3.3.11

O TEU NOME PARA O MUNDO

Sou alguém que não tem nome para o mundo porque os nomes são armas com que controlamos as coisas que cobiçamos.  Nada possuo nem tenho território fixo. Aliás, ainda hoje persigo uma terra de ninguém, um mar sem nome e que por compartilhar da minha clandestinidade será eleito para que pertençamos um ao outro. Acredito que, se as nossas palavras morrem assim que o vento muda de direcção, elas terão talvez mais alguns minutos de vida quando as escrevemos. Gosto de acreditar que certas coisas são eternas. De contrário, se não existisse o impossível ou pelo menos o incerto, estaríamos reduzidos àquilo que os nossos sentidos conseguissem alcançar. A maior das tentações é a de querermos ter voz. Singrar como se fossemos únicos. Os melhores.

Mas é na solidão da gaivota que cruza o mar e se detém silente na doca, no transeunte que sozinho cruza as ruas e observa monumentos, no vagabundo habituado à indiferença mas não indiferente, naquele que ergue diariamente um hino à vida mesmo em composição pessoal sem plateia a ovacionar, como quem compra um bilhete de metro, aguarda a vez numa paragem de autocarro, vislumbra montras como se acompanhado e assiste a um filme como dois adolescentes que ali não estão, que se faz vida total, essência pura contraposta a existências partilhadas.

No aroma da vida, é sempre quem carrega consigo a certeza da efemeridade das coisas, que bebe tranquilo o chá da interioridade, cujo valor nutritivo não tem necessariamente um sabor agradável. E o resto, então, que seja feliz!