13.3.11

REFLEXÃO SOCRÁTICA

Nem tudo nos pertence nem tudo dominamos e aquilo que é felicidade para uns não o é para outros. Cada dia é a felicidade, ou não. Somos nós quem comanda o nosso mundo pessoal, e como as emoções provêm do pensamento, há que saber dominá-lo. Para o bem e para o mal. Ser feliz pode ser sentir-se simplesmente bem no aqui e agora. É o meu caso. De onde lhe vem tanta energia? Tanta alegria? Você é contagiante. Mas as pessoas não sabem que essa alegria me vem da consciência da serenidade da vida, do efémero da nossa existência, e das próprias pessoas que estão comigo. Há muita gente que vive hipotecada no futuro do euromilhões ou de ressaltos inesperados que lhes tragam efeitos práticos similares aos jogos... se ganhassem. Mas é uma desinteligência. Como é uma desinteligência a arrogância, a soberba intelectual e o nariz emproado de quem pensa que por ser assim tem mais crédito que os outros. Mas não tem. Pelo menos como pessoa. Se é certo que não podemos ser anjinhos e deixarmo-nos levar por quem nos quer encapotadamente tomar o braço quando supostamente devia ser só a mão, a realidade é que também não devemos usurpar a nossa capacidade de doação, de entrega, de nos abstrairmos dos outros para que possamos continuar a ser nós mesmos, e, dessa forma, sermos felizes porque não entramos completamente no jogo. Mas darmo-nos é um acto só dos grandes. E do alto da sua redoma de vidro, talvez muitos sejam pequenos para isso.  

Escreve Raul Brandão: "Sou um mero espectador da vida. Não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas. Também entendo que é tão difícil asseverar a exactidão de um facto como julgar um homem com justiça. É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo".

Diz ainda um conto que havia um ancião que passava os dias sentado junto ao poço na entrada da povoação. Um dia, chegou um rapaz e perguntou-lhe "Nunca estive por aqui; como são os habitantes desta cidade"? e o ancião respondeu-lhe: "Como são os habitantes da cidade de onde vens?". E o jovem respondeu: "Egoistas e maus, por isso fiquei feliz de ter saido de lá". E o ancião respondeu-lhe que os habitantes daquela cidade também eram assim. Pouco depois chegou outro rapaz que perguntou ao ancião como eram as pessoas daquela cidade, e este devolveu a pergunta: "Como eram os da tua?", ao que o jovem respondeu: "Eram bons, generosos, hospitaleiros, honestos e trabalhadores. Tinha tão bons amigos que me custou muito separar-me deles". E o ancião respondeu-lhe: "Os habitantes desta cidade também são assim". Um homem que estava por perto e que ouvira a conversa, perguntou: "Porque respondeste assim a estas duas pessoas?" Repare" - disse o ancião. "Cada pessoa é o que é o seu coração. Quem nada encontrou de bom no seu passado, também nao encontrará aqui. Ao contrário, aquele que tinha bons amigos na cidade, também os encontrará aqui".