24.5.13

CHOQUES DE HUMANIDADE

 
 
Não apenas para não esquecermos o que somos, mas também para vivermos mais autenticamente, precisamos de choques de humanidade que nos desinstalem, ainda que temporariamente, das falsas certezas e da crueldade social. Precisamos de ouvir contar os dramas existentes mesmo nos que mais parecem férreos, e de medirmos a temperatura com que cozinhamos as relações, que ingredientes têm, os que se tornam nocivos ou oxidam, e desta forma interiorizarmos melhor os condimentos que fazem as pessoas e a forma de nos relacionarmos com eles. Para nosso crescimento e do outro, porque as teias emotivas em cada relação e a interpenetrabilidade que geram, criam fissuras tapadas com mais ruído do que genuinidade, com mais pragmatismo do que sensibilidade, e o andar do carrocel pode levar-nos a um desajustamento entre o real e o hábito, e de volta em volta, abrir buracos de desconhecimento em zonas íntimas que deviam ser expressão de todos nós...
 
Se entrarmos em contacto a um nível profundo com as nossas emoções e soubermos escutar os buracos dos outros, instala-se a aceitação de quem sabe que pertence à frágil condição humana, onde a amizade, a força e a compreensão, nos arrebatam ao verdadeiro patamar da nossa existência, elos da cadeia humana sempre grande e pura, apenas isolada em camuflagens que também nos cabe interpretar.