16.2.10

QUANDO É CARNAVAL?

Não gosto particularmente de folias, muito menos das do tipo carnavalesco. Mas como tudo, o dia de Carnaval como interregno lúdico e livre que é, não passa da representação de uma sociedade no que seria se se declinassem as normas. A máscara tem o sentido catártico de uma disciplina socialmente imposta. As personagens que representamos confundem-se no real e no imaginário, porque tanto somos aquilo que pensamos ser, como as personagens que apenas pensamos representar. Mas hoje não é preciso haver dia de Carnaval. Carnaval é todos os dias. Há uma consciência emergente do provocatório como mais-valia pessoal, e com ou sem sentido do ridículo, somos autênticos palhaços em manifestações isoladas do quotidiano.

A educação cheira a visita de museu, e a frontalidade resvalou para arrogância. Neste nevoeiro do conhecimento todos os dias temos os mais variados corsos onde o papel principal é sempre o nosso. Daí que o dia de carnaval seja hoje uma mera festa pública para miúdos e graúdos, porque a verdadeira, a genuína e formal, é aquela em que os carros alegóricos (pessoais ou colectivos) passam todos os dias por nós. Entre a defesa e a hipocrisia, entre o real e o intencional, as máscaras são produto de personalidades prensadas no despotismo de muitos. Neste aspecto valorizo os simples, a simpatia do riso, a desresponsabilização salutar por tantos males do mundo! E esses sim, sabem brincar. Sem precisar de corsos ou trajes forçados. O homem médio é sem dúvida o mais feliz. E passadas as vinte e quatro horas permitidas ao excesso, entra-se num período de reflexão. É a Quaresma com início no dia seguinte, a Quarta-Feira de Cinzas! “Lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar”! O tempo que se inicia a seguir ao Carnaval, não devia ser um tempo avulso de reflexão ou um workshop de crentes, tal como a catarse lúdica não deve concentrar-se num dia colectivo que é o dia de hoje, o de carnaval. É muito bom brincar, mas se é carnaval, esperemos que tempo haja para não brincarmos às guerras. Ainda que aquelas onde as próprias pessoas são os campos de batalha...