19.1.11

VENHA DAÍ ESSE ABRAÇO

Há uns tempos (e de que aqui dei conta), teve esta amabilidade o José Luis Peixoto:

"ao Daniel dedico este meu escrito:

pergunto se à hora do jantar ainda juntas os teus filhos,os teus amigos. se tens o hábito de os respeitares, como sempre respeitaste. fujo. fujo para a calma de uma vida onde existe uma mesa,uma cadeira. apoio-me para não fugir. sou tímido. tenho nos olhos a tristeza de perdas. perdas irremediáveis.o pó deixado na minha mesa onde me encontro só deseja fugir. o pó não quer sentir o sofrimento de já não estarem comigo.os meus. aqueles. eles. existe uma mesa, uma cadeira, uma sepultura que precisa de ser enterrada. este é o meu retrato. eu, josé luís, ainda não me livrei das perdas. perca. sozinho. não posso imaginar. a psicanálise das palavras".
                                                                                                                                
                                     
Quantos "venha daí esse abraço" não deixamos de dar por orgulho ou exagerado respeito? Quantos sorrisos não damos por vergonha ou simples contenção? Se não precisamos de risos idiotas e piadas sonsas, também não precisamos de escudos humanos onde apenas confraternizamos com os amigos do costume, com a família e alguns colegas. Nada disso. A ideia do "venha daí esse abraço" é-me muito cara porque pode simplesmente acontecer entre pessoas que se não conhecem. Pode não ser esta abertura que muitos não têm por timidez, constrangimento pessoal ou o que for, mas pelo menos a receptividade interior em gesto tácito de acolhimento. E é aqui que reside o mérito: no sairmos de nós e ir ao encontro... mesmo de quem não conhecemos. Afinal, como eu dizia no outro post, somos todos estranhos até nos conhecermos!