6.10.13

CANCIONEIRO DAS LÁGRIMAS






Sai de casa.
Passa perto das emoções do olhar.
 
Sorri-lhe um cão meigo e irrequieto que se deita sobre as memórias das festas.
 
Pede para ficar mas abandonaram a presença que o vento e a chuva trouxe em delicado sentir.
 
E dançam folhas com cheiro a lugares, e as nuvens descobrem-se mais límpidas no sol de outrora, e o cão não o larga, aponta-lhe o caminho de trás, da janela conhecida, do espaço que fora deles. E deita-se no chão a pedir o consentimento de ficar...
 
...e ambos soluçam numa presença abandonada...




















 
 Morreste-me
 em meus braços!
 
 E só te encontro
nas lágrimas de
 quem  chora...
 





















 
 
 
 
Ainda escreves com lágrimas
o sonho da noite,
e seguras com tremor o coração ferido!
 
Nem tudo o tempo levará
sem querer primeiro saber
quantas estrelas contaste
ao relento da dor.
 
E levantas-te sorridente
para um dia que apenas tu conheces...
 
  
 
 
 
 
Abraço-te já sem forças
e na magreza do cansaço
exaspero em teu olhar
a minha própria devoção!
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
Como um troar de canhão
as balas da saudade e desamor
atravessam intrépidas o olhar,
e ferindo como um raio 
imprudente e inamistoso,
ecoa em ti o vazio da existência!
 



 
 
 
 
 
 
 
Povoam-se de lágrimas os
olhos do amor quando no
castelo da entrega se fazem
ouvir derrocadas que nenhum
inimigo desconhece.
 
É sempre bonita a construção
quando somos a fortaleza inexpugnável
do nosso próprio amor...
 
 





 
 
 
 

A luz ao som
da tua alma
em nuvens cinzeladas
de alegria.
 
E os teus olhos
murmuram nomes
de beijos e abraços
que não deste...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
Os pássaros chamam!
As árvores desfolham o verde
para o matinal caminho de outrora
onde reside essa esperança férrea
como um violento amanhecer
a entrar nas veias que
cercam o olhar de quem expirou
o desejo nas lutas
tantas de quem sofre em vão
o caminhar longínquo
no esvoaçar rasante
até perder o olhar
numa pena caída por terra
e que ninguém soube
a quem pertenceu...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A terra molhada
lava as lágrimas
 que o coração soluçou, 
e como um raio de sol
entre as nuvens, fez-se
presente o mistério de ti!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
Choro-te
as lágrimas que
não deitas, e
com elas humanizo
o altar dos teus sonhos...
 
 
 
 
 
 
 
Vejo em tuas
 mãos flores
 de entrega,
 salpicadas por
espinhos que
talvez não saibas!
 
É por isso
que um abraço 
de alma pode
 sempre rasgar
 vasos de amor...

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Descanso o meu olhar
em pingos de lua,
e sinto em cada brisa
a emoção tranquila
de um amor retemperado.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Agora vou-me embora!
Já deixei a mesa cheia
com detritos do olhar.
 
Agora vou-me embora
fascinado pela vida
que cantou ébria e divina
o sol e a chuva dos
dias que fez,
e neles me vi alto e baixo
dos muros que ladeiam
o sentir.
 
Procuro-te em mim
e aparto-me só
esperançado que o vento
me ouça entre as folhas secas
que arranca das árvores
a música tépida da
melancolia do fim.
 
E agora vou!
Dá-me o teu olhar,
o teu sorriso e a tua cruz.

No jogo das almas
talvez unidos façamos
nova vida,
como quem apanha do chão
a semente encantada
de um jardim interior.