mas deixem a vossa opinião sobre isso, porque que se a maioria resultar em pretender que responda como 90% dos blogues faz, (comentar comentários) terei isso em atenção.

Com algum tempo, mas não com muito, venho oferecer o prémio Lobinho. Como não me consegui decidir pelos dois que vêem acima que idealizei e fiz com carinho, ofereço ambos (podem apenas levar um, se acharem ser redundante, mas é como digo: acho os dois bonitinhos :)

Este prémio vai para todos os que me seguem incluindo aquela plêiade de gente que não me comenta mas lê. No entanto, nao posso deixar (aqui, sim) de particularizar aquelas pessoas (e não blogues) que por um motivo ou outro merecem o meu público e expresso apreço.
É apenas mais um selo, mais um prémio, mas é também nestes gestos simbólicos que deixamos muito de nós. (A propósito, Luis Ferreira, o teu selo do teu blogue Suor de Um Rosto está mesmo muito bom. Coloquei-o na devida altura no painel dos selos recebidos aí ao lado. Um dia destes posto-o, bem como mais alguns que recebi, tão bonito ele é).

O Prémio Lobinho (com a devida modéstia mas também com orgulho) vai para aqueles que fomentam o espírito de Amizade nas suas mais variadas formas, não esgotando o blogue em mero diário de actividades quotidianas, embora também falando de si. Vai para quem fala de si por fotografias e vídeos, pelas coisas do dia a dia, mas também pelas questões mais gerais que não tornam o blogue uterino, e estimulando pela amizade, rigor e sentido de justiça e seriedade, as suas opiniões, temas, desabafos, posts em branco, enfim, tudo aquilo que cada um entende colocar no blogue como parte de si e não como a marcação do ponto num blogue que criou.

Como sou muito dado ao riso, tanto quanto à reflexão e entrega, primazio também as pessoas que se mostram naturalmente simples, que não sentem necessidade de se afirmar por questiúnculas políticas ou sociais, embora dando o seu contributo sobre situações hodiernas enriquecendo, assim, a opinião que cada um tem, mas que se vai diluindo, cimentando ou esfumando à medida que lemos perspectivas alheias. E para que não fique uma coisa sensaborona, deixo algumas perguntas, como reactivação do que sempre propus: sermos nós mesmos com o sentido de nos unirmos ainda que desconhecidos, de derrubarmos fronteiras humanas, de contribuirmos para ABRAÇOS E BEIJOS INCONDICIONAIS, não como quem dá os inevitáveis parabéns porque o blogue faz um ano (so what?) ou porque alguém escreveu num post "hoje senti-me muito feliz porque comi um gelado de caramelo". Não. Refiro-me àquela empatia que se sente simples e natural em quem não coloca muitas defesas sobre si mesmo, a quem não abdicando daquilo que é, está receptivo a aprendizagens, às actualizações de si mesmo, como falo no balanço do blogue.

As defesas que o nosso inconsciente propõe, só devem ser tomadas muito a sério quando alguém rasga (ou tenta) o tecido humano do respeito e da dignidade. Aí eu sou o primeiro a actuar, mas não confundamos aquilo que pensamos como verdades absolutas, e muito menos legitimemos o que dizemos só porque existem persanlidades diferentes. Isso é uma falácia que dá jeito a quem não quer mudar. Cada um caracteriza-se não apenas pelo que é, mas pelo que aprende e muda naquilo que partilha. A menos que seja perfeito.

Desta forma, as perguntas que acompanham o Prémio Lobinho, repito, modesta mas orgulhosamente, e o prémio em si, são para os que tendem a ser naturais, sem complexos, para os que estimulam a Amizade e sabem perdoar e/ou pedir perdão. Para os que contribuem, como sempre digo, para uma web menos fria num resultado que depende de nós e não das tecnologias. E para os que premeiam a ternura, a meiguice, o sorriso simples e amigo (tudo isto tem a ver com o nome Lobinho) sendo simpáticos e amigos, preocupando-se com o bem estar pessoal e alheio.

As pessoas que particularizo no prémio, por motivos vários, e embora possa esquecer algumas tendo em conta que são muitas as que me honram mesmo na diferença, são:
Pedro Ferreira, Élio Filomena,X Bear, Khora, Ailime, Bruce, Rui (In-Provavel) Arco Íris,Gonçalo Duarte Reis, Ana Paiva, Pedro Moura, Tenessee, Gonçalo Cardoso, Luís Gonçalves Ferreira, Ailime, Susana (Terra de Encanto), Ana Serrano, Eli, Carochinha, Malu, Ana (Pelos Caminhos da Vida), Charlotte, R. (O gato do Castelo), Karlytus, Clips de Vidro, Natalia Augusto, Moonlight, Teresa Santos, JSP, Angelo no País das Maravilhas, Paulo (Intemporal), Graça Pereira, Pedro T. do Rosário, Divinus, Jobé, AnAndrade, Kotta, Norberto Marques, Multiolhares, Fatucha, Mocho Falante, Izzie, Rui (Templo do Amor), Arco Íris, Mafa_R, Maria Ribeiro, Carla Silva, Pena, O Universo em Palavras...
... e acreditem que faltaria nomear pelo menos outros tantos, mas os que de uma forma ou de outra tiveram por diferentes motivos maior impacto (ainda que actualmente eventualmente um ou outro possa não ter, mas trata-se do retrato de um ano), ou simplesmente gosto dos seus blogues, ficam estes particulamente nomeados, sem prejuízo para tantos que me comentam e tenho como amigos e farei todo o gosto em que também levem o selo.

Antes das perguntas gostaria de vos convidar a visitar alguns blogues muito pouco conhecidos. Faz parte integrante do prémio visitarem estes blogues:


Passem o prémio a pelo menos cinco pessoas que entendam reunir as várias características do mesmo, e respondam a estas perguntas numa forma saudável de conhecimento.

a) Tens medo de quê?
b) Tens algum guilty pleasure?
c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade?
d) Qual o teu maior sonho? [Não vale responder Paz, Amor e Felicidade ;) ]
e)Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? (Não vale brincar)
f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta?
g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável?
h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas)
i) Julgas-te impulsivo, de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral)
j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade)
k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...).
l) Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia?
m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção?
n) O que te faz continuar com o blogue?
o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue?
p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela?
q) Deviam haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê?
r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias)
s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos?
t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso?
u) Entre uma televisão, um computador e um telemovel, o que escolherias?
v) Elogias ou guardas para ti?
w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente?
x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática?
y) Perdoas com facilidade?
z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa?

Brincando, levem isto a sério. Continuo ocupado. Não estranhem continuar ausente uns temnpos dos vossos blogues. Mas estou atento :)
Com muita ternura e amizade de onde vem o nick Lobinho,
Lobinho :)

9.1.10

EM JEITO DE BALANÇO


Este blogue fará um ano dentro menos de uma semana. Entrei incipientemente julgando as pessoas mais interiormente disponíveis, mais amigas e menos amargas, mas qual estúpida ilusão, aqui ainda se enfatiza mais o temperamento individual, com toda a liberdade e imunidade que a net permite. Nesta tensão entre o real e o virtual, em que numa ténue fronteira qualquer pessoa se pode tornar holográfica como vivendo uma autêntica second life sem se aperceber muito bem disso, podemos incorrer em falácias e erros pela absorção de tanta informação, tanta opinião e tanta perspectiva, que fundindo-se com as nossas próprias opiniões e pensamentos, desemboca numa amálgama pouco clara e difusa daquilo que verdadeiramente pensamos, do que realmente somos, e do cruzamento automático que o nosso pensamento processa entre tudo isso. Crescemos mas também diminuímos. Marcamos a nossa presença, mas nessa tentativa de não nos descaracterizarmos (o crescimento é contínuo, a evolução também, logo não pode haver uma descaracterização de algo que nunca se é por inteiro), acabamos irrevogavelmente por nos acharmos sempre os melhores.

Os blogues falam de quem os escreve. Por um lado os românticos, os que apelam à sensibilidade no sentido clássico do termo, os que pintam mundos idílicos ou conformam a dor a um viver penoso. Por outro os pragmáticos, os que parecem estar constantemente a puxar as orelhas porque se sentem tocados, e os que vão atrás sem se conhecerem de lado algum que não o meio virtual e apenas por essa lâmina de conhecimento, eliminam pessoas reais e julgam-nos pelo que lêem noutros blogues. O que aparenta, consensualmente, é! Há sempre, claro está, excepções. Há um mar de gente que vai absorvendo com um bom sentido crítico, uma boa dose de humor curiosamente necessária antes que se torne fundamentalista, e nem é romântico nem pragmático. Vai sendo o que as situações lhe pedem. Simpático quando estando bem consigo mesmo, eventualmente irascível quando a vida não lhe corre de feição, mas sempre com o dever de correcção, e não como quem destila instintos primários sobre pessoas que julgando virtuais, são muito reais.


Há também os extremistas que são do tipo “venha lá o mais pintado a ver se eu deixo”, e os curiosos que por natureza são os embaixadores do boato. Os racistas, que invariavelmente dizem não ter nada contra, mas talvez seja apenas o socialmente correcto... mesmo na web. Os cultos, que de tão cultos se esquecem de apreciar outras variantes da arte que não as que todos conhecem, nem que seja por catálogo. Os ateus, agnósticos e religiosos, onde nos primeiros se encontra uma aversão visceral a Deus (é o paradoxo de que enfermam), e nos últimos uma crença inabalável. Os reaccionários que gastam todas as energias a esbracejar pelo simples prazer de lutar e dizer mal (reflexo de uma vida mal resolvida, por mais que digam que não. (Reparem que quem é interiormente livre não ladra como os cães: critica com educação). Os pedantes, que continuam a pensar que a vida é uma montra, e os simples, que por vezes se ridicularizam com vaidades que quase os estragam. Os intelectuais, que pensam que a vida são só Saramagos, Manoeis de Oliveira e Mozarts (para além de teorizarem brilhantemente sem terem vivido nada), e os que vão lendo alguma coisa para mostrarem que sabem que a Torre Eiffel no verão mede mais uns centímetros por causa da dilatação do calor, como se este tipo de conhecimentos os instruísse em conversas de outro pendor!


Também há os hipercríticos, que como ninguém passa lá por casa, decidem eles fazer declarações solenes sobre tudo e todos sem margens para dúvidas. Os deficitários de auto-estima que por um mecanismo psicológico automático, transformam alguma frustração ou contida raiva de uma vida dura, numa superioridade que esmaga ou numa crítica hiperbólica como se exorcizasse dessa forma os seus próprios problemas. E as subdivisões podiam continuar indefinidamente, mas importa estarmos conscientes do que somos, para melhor conhecermos quem nos rodeia e melhorarmos o nosso quadrado de vida, ou seja, nem ignorante nem sabichão; nem intelectual nem simplório; tão-só seres humanos pejados de erros e glórias, e assim nos devíamos ver sem mais quês.

Muitas vezes pergunto-me quando será a minha vez de sair daqui. Da net. Da virtualidade que vicia. Da tal tensão que falo no início entre sermos reais e virtuais, entre não podermos deixar o mundo natural só porque conhecemos blogues mas não as pessoas, porque se no convívio diário isso é já um dado adquirido (a difícil descoberta de nós mesmos e dos outros) então pretender conhecer o outro pela simples leitura do que escreve sem o confronto pessoal numa transcendência humana que só a personalização permite, é redutor do outro e revelador da nossa suposta omnisciência.

Não podemos emprestar à blogosfera a vida que não temos ou que gostaríamos de ter (por isso falo em second life) e como tal sentirmo-nos bem porque nos elogiam, porque nos seguem, porque se tornam amigos de ferro (não serão de madeira apesar das boas intenções?), ou sentirmo-nos mal porque nos apupam, nos apoucam, nos privam da defesa, e por aí fora.
Pessoalmente já tive um pouco de tudo aqui na net. Desde a pessoa que se afirma acerrimamente amiga mas que depois escreve um post sobre mim como se me conhecesse de algum lado e como tal pejado de juízos de valor, permitindo os comentários de todos menos o meu (num gesto inqualificavelmente cobarde) induzindo assim os outros numa glória que não tem, àquela pessoa que vendo que começava a seguir uma série de pessoas mas não a ela, tenta apanhar todos os meus comentários para gozar e denegrir, passando pelas que tendo um amigo como conhecido mais tempo na blogosfera logo lhe dão o crédito que pode afinal não ter, injustiçando assim o mais pequeno. Foram casos isolados mas que se pretendiam ramificar como células cancerígenas, perturbando o cunho que cada um pretende imprimir ao seu blogue, e no meu não há lugar à maledicência. Por isso o grosso do balanço é francamente bom. Aliás, é bóptimo :) E por isso inomeável :)

Ao expressar os meus pontos de vista, tento não ser abusivo nem perder a educação (ou netiqueta se quiserem) só porque devemos dizer tudo o que nos vem à mona e quem não gostar que passe ao lado. Tenho para mim que isso é infantil como uma criança que não se obriga a regras de cordialidade. Obviamente que da cordialidade à amizade vai uma grande distância mas é precisamente por isso que a cordialidade existe: não havendo um conhecimento profundo do outro, sejamos pelo menos frontais mas educados. Uma coisa não impede a outra. E a defesa irascível das nossas opiniões como sendo as certeiras, é sintomático de que necessitamos de nos afirmar por qualquer motivo que talvez nós mesmos desconheçamos.

Eu sou indefectível e irascível naquilo em que acredito. Mas entre defender aquilo em que acredito e desejar mal ao outro, vai uma enorme diferença e uma dantesca distância. E quantas vezes não vejo isso? Quem é perfeito? Mas entre os julgamentos que fazemos e aquilo que a pessoa efectivamente é, vai uma sobranceria que pede sangue, como se se regozijasse com os erros alheios, julgando sem avaliar, acusando sem saber, condenando por inveja, por oco ressentimento e até ódio. Tenho sempre muito receio das conivências e é quando penso que o meu blogue vai fazer um ano.

Se ao fim de três meses de nascido, este blogue deu para aquilatar aquilo que se supõe acreditado nas crianças mas pouco compreensível nos adultos, ao fim de um ano não deixo de rever que a blogosfera é uma feira de vaidades aqui, um espelho narcísico acolá, um reflexo destrutivo ali, mas também um espaço onde muitos aprendem a humildade pelos exemplos que vêem noutros (eu aprendi muito , e muitos deixam de ser tão orgulhosos e vão tentando traçar uma linha que divide a amizade da correcção e da justiça, e tantos outros que chegam ao encontro e dessa forma se tornam mais pessoas, porque o conhecimento é uma outra responsabilidade que aqui na net não se tem e por isso nos outorgamos tudo o que queremos).

Aprendi sobretudo que não devo ser tão naíve nem tão ingénuo como quando entrei. Há, efectivamente muitos dentes afiados, muitas personalidades complexas, e se pessoas rudes e abrutalhadas da mesma maneira que existem as mais sensíveis ou vulneráveis, isso não dá ao primeiro tipo de pessoas a igualdade de se expressarem rudemente e mal educadamente só porque são rudes e mal educadas, na medida em que isso equivaleria a tratar de forma igual o que é diferente.

Este é o ano do Tigre que começa a 14 de Fevereiro (mais precisamente o ano 4647 da era chinesa) , e o ano 2759 da era Nabonassar que começa a 21 de Abril, e o ano 5771 da era israelita que começa a 8 de Setembro... mas para mim, este é apenas mais um ano, ou se quiserem, o meu ano, (como será o próximo) porque a construção do nosso edifício é diária, no bom e no mau, e apesar de tudo, e acima de tudo, continuo a acreditar na dignidade do ser humano, na valorização do Homem como pessoa e não como um conjunto de ossos, nervos e tendões, e embora nunca baixando as defesas e sendo irascível quando alguém comenta ou fala tipicamente mal de pessoas ou assuntos que mal conhece, continuo a acreditar que existem pessoas de bem e sabem frutificar pelo seu exemplo mesmo não o sabendo, ajudando-me a crescer... ou a tornar-me mais desconfiado.

É a natural complexidade do ser humano, mas já que nos preparamos tanto para os reveillons, devíamos também pensar se fazemos actualizações das nossas autocríticas, das nossas avaliações, porque podemos cair na confiança sistemática de que numa margem de erro o nosso será sempre o mais pequeno. E que a blogosfera não substitua o cheiro das árvores e o contacto com desconhecidos, como quem se cruza nos transportes públicos e existe uma energia colectiva tácita, ou uma abordagem inesperada por um gesto de ajuda pedida ou dada... para não falarmos dos amigos e familares, e colegas, porque não... Sem sermos ingénuos, devemos ser inocentes, sem sermos acríticos, não devemos ser cruéis nem julgadores.

Sempre me expus e incitei ao conhecimento, à Presença, ao Sair das Palavras, a uma construção e dádivas que talvez se tornassem mais fáceis por aqui. Mas lá constato que afinal não somos muito diferentes, e que a blogosfera é apenas um paliativo para uns, um hobbie para outros, uma tribuna de poder para outros tantos. Por mim, continuo a ser pragmático na defesa da dignidade do respeito... por mais que o outro tenha razão! E agradeço os selos que tenho vindo a receber, as visitas que me fazem, as amizades que já aconteceram na vida real, e assim ilustro um anito do meu blogue já na próxima semana, sem falsas modéstias nem vãs glorias. Não sou do tipo sorriso sempre presente sem conseguir mostrar que fiquei aborrecido ou magoado. E humanamente encontro tanta gente, mas tanta gente válida nesta rede blogosferica - que não deve descurar nunca a vertente pessoal e real-, que obviamente não podia ficar por aqui ;) Lá terão de aturar os meus estados de espírito, mas acreditem que sou sincero até à medula. A diplomacia, embora necessária, não faz o meu género. O oposto também não. Definitivamente.

Não podemos aprender a sabedoria. Temos de descobri-la por nós próprios, mas para esse caminho tem de haver requisitos: a humildade para aprender, o perdão para dar e receber, o amor próprio para aceitar os nossos fracassos e as nossas potencialidades, ou acabaremos por dar razão a Proust quando dizia que a amizade é uma mentira que procura fazer-nos acreditar que não estamos irremediavelmente sozinhos.

Ofereço pace makers a quem se cansou a ler, açaimes a quem me quiser já escrever comentários duvidosos, um sorriso a quem for amável, e um agradecimento a quem já conheço mesmo :)

A todos, o meu obrigado. Ou como diriam os empregados de uma loja "Volte sempre" :)