21.10.12

DA IMPORTÂNCIA DO RISO

As melhores armas contra a crise, são a consciência da serenidade e o riso. Não porque existam motivos para rir, sobretudo a partir de Janeiro, quando o agravamento fiscal fizer sangrar o salário e tudo será ainda pior, mas porque o riso sempre foi a melhor terapêutica mesmo para a saúde física e mental. Não falo dessa espécie de workshops do riso que agora por aí se fala, mas da boa disposição que mais oculta ou mais sobressaída devemos cultivar. Pessoalmente, sempre apreciei muito o humor, e mais tarde vim-me a aperceber de que quanto menos motivos tinha para rir, de que conhecendo a dor em diferente prismas, como que mais a relativizava, podendo levar a supor ser a pessoa mais feliz do mundo, quando internamente o sentimento era exactamente o oposto.
 
Mecanismo de compensação ou mera higiene mental pela relativização dos dramas, mesmo quando estes existem, o riso contém em si o gérmen que é semente de vida: a esperança. Quando rimos, atiramos pata longe a carga emocional e psicológica do sofrimento, abrindo comportas de oxigénio para a alma, também esta constantemente invadida pela poluição humana da sobrepreocupação, do quadrado da existência, do ruído, da ansiedade e da urgência. Arejar a alma nem sempre é fácil, subjugados que estamos ao ramerrão de uma sociedade enfatuada e congestionada, mas muito embora o homem seja um ser relacional, é no saudável silêncio de si, que não se confunde com a solidão, que se encontra e decide pôr em marcha os mecanismos saudáveis da simplicidade, outro gérmen de felicidade, já que nos habilita a sermos integralmente como pessoas, e não as máscaras auto impostas por interditos sociais.
 
A felicidade não é um fim, mas um meio em si. É o próprio caminho. E se soubermos aligeirar a cor das nuvens, mesmo sabendo que nos pode calhar em sorte uma molhadela, não será tanto o que nos acontece, mas a forma como o encararmos. Caso contrário, não apenas encurtamos a nossa própria felicidade, como reduzimos drasticamente a qualidade de vida, tantas vezes confundida com o ter. É na partilha e nos gestos imateriais de amor e amizade que, afinal, nos realizamos como pessoas, sobretudo se conseguirmos rir sempre, como saúde pessoal e colectiva de quem contamina com humanidade o que outros cospem com acidez e frustração, ou simplesmente se enrolam em espirais recessivas e auto destruidoras da boa disposição.
 
Somos todos mortais, de nada vale afiar o dente em modos de vida desiguais. Subestimamos o riso, mas talvez devêssemos subestimar a dor...