17.5.13

O AMOR NÃO TEM SEXO


O preconceito é uma defesa ignorante do que não conhecemos. Habituados e socializados à norma, exprimimo-nos entre o desdém e a arrogância, sempre que o outro simplesmente é. O Parlamento Europeu e a ONU declararam o dia de hoje como Dia Internacional contra a Homofobia. Na realidade, existe um estigma fortíssimo, directo ou omisso, contra quem parece fugir à norma e aos ditames sociais e do politicamente correcto, e, no entanto, estão simplesmente a ser eles mesmos. O problema não reside na diferença, mas na rejeição à sua aceitação, e confundindo isto, arranjamos um silogismo social e cultural que leva no extremo à pena de morte, a sanções várias e à própria exclusão social. Estamos no século XXI com a internet numa mão e a pedra lascada na outra! Somos ignorantes da própria condição humana e depois cometemos genocídios julgando estarmos apenas a ser normais. Caberia perguntar o que é ser normal! E sempre que não percebemos conceitos básicos de vivência como o respeito pelo outro - pela forma de pensar, de se relacionar, do que veste e do que sente -, entramos em caminhos medievais de despotismo pessoal escudado no brilhante argumento da suposta normalidade. Poderá um peixe dar uma volta pelos céus, ou um pássaro viver debaixo de água? Se ambos não entenderem que a sua diversidade é também a sua identidade e razão de estar ali, vão passar a vida a tentar voar ou mergulhar, numa tentativa suicida de denegação existencial. E não se trata apenas de tolerar um comportamento; é muitíssimo mais do que isso. Porque as pessoas amputadas à sua própria realização pessoal e amorosa por meros interditos sociais, é, além de uma desinteligência colectiva, um drama para os próprios, muito mais do que uma chatice. Não podem dar as mãos na rua, ter gestos de carinho e atenção, como se criminosas por simplesmente amarem! E no mundo dos afectos, mais ainda do que o cabelo pintado às cores, as calças rasgadas ou um estilo gótico, não existe bitola, regra, lei, norma, jurisprudência ou mandamento que diga como é. É como cada um sente, na liberdade de ser ele mesmo, o Outro, aquele a quem devemos vénia numa reciprocidade respeitosa e amiga de quem comunga a própria humanidade.