26.10.13

REFLEXÕES


Vive mais autênticamente quem mais ama e não quem mais triunfa. É uma constatação muito simples e óbvia e, todavia, as auto ilusões condenam tanto à cegueira da própria razão. Vivemos todos a correr e a automatização da vida empobrece muito o relacionamento humano. Outras vezes somos nós que nos robotizamos sob os mais diversos semiconscientes pretextos. E os conceitos básicos de felicidade e amor como que se esvaziam para missões impossíveis e inumanas! É por isso que nos precisamos de refrescar sempre na fonte do discernimento, na paragem em cada dia da dança louca com que batucamos o chão da vida e dizemos que é o tecto a desabar...
 
Ser feliz não é a ausência de problemas, assim como ser inteligente não é ser intelectual, mero racional! Valemos pela inteligência cognitiva apenas? É a razão que comanda tudo? Não. Decididamente não. Somos um puzzle, um conjunto, somos emoções e razão, corpo e espírito, e querer outorgar à sempre razão todo o comando da existência, é entregarmos a um suicida a condução da nossa vida, já que por natureza a razão é cega e apenas vê no limite do que conhece. Logo, ser-se racional sem se deixar de ser inteligente (a inteligência do coração, da emoção, da própria vida, que não está de todo assente num único prisma cognitivo), é da maior importância através de uma gestão equilibrada do eu, e não apenas da razão em si, sempre e tão redutora....
 
Os sentimentos não são bons nem maus. Dizem-nos apenas o que se está a passar connosco, são sinais, alertas. A gestão emocional também passa por aqui: aprender a viver afectivamente bem consigo mesmo, e sempre que recusamos a emoção e o sentir por um egotista e infantil argumento supostamente racional (quando afinal é desinteligente) estamos a bloquear afectos e aprendizagens, capacidade de sermos mais pessoas, mais humanos, mais nós, estamos a entrar na cobardia de não nos querermos conhecer, porque queremos o caminho fácil e sem obstáculos e queremos o que nem nós sabemos, julgando todavia que aquele será o caminho mais fácil, como uma mãe que dando à luz abandona o filho num caixote de lixo, ainda que mais tarde desespere em encontrá-lo! Não é deixar de sentir, mas saber o que fazer com aquilo que sentimos.
 
Nunca se pode prescindir da liberdade, mas também  nunca se pode prescindir da responsabilidade. O nosso crescimento está mais interdependente do que supomos. Não somos ilhas nem nos fazemos sozinhos. O maior autodidacta, o mais empedernido selfmademan, sabe que não vive nem progride nem se realiza como pessoa se apenas olhar o seu umbigo, até porque mesmo para o mero hedonismo de uma vida fútil e sem sentido com tudo ao seu dispor, necessitaria sempre de amigos verdadeiros, de um ou outro amigo que o conheça em toda a sua interioridade e o respeite e aceite por isso, e nessa liberdade seja ele mesmo porque alguém lhe legitima a existência.
 
Ninguém se faz sozinho. Ninguém. Nem que seja para percebermos, por vezes tarde, que a visão de uma construção pessoal prescindindo dos outros, só pode acontecer na visão insensata mas própria das idades em que não se pensou sobre o significado de ser homem. Existe sempre realização e frustração. O importante é não dramatizar, mas também reconhecer-se finito e em humildade aprender consigo mesmo e com o outro.

Em nome da nossa felicidade cometemos os maiores disparates, e não é por acaso que a razão é o principal aliado dos erros. Porque, uma vez mais, a razão não comanda a vida! Nem de longe. É um precioso instrumento, mas não passa disso. Basta sabermos que do ponto de visto estritamente lógico não há sentido em não matar quem está a meu lado se não gostar dele. É pura lógica! Mas a felicidade que geralmente pensamos é aquela do prazer, do prazer imediato e infantil, do prazer pelo prazer. Felizmente alguns crescem e percebem que a felicidade só se entende em quem quer crescer afectivamente, que não se procura - como uma criança - a si mesmo, mas antes quer fazer feliz o outro, porque fazendo o outro feliz torna-se feliz a ele mesmo, porque ao cuidar do outro está já a cuidar de si!
 
As emoções encobertas condicionam as emoções adultas da mesma maneira que os temores impedem o bom resultado. Não se trata de ter, de me servir, mas o que preciso de ter. E neste afastarmo-nos um pouco das nossas próprias ideias preconcebidas para em liberdade e justiça nos ajudarmos a levantar, revendo tudo, reside a capacidade de termos amadurecido nestas estações longas da vida com aprendizagens que nem sempre queremos aceitar...