Cairão sobre ti as minhas lágrimas, mas não as reconhecerás. Ostensivamente enxutarás com impropérios as gotas importunas, e na tua cegueira morrerão anjos e dias na vulgar consideração de que o mundo é teu. Dificilmente acordarás da arrogância que te faz, e se um dia sentires os olhos a humedecerem-se de luz, com arrependimento chorarás as lágrimas que o teu ego recusou.
Cairão sobre ti as minhas lágrimas, na vã tentativa de limpar as que não vês, encerradas na noite longa desse feroz raciocínio cujo quarto vazio e gélido te habituou ao melhor do vazio, sem janela ou respiradouro para a dimensão do gesto, onde acordarias livre para a realidade que ocultas.
Cairão sobre ti as minhas lágrimas, mas é preciso que o teu corpo tenha alma para reconhecer que a cada gota se funde a humanidade do ser!
Passa levando contigo a dor no regaço da esperança e, quando olhares para trás, verás que foram as lágrimas que vestiram com outras cores, todos os sentires da tua alma...