9.1.12

ANTES DO HORIZONTE



Triste, talvez cansado, sem alento.
 Numa espiral de contrasenso.
 Num desencanto que morre todos os dias
 para acordar essa pueril ilusão de uma vida simples e feliz.
 Com todos.

 Alegre, talvez eufórico, com amor.
 Num carrocel de dúvidas que matizam
 e escondem que há tanto mar além da praia.

 E hoje?
 Terá de ser o mesmo calvário
 em bonomia disfarçada?

 E esta noite?
 Terá de ser a mesma esperança
 em olhos caiados de vidro?

 Amanhã voltará a luta em cada instante
 contra os muros sociais das vidas que não são.

 Amanhã voltará a esperança no segundo
 O sorriso dado e gratuito
 A entrega assim, sem defesas nem interesse.

 Prepara-se a escolta antes dos nenúfares
 E as ordens assertivas para lá dos tapetes macios das folhas
 cujas árvores se envolvem graciosas no vento
 e despem-se no chão dourado que lhes traiu a felicidade.

 Assim, a esmo e a rodos
 Numa calma triunfante e solitária
 Numa glória além de ti

 Assim, sem balizas nem futuros
 Nas lágrimas transformadas
 pelas mãos que não recebes

 Assim, na pueril credulidade do Ser
 Nas asas que voam antes do horizonte
 Nos gestos afagados de olhares macios

 Assim...
 Receberás no coração a palma irreversível
 que Amar foi o teu dom
 E no fundo das areias
 caminharão outros passos
 que seguem os sinais que os viventes não conhecem.