27.12.13

ONTOLOGIA DO AMOR

Estava ali. Sentado na soleira do mundo, com a solidão dos homens e o útero do amor. Uma visão grandiosa que o enchia de medo, sabendo que as mãos seriam asas e os desejos lágrimas, e que o vento era o aviso para o momento da partida. Uma quimera no mundo real, um abraço às nuvens num sorriso invisível. Um estertor que se afundava mas nem por isso lhe trazia paz. O terror da noite e do desconhecido, a manhã nebulosa e húmida com cheiro a árvores e a musgo, um búzio de emoções que se aconchegavam pequeninas no seu estar. Indizível o pensamento rápido e disperso, concreto e silente, tão silente que se ouvia e depurava nos gestos contidos da voz para ninguém! Imenso e só! E da árvore cai um pequeno ramo, das nuvens um mar de chuva, o sol reaparece entre relâmpagos sombrios que de novo o engolem para outra dimensão. Vai cair a noite outra vez e outro amanhecer aquecerá a alma, mas ela já se habituou ao calor artificial dos dias e clama por mais vida e mais sentir antes da catatonia que aprisione os sonhos e lhe sangre a missão de ser. Em tudo ele está e se confunde, e quando já nada o acorda, uma mão pousa no ombro, uma voz faz-se ouvir, e ele repete num louvor que não conhece: Ficarei contigo para sempre!...