11.1.14

DAS MÃOS, AS PALAVRAS

 
 
 
 
 
 
Irei embora antes do nascer do dia. Os risos e as palmas são para os que cirandam por aí sem saberem que são corcundas. A noite envolveu-me no silêncio de quem escuta, sem os pensamentos ofegantes que o dia tem. Irei embora antes de amanhecer, para que a noite saiba que também eu a acolhi em igual silêncio que fala e suaviza, e deixo aos outros o ruído da ilusão. Um dia voltarei pela tardinha, quando os risos já são alegria e a autenticidade das palavras se encontram nos sons dos gestos e do amor. E talvez que à noitinha todos sejamos um só, até de novo a noite nos cobrir de beijos, num amanhecer indistinto onde já só fala o coração.
 
Sereno e belo é o caminho nos gestos delicados de quem sente. Haverá buracos na estrada e lama que entorpece, sóis de madrugadas de estulta beleza, mas o caminho mais longo é sempre o de não ter ninguém...