11.8.10

VIDROS FUMADOS

‎"Traz até mim a multidão cansada, pobre oprimida, que anseia por liberdade... Trá-los até mim, os desabrigados, os fustigados pela tempestade, eu ergo a minha tocha junto à porta de ouro"  (Emma Lazarus)

A Estátua da Liberdade e a sua própria ilha, inspiraram-me mais do que toda Manhattan. Os sete raios da coroa representam os sete mares e continentes e o livro que tem na mão esquerda tem inscrito 4 de Julho, 1776, em numeração romana.

Os observatórios do pedestal e da coroa estão agora fechados desde o 11 de Setembro por questões de segurança, mas aquele pedaço de terra, como um Éden feito de História e onde brota paz em cada árvore, cada recanto de relva, cada volta à estátua, com vista para toda a ilha de Manhattan, são néctar para a alma. Abstraio-me da dor da vida de milhões de imigrantes que não chegavam a ficar no "Novo Mundo" e de tudo o que, pela assimetria, a Estátua simboliza.

Continuamos no mês oficial de férias e de verão. Agosto está para mim no calor, como as férias na neve para quem detesta o frio. Gosto de temperaturas amenas em tudo, e de sair ainda em Julho quando tudo ainda parece controlável, desde as temperaturas ao reboliço humano e ébrio nas ruas, praias e noites ofegantes, com pessoas à janela e luzes fechadas... Ao contrário de uma grande maioria para quem a praia é um deus e uma bênção, eu gosto do Mar, não da praia. O Mar infunde-me o inefável, como a brisa reconfortante na pequena e tão acolhedora ilha da Estátua da Liberdade (um retiro que supera o próprio Central Park com os seus 3,5km), e indubitavelmente mais que toda a Nova York.


Por agora tudo anda esfusiante, quer de férias quer no trabalho. Vá-se lá imaginar que Moscovo teria uma média de 700 mortos diários pelos fogos, enquanto na Europa de Leste as cheias é que fazem os estragos. Vejo as pessoas em convulsões, envoltas no calor, como que inebriadas por uma droga que as estonteia mas agrada, e por isso querem continuar assim, corpos emprestados em dias e noites que os superam.

Ah o mar, o marulhar, as gaivotas, a praia no fim de tarde, como hoje às oito da noite quando passei por todo o paredão, absorvendo como que os restos que os amantes da praia ja dispensam porque o sol já não bronzeia. E sinto-me filho do universo em inesperados momentos de paz...