10.6.13

O FACHO DO AMOR

Por vezes pensamos que o Amor é uma patetice, que nos deixa fracos, que implica assumirmos a nossa humanidade em plenitude e estabelecer prioridades com quem mais gostamos, mas preferimos a vaidade do intelecto, do estar com todos e de nos sentirmos a peça social que sempre fomos, porque a assunção da exclusividade sem relevar a importância das demais pessoas e amigos com quem vivemos, implica precisamente a aceitação do nosso eu afectivo com simplicidade e alegria, mas é sempre mais fácil não acolhermos o que verdadeiramente sentimos. Por vezes pensamos que o Amor é um enfraquecimento do carácter ou uma piedadezinha afectiva e, porém, é um sentimento que envolve circuitos cerebrais responsáveis pelo pensamento racional. Além disto, faz libertar substâncias neuroquímicas como a vasopressina, oxitocina, dopamina, responsáveis pelo bem-estar, sentido de pertença e cuidado, mas o Amor envolve muito mais do que neurotransmissores, já que implica o gatilho da personalidade e da coragem, como quem enceta uma viagem em mares desconhecidos, mas confiante de que ousará. Isto requer uma pessoa inteira, capaz da maior aventura do ser humano, e muitos não conseguem rasgar as velas do seu próprio coração. Logo, quando o declinamos, estamos, não apenas a ser pouco inteligentes, como a matar no presente uma parte de nós. Precisamos de conseguir ir mais longe nos nossos caminhos interiores.
 
Porém... 
Ele estará contigo,
porque conhece as tuas manhãs e madrugadas.
E ficará contigo 
mesmo quando nada tem para oferecer
 a não ser ele mesmo,
ainda que sem a materialidade das coisas,
que só importam se o amor for ilusão.
 
E então sentirás que te perdes,
 e que viver fica do outro lado da vida,
se não abraçares sem deixar o presente,
 a entrega que está por fazer.
E a felicidade será afinal um rodopio social,
 onde ninguém conhece verdadeiramente
as tuas noites e manhãs,
os teus anseios e dúvidas,
 a tua sensibilidade e abraço.
 
Mas ele conhece. 
Como quem te olha de dentro
 porque também és tu,
mesmo nas tuas negações,
 mesmo quando achaste ser esporádico.
 
 Nesse momento,
 terá o nome deste poema:
"Descalça-te! Caminhas sobre o chão da minha alma...".
 
  E quando a noite do espírito te invadir,
 grita por ele,
ergue o facho da tua alma,
 e lembrar-te-ás quem te beijou as mãos,
porque só ele conhece as tuas manhãs e madrugadas...