3.1.12

APONTAMENTOS BREVES



Diziam as profecias, e o filme do ano passado, que o mundo ia acabar este ano, em 2012. Isso é tão verdade como eu me chamar Joaquim. Dentro de cinco mil milhões de anos, o Sol chegará ao fim do seu ciclo de vida, e se ainda houver alguém na Terra, estará frito ou congelado. O fim do mundo é quando nós morremos e deixamos o nosso património imaterial. Dizia Václav Havel, recentemente falecido e pensador checo, que vivemos na primeira civilização ateia. Não devia estar lá muito certo, a acreditar no número de pessoas que se deixam levar pelos cataclismos ficcionados de fim de mundo, mas estava completamente correcto quando complementava o raciocínio ao dizer que perdemos as ligações com o infinito e a eternidade. Que nada têm a ver com profecias apocalipticas ou Joses Rodrigues dos Santos armado em Dan Brown com cartas de baralhar e voltar a dar, numa pobreza principesca de quem julga ter descoberto a verdade que os teólogos há tanto conhecem. Ou, como diz Fátima Pinheiro, mestre em Filosofia na UCP, "Não é Literatura, não é Teologia, e não é outras coisas. Para já é o Top das vendas da Bertrand. E a Genética e a Biotecnologia? Que bem que assenta. Até ler este livro nem eu sabia o que era um gene. E a clonagem. Tão actual, tão clean, avançado, e policial, ao mesmo tempo. Nouvelle cozinha. A Bíblia pertence a uma história que não se deixa degolar pela lâmina de um qualquer jeitoso para a escrita. É uma experiência de vida. Não pode deixar de ter um tempo. Os que escreveram a Bíblia não eram jornalistas. Foi Kierkegaard que lembrou que só há uma questão a que responder na vida. Cada um come o pão que escolhe. Ou que lhe dão. Mas nem tudo o que é nacional é bom. E isto não é o último segredo".

Há cerca de 15 dias foi inaugurada uma estátua de Steven Jobs na Hungria. Confesso que achei exagerado. Fez-me lembrar um cartoon onde uma criança diz "iphone" e outra diz "ifome"... A divinização do amigo Steve é exagerada. É certo que foi um visionário da tecnologia e da empresa que serviu, a Apple, mas agora a tecnologia também merece prémio Nobel? Qualquer dia são só as coisas que têm importância e nós passamos a usuários, já nem somos pessoas.

Li e registei este comentário de Figo numa entrevista: "Sobre Sócrates? Errei. Enganei-me, como se enganaram milhões de portugueses que votaram nele. Mas eu, por ser figura pública, tive consequências disso. Hoje ninguém acredita nos políticos, há uma descredibilização total, aqui, em Espanha ou em Itália, é igual. Não me venham dizer que há crise financeira, uma crise mundial. Há é políticos que gastam mais do que há para gastar. E isso é o bê-à- da economia. Não é preciso ser muito inteligente para perceber isto - eu não sou muito e não gasto mais do que aquilo que tenho".  E eis-nos agora a pagar os erros todos que antes eram aplaudidos. Mas mesmo sabendo que este ano as coisas serão piores, os nossos pais, avós e bisavós não precisaram de austeridade nem inflação para governarem as suas vidas, por si já parcas em rendimentos e alternativas.

De resto, sempre tivemos um grande défice de orgulho nacional. Deixamos morrer o que é nosso e o que é bom (e não me refiro agora à agricultura ou pescas), voltamo-nos para o exterior, e quando alguém vê uma pérola no lixo, é que reparamos que a pérola éramos nós...

Há dias, Eurico de Barros testemunhava assim: "Ouvido esta manhã, no Metro. Adolescente, para outro: 'Saquei este iPhone novo aos meus velhos no Natal à conta de lhes dizer que estava sem estímulo pra estudar. Eu queria era um portátil novo porque o meu Toshiba já tá velho e todo marado com vírus, mas eles não foram na conversa. Mas como faço anos em Fevereiro vou voltar a estar pouco estimulado pró estudo nessa altura e ver se lhes saco um MacBook daqueles tipo, espectáculo!" Ou, como diz uma amiga minha, professora no secundário, "o mal é que estas gerações novas habituaram-se a ter tudo topo de gama, os pais empenham-se em créditos para dar tudo aos filhos que no final pouco agradecem. Venham o telemóveis e as consolas e os ténis de marca e as festas e as discotecas e as viagens de finalistas e as mochilas o'neill que depois se arrastam pelos recreios no chão à patada e tudo se tornou muito fácil porque cai do céu. Saber viver com pouco pode ser difícil mas o dinheiro bem gerido ainda faz muito'.

Voltarei nos próximos posts com poesia. Para já, deixo uma musica transcendente para serenar o espírito, e a mensagem de que é mais importante realizarmo-nos como um todo, em plenitude, como pessoas integrais, do que chegar ao nível mais alto do que fazemos. O excesso de realidade tira-nos, muitas vezes, a tal noção de eternidade e de infinito de que fala Vaclav Hável! Precisamos sempre de estar alguns centímetros acima do chão, e por isso a música que fica abaixo.

A felicidade está sempre comprometida com o Outro. "Have less. Be more. Do more".
Feliz 2012 ;)