2.3.10

DA SIMPLICIDADE OU "NINGUÉM TE AMA COMO EU"

Perseverar é uma virtude. Eu não a tenho. Sem teimosia mas acreditando num projecto de vida, chega-se onde se sonhou. O espírito derrotista torna fútil a vontade, o arrojo e o próprio empreendimento (humano, político e social). Uma visão curta também obnubila o empenho, já que parecendo não haver saída, as coisas morrem mesmo antes de nascer. Mas o Tempo (esse respeitável senhor) define contornos a cada dia que passa, e o que num momento parecia impossível, é uma realidade noutro.

A métrica diacrónica pode ser longa nuns casos, mas se se tratar de um plano profundamente interiorizado, o tempo passa apenas a ser cúmplice e aliado. A humildade, porém, há-de ser um precioso instrumento de viagem até ao porto desejado. Desbastar caminhos como quem corta cerce sem olhar a meios, numa casmurrice hermética como garantia de êxito, é não só uma desinteligência como uma falha humana. Infelizmente, a ideia de sucesso é consequente de resultados práticos e visíveis. A modéstia é tida como estupidez pura, e aflorar a vertente humana dos valores é ser-se do mais anacrónico que há! Dos fracos não reza a História, diz-se, mas talvez que a nossa concepção de fraqueza seja afinal a simetria da glória. A azáfama diária pode dar a entender um ser perfeito, confiante e enérgico, mas a realidade convive sempre com os “apanhados”. Esse lado natural e espontâneo que dispensa o toque da roupa ou a imagem fabricada, a tecnologia de ponta ou a intelectualidade quotizada, esse que é o nosso pulsar genuíno. Compreendemos as defesas por imperativos pessoais, mas também não devemos esconder toda a fragilidade como sinal da nossa pureza e concomitante da nossa aspiração a sermos o que naturalmente somos. 

Para mim não contam tanto os dias festivos, mas antes valorar aquela aparente cor triste do dia a dia e não os lábios esborratados de uma festa efémera. Os dias da semana são tão mais importantes, porque são eles que forjam o resultado continuado. Exemplifico melhor: de que vale estar-se com todos e ninguém como acontece nas festas e finais de semana? Tal como num qualquer reveillon, finda a festa, o jantar, o que for, cada um volta a estar por conta, mas nos dias de semana não. Há um encontro interior diferente, e no final do café, do telefonema, da sms ou do e-mail, o outro continua lá. Disponível, atento, pacificador. As festas, encontros, jantares têm o seu lado lúdico e mais do que isso, mas esgotam-se aí. Como diz a canção "Who's gonna drive you home?" Não se nutre a serenidade do verde, a magia da chuva, o manto da noite ou o encanto do mar em festas grupais. É nos dias de semana, nos momentos sós. Literal e metaforicamente falando.  A noite prepara o dia mas não recebe os agradecimentos. Da simplicidade nasce a alegria dos pequenos nadas. E como dizia alguém, as coisas grandes são para todos; as pequenas deixo-as para os que me são, de uma forma ou de outra, mais queridos.