20.11.13

SOZINHOS JUNTOS



Vivemos na feliz contemplação do desencanto. Uns porque são magoados, outros porque esperam para além do possível, outros ainda porque não encontram nada que lhes outorgue a felicidade. A vida é uma viagem insuportável para uns, um fardo consentido para outros ou uma ilusória aceitação de quotidiana alegria. Na realidade, somos seres muitíssimo bem construídos, de uma perfeição que recusamos aceitar ao ver nos outros desdém e rancor, inveja e maledicência, mas também isto acontece pela falta de liberdade e não por um intrínseco mal. Somos muito mais do que somos, mas afunilamo-nos em imperativos sociais e jogos de poder, mesmo os subreptícios e pessoais, e invariavelmente perdemo-nos labirinticamente em espaços que pintamos com cores garridas e sorrisos que só a mecânica dos maxilares legitima. Outros, porém, convivem com realidades tão pessoais que se endeusam e auto satisfazem até à assunção, muita vezes tardia, de uma vida inautêntica e frívola.
 
Carl Jung, colega de Freud, dizia que não aguentava excessos de realidade, e muito embora calhe tão bem dizê-lo mesmo não tendo outro remédio que não aceitá-la, certo é que são estas cores com que pintamos abismos interiores e estados de alma que protegem do já frágil tecido de auto preservação, donde inventamos sóis na pior das noites...
 
Vivemos sozinhos juntos, e é por isso que os paradigmas existenciais se acentuam ainda mais. Mas é também na capacidade de aceitação da vulnerabilidade e solidão pessoais, que todo o resto se ergue e alavanca. Na natureza humana a camuflagem convive directamente com a autenticidade, qual homem prepotente ou arrogante cuja raiz do mal está na inferioridade que se reconhece, mesmo não o admitindo.
 
Vivemos encantadoramente felizes no desencanto que também nós criamos, e só estendendo as mãos e os braços ao Outro, fazemos brilhar o sol prisioneiro nas nuvens despóticas do eu! O resto é vaidade e desconhecimento de que somos finitos, limitados, mesmo com portais de sabedoria que só a experiência humana da partilha e da humildade poderá dar...