17.6.13

PORQUE A VIDA PESA...

 
O peso da vida não é constante. E torna-se mais pesado sempre que se obnubila a esperança, sempre que o futuro se adensa negro, sempre que levamos bofetadas sem aviso prévio, sempre que nos vemos prisioneiros de uma realidade que não queremos, não desejámos e não merecemos. Sim, o peso da vida torna-se maior nesses momentos, como se nos fosse retirada a alma e existíssemos contrariados, chateados, tristes ou revoltados. Nesses momentos, é como se o desencanto fosse a pele que vestimos, é como se o coração não tivesse chama, é como se acordar outro dia não tivesse a menor importância. Nuns instala-se a depressão, a tristeza, a lágrima escondida, o "olá" que esconde a fragilidade de uma existência, e noutros impera a raiva, a revolta, a frustração cínica, a reclamação por cada segundo em que não se sentem bem. Não advogo nenhum sofrimento gratuito ou qualquer forma de estoicismo, mas, além de sabedoria de vida, gosto daqueles que encolhem os ombros com um sorriso, como quem acaba de perder um comboio mas sem maldizerem o mundo por isso. É nestes momentos que mais nos precisamos de lembrar de que só  valemos pelo que somos e não pelo que temos.  De que apenas nos realizamos com o Outro, de que sozinhos, como diz o provérbio, chegamos mais depressa, mas não mais longe. E esta interiorização da vida, dolorosa, sim, não nos torna mais felizes por isso, mas a consciencialização dos factos é sempre meia resolução do problema. Nunca gostei de quem reclama como se tivesse o primado de  ter de ser mais feliz do que os outros, como se fosse imperativo que nenhum escolho pudesse haver em seu caminho, mas também aqui entra a humildade da condição humana, já que, paradoxalmente, um caminho sem problemas é em si indicação de que não é esse o caminho. Não me falem de dor nem sofrimento, não me atirem com pedras a resolução dos problemas, porque sem nos igualarmos na dor que cada um sente, facto é que um sorriso mesmo que triste, ou um silêncio como quem digere o problema, um atender ao outro como quem se acolhe a si mesmo, são apenas formas possíveis das beligerantes opções comuns. É no abraço universal que beijamos a alma, e é com esse sorriso triste que o coração canta a dor e a exorciza. A manhã chegará... se da noite não fizermos um campo de batalha... porque também ela contém estrelas...