6.3.10

REPENSANDO A EXISTÊNCIA

Somos levados a pensar que a nossa vida gira em torno de grandes momentos. Mas não é assim. Os grandes momentos são aqueles de que falava dois posts atrás sobre a simplicidade. E no entanto criamos muito ruído, muito barulho, hermetizamos a nossa vida, fechamo-nos em certezas de papelão, apontamos o dedo, esbracejamos até um dia percebermos que afinal não somos muito diferentes das crianças egoístas com uma visão redutora do outro e do mundo, porque concentrada em si e nos seus orgulhos e amiguismos pessoais. Neste dias tem chovido. Um convite a alguma melancolia, à saudade do verão. Mas eu sempre vi na chuva um corredor entre a serenidade e a alegria, como a noite que prepara o dia, e embora seja este a receber os agradecimentos ele só mostra. Nada tem. Porque foi a noite que formou essa glória, lá nos bastidores onde poucos cuidam da sua existência, metidos que estão consigo mesmos e não conseguem ver mais nada além de um palmo do nariz das suas convicções e inabaláveis certezas. Somos todos tão frágeis, tão inseguros, tão inerrantes, e mostramo-nos seres compostos, totais, perfeitos, inerrantes! Não pode haver maior ignorância. E é por isso que o mundo anda às avessas.

O hábito de ler e julgar a realidade à luz, apenas, do critério pessoal, transforma adultos em crianças egoístas e orgulhosas sob a capa de verdade e pragmatismo. Os valores confundem-se na tela de cores estéreis que povoam cada um como um deus pessoal na sua própria cabeça, o que envenena as nossas vidas e as nossas relações. É preciso despirmo-nos de muita coisa que nos torna pesados e condicionados, a fim de libertar a criança que (ainda) está em nós, ou seja, o ânimo simples e puro que nos habilita a entrar numa comunhão fraterna com todos, e não nos "nha nha nha" infantis travestidos em supostas verdades adultas. Tudo é passagem e o decorrer dos dias leva-nos aos confins do tempo para as praias da eternidade. Alguns são atingidos por um sentimento de angústia e mal-estar, próprio dos que reconhecem que o seu destino está marcado pela indefinição e pelo vazio. Outros fazem entrar aí a fé. Mas para entender isto é necessário contemplar. É a importância de uma visão contemplativa da vida, talvez a única que pode equilibrar a nossa existência, e com ela, os nossos erros.