23.1.12

MURMÚRIO

E agora, meu querido amigo desvalido
em que mar se funde o teu pranto
em que águas te afogas nessa mágoa sem nome
Em que danças te envolves nas profundezas das marés
e em que mistérios te escondes nos sorrisos desarmados?
Que mãos te posso oferecer e que abraço te poderei dar
inerme como estás, exangue e tão doído?
Em que lágrimas te posso encontrar para clarear os teus olhos
em que sóis me confundes com dor e alegria?

Triste e pesaroso deambulas na alma um cárcere antigo
e passeias só entre hordes de alegrias e encantos que tiveste

Que posso eu fazer por ti, doente levantado nas ruas da cidade anónima
erguido com cinzas em alma macerada.
Se o teu silêncio  é musica e pranto
e dor e sorriso para continuares a caminhada
E se da alma o autismo não me ouve
Quero que saibas que mesmo percorrendo sozinho as ruas cheias de gente
Enquanto a tua mente sonha abnegada o que diz que não terá
Ter-me-ás aqui, no silêncio que te acompanha em cada passo, em cada dor
E quando no teu olhar apagado surgir o desencanto
Sentirás um murmúrio no ouvido a dizer-te que sou eu.