14.4.15

MUDAR O PARADIGMA


"Quantas vezes pensamos que amamos e, no fundo, apenas fazemos do amor uma manifestação subtil do nosso egoísmo, manifestação tanto mais perigosa quanto a julgamos generosa e desinteressada. Só a dor purifica e torna verdadeiro o amor e lhe retira quaisquer resquícios de egoísmo".
 
 Gosto desta citação no que ao amor diz respeito, mas uso-a porque se aplica em quase tudo da nossa existência no que concerne a crenças e valores, ou seja, estamos formatados para agir em automático, decisões inconsciencializadas, filtros subconscientes que formam as nossas decisões e atitudes sem nos apercebermos da sua verdadeira dimensão. E é isso que nos deixa amargurados, ou tristes, ou revoltados, ou insatisfeitos, ou deprimidos, porque atribuímos significados ao que no outro não tem ou que na realidade não existe!
 
Crescer, mudar o padrão comportamental, porém, não é fácil, porque não apenas requer uma constante vigilância sobre nós mesmos, como obriga a reflectir, a ir aos porquês que nunca vamos, metidos como estamos no processo automático de existir, e retira-nos inevitavelmente da nossa zona de conforto. Mas ressignificar alguma coisa, significa compreendê-la como ela realmente é, e não apenas como a vejo, sendo que temos uma tendência dantesca para nos desculpabilizarmos e vermos sempre no outro o motivo e, sobretudo, a justificação do nosso agir!
 
As coisas acontecem sempre de acordo com as nossas vivências emotivas, psicológicas, intrapsíquicas, mas como não o consciencializamos, atribuímos-lhe significados que, não apenas muitas vezes não existem, como lhe conferimos responsabilidade que, afinal, é nossa! Este é o esforço para viver melhor, para não cometer injustiças, para não julgar o outro, para não nos desresponsabilizarmos, o de tomar consciência em cada dia, das motivações que nos levam de forma tão aparentemente simples e natural, a ficarmos reféns de nós mesmos, dos nossos prismas de visão e emoções tóxicas, onde uma vez mais nos desculpabilizamos porque moldamos o mundo e as atitudes (ou a falta delas) pela construção emotiva que a nossa própria vida recebeu desde a pré-infância!
 
Precisamos de mudar a interpretação que fazemos da realidade, encontrar o foco objectivo daquilo que se nos afigura o problema, e com rigor sobre nós mesmos, encontraremos os verdadeiros porquês das nossas atitudes. E, de repente, dá-se um salto interior suficientemente grande, para entendermos que somos muito mais autores da vida do que até então supunhamos. Como dizia Blaise Pascal, "todos estamos comprometidos", mesmo quando achamos que não fazemos nada! E crescer como pessoas inteiras, requer necessariamente este salto de consciencializar aquilo que fazemos toda a vida de forma automática sem lhes percebermos os porquês. Só depois disso somos verdadeiramente adultos, na medida em que passamos a assumir a verdadeira responsabilidade e resposta do nosso agir, mesmo sem nunca deixarmos de sonhar...