10.5.10

ESTÁS NA MODA CONTRA O PAPA?

Há um arrivismo tal contra o Papa que quem se solidarizar com ele é como alguém que o apoia às escondidas ou que não entendeu o que está a acontecer. Mas importa entender. Porque a questão dos padres pedófilos que surgiu na Alemanha tem como alvo a Igreja através do Papa. Sabem que se um esguicho de lama atingir a batina branca, conseguir-se-á sujar a Igreja e, se se sujar a Igreja, então ter-se-á sujado também a religião cristã. E este é que é o escopo de tanto dente afiado. A esmagadora maioria destes casos ocorre no seio das famílias, sobretudo as mais disfuncionais, e nas instituições do Estado como o caso Casa Pia, e não nas instituições da Igreja. Nos Estados Unidos onde o Papa já pediu perdão, bem como na Irlanda e em Malta, 958 foram os padres acusados de pedofilia num período de 42 anos tendo resultado na condenação de 54. Nesse mesmo lapso de tempo foram condenados por pedofilia 6000 professores de ginástica e treinadores desportivos. Conclui-se facilmente que o alvo não é o Papa mas a Igreja.

Basta substituir "padres" por "professores, "politicos" e "jornalistas" para minar a confiança das escolas públicas, do parlamento ou da imprensa. Todavia, não se pode permitir, nem sequer aceitar, que seja admissivel passar da responsabilidade individual para a responsabilidade colectiva., como se fosse possível passar da culpa pessoal e individual, no sentido jurídico-penal, para a culpa colectiva no sentido da judaico-cristã. Não é por haver um padre pedófilo que os outros passam a sê-lo, ou sequer que a Igreja Católica e o seu líder passem a ser culpados de pedofilia ou do que quer que seja. Isto para não falar da laicidade do Estado, porque o Estado pode ser laico mas a sociedade não o é. O Estado não pode ser indiferente à consciência, convicções e práticas culturais de uma sociedade onde os laicos crentes e católicos ultrapassam largamente os laicos não crentes e não católicos. E isto, por estranho que pareça, não tem só a ver com religião. É também um problema de democracia.

Ainda assim o Papa anunciou medidas como por exemplo os sacerdotes suspeitos de abuso sexual serão suspensos das suas funções enquanto decorrerem processos judiciais; os bispos condenados por cumplicidade no silêncio serão responsabilizados; o prazo para o julgamento destes crimes que era de 10 anos passa a não ter prazo; ou seja, os padres culpados de abuso sexual há vinte ou mais anos passam a ter de responder pelos crimes. Este Papa é a pessoa que mais lutou contra a pedofilia na Igreja. Mas nada disto deve ser confundido com a noção exacta da dimensão deste fenómeno, a maior parte dos casos ocorridos há mais de 40 anos e não podendo deixar de perceber que o foco desta questão está precisamente nas famílias e instituições do Estado e não na Igreja. Combater com todos os meios possíveis é imperativo, mas nada de enlamear aquilo que não é sequer comparável aos casos concretos (esses sim) na própria sociedade e não na Igreja. Digamos que tudo isto serve apenas para bater mais na Igreja. É um ódio de estimação. Grande. O que revela muito de quem lhe tem ódio e não da Igreja em si. (A Psicologia básica, uma vez mais, explica isto sem termos de recorrer a outros processos e mecanismos).

Até da tolerância de ponto se falou. Muito embora ela possa ter razões de outra ordem, não é para aqui chamada com esta leviandade. O Estado acolhe outro Chefe de Estado, que sendo também o líder religioso de Igreja Católica, terá muitos dos contribuintes e cidadãos a pretender vê-lo, pelo que todas as manifestações contra esta tolerância são, elas mesmas, filhas da intolerância, tudo em nome de uma falsa questão que não é o Papa mas a Igreja, que sob pena de a sociedade ficar ingovernável e caótica, dificilmente será substituida pelo Estado nos objectivos que prossegue de interesse comum, como as associações de mães solteiras, toxicodependentess, centros de dia, centros paroquiais, voluntariado, pobreza, e um sem numero de obras que substituem o Estado. Um cristão não deixa de ser cidadão e não pode ficar circunscrito à intimidade ou à vida privada de cada um. Não entender isto é não entender nada de democracia ou sequer de respeito e seriedade intelectual.

Mas voltando ao problema da pedofilia, Lawrence Grech era uma das vitimas mais amarguradas e mais revoltadas antes da visita que Bento XVI fez a Malta no passado mês. Ao ponto de clamar alto e bom som, que exigia um pedido de desculpas do Papa. Mas, chegado o momento, Grech disse: "Fiquei impressionado pela humanidade do Papa. Ele assumiu o embaraço provocado por outros. Foi muito corajoso. Ouviu-nos individualmente, orou e chorou connosco. Tinha dito que queria um pedido de desculpas porque estava zangado. Mas a minha cólera desapareceu agora e estou feliz pelo meu encontro com o Papa. Vou continuar a minha batalha, não contra a Igreja mas contra a pedofilia".

Pelo menos ele soube separar Igreja de pedofilia, e tem muito mais autoridade do que qualquer um de nós.