29.1.12

PELO AMOR, CONHECERÁS...






Existe sempre muito de nós nas citações que fazemos, nos livros, filmes, musicas ou locais de que gostamos, nos concertos a que assistimos, até nas fotografias que tiramos. Menos do que um escritor que ficciona uma história, havendo, porém, sempre qualquer coisa dele no livro, muito mais de nós quando aludimos a mundos e representações em simples conversas de amigos, ou nos exemplos que refiro no início. Tal como eu mesmo faço em tudo o que escrevo, independentemente de ser poesia, texto corrido ou prosa, onde o destinatário pode ser cada um de nós e, por isso, o próprio autor.


Como se define uma pessoa se o exterior é tantas vezes a antítese do sentir? Ao ter de escolher uma fotografia para me definir, acabei por escolher esta que deixo de um conjunto de três que tirei, simplesmente porque não encontrei entre as outras nenhuma que me defina. Como esta não define, e muito menos uma palavra, como naqueles jogos das redes sociais. O mínimo que posso dizer é que sou água e fogo, dinamismo e contemplação, verticalidade e dádiva, mas como é a nobreza das acções, a generosidade, os pormenores, a simpatia, a simplicidade e elevação que mais me tocam, e porque também gosto de piano, mas não exactamente por isso, pu-la lá no facebook onde me era pedida automaticamente pelo programa.


Sou mais da sensibilidade, da entrega, da dedicação, da gentileza nos mais pequenos gestos (aqui com efectivação prática ou seriam meras intenções), mas intrépido defensor dos valores humanos, ou melhor, de tudo o que mexa com o Homem, mesmo nos aspectos mais desonrados. É essa simétrica dualidade que me define, expandindo-me, indo além de mim, mas também a delicadeza que encontro e me faz acolher essa suavidade de alma enaltecendo o mais simples viver.


A entrega, quando gratuita, faz-se dádiva e é aqui que reside o mérito: no sairmos de nós, no sairmos das palavras e ir ao encontro mesmo de quem não conhecemos. Porque como também escrevia no anterior post, há solidões disfarçadas, mansões desabitadas, cruzes que se carregam sem ninguém imaginar. Pode até parecer patológico, mas são apenas defesas propostas pelo inconsciente para mascarar a própria fragilidade. E é por isso que volto ao início: existe sempre muito de nós em cada linha de alma, mas se não houver silêncio interior suficiente no outro, se da inteligência lhe falta a sensibilidade, os nossos ecos estarão perdidos até que tomemos em nosso colo as nossas dores, não para as expiar, mas para nos suprir essa carência latente mas sempre velada. Porque também o outro não pode tomar as nossas dores, e o nosso crescimento seria débil e dependente, num ciclo de vaidade e soberba intelectual camuflado em miséria e tristeza. Os sentimentos mais nobres geralmente são os que se intuem, porque tal como um pobre envergonhado, dificilmente exporá em praça pública a sua condição, porque a sua dignidade não está comprometida. E, é também por isso, que a inteligência sem sensibilidade é um mero instrumento ao uso da razão. Ou seja, todos estamos comprometidos. Ou ainda, como diz Pessoa "ser austero é não saber esconder que se tem pena de não ser amado".
 
 
Voltarei ao piano em poema e foto no próximo post, mas não gostaria de terminar o de hoje, sem deixar um agradecimento a todos quantos quiseram votar neste canto, mesmo quando somos inomeáveis como pessoas, mas porque alguém nos quis fazer sobressair essa mesma admiração. Bem hajam e obrigado pelas vossas visitas e amizade :)