29.12.17

DO ESSENCIAL...

Dos fracos não reza a História, diz-se, mas talvez que a nossa concepção de fraqueza seja, afinal, a simetria da glória. A azáfama diária pode dar a entender um ser perfeito, confiante e enérgico, mas a realidade convive sempre com os “apanhados”. Esse lado natural e espontâneo que dispensa o toque da roupa ou a imagem fabricada, a tecnologia de ponta ou a intelectualidade quotizada, e há muitos que só elogiam assim, desvalorizando a simplicidade do ser que se dissocia do resto, e apenas credibilizam os supostos socialmente bem... Repulsam-me esse tipo de pessoas mesmo que as cumprimente, a roçar a hipocrisia de não saberem ou conseguirem ir mais longe! Compreendemos os imperativos pessoais, mas também não devemos esconder a fragilidade que nos torna verdadeiramente reais.
 
Sempre associei a passagem de ano ao Silêncio e Paz. É um momento psicológico de reflexão, mas também de acolhimento! Mais do que uma alegria forçada por uma festa auto-imposta, é a Amizade, a Simplicidade e o Amor que devem ser renovados e vividos. Porque também nós somos destinatários desse amor e dessa paz que tanto preconizamos para os outros...
 
Para mim não contam tanto os dias festivos, mas antes os anónimos dias da semana. São tão mais importantes, porque são eles que forjam o resultado continuado. As festas, encontros, jantares têm o seu lado lúdico e mais do que isso, mas esgotam-se aí. Como diz a canção "Who's gonna drive you home?" Não se nutre a serenidade do verde, a magia da chuva, o manto da noite ou o encanto do mar em festas grupais. É nos dias de semana, nos momentos sós. A noite prepara o dia mas não recebe os agradecimentos. Da simplicidade nasce a alegria dos pequenos nadas. As coisas grandes são para todos; as pequenas são, de uma forma ou de outra, para os que me são mais queridos...

26.12.17

BOAS FESTAS

No Natal não celebramos nenhuma fantasia, como o Halloween ou o Carnaval. O Natal comemora o nascimento de Jesus há mais de dois mil anos, numa noite que hoje corresponderia, eventualmente, à altura do verão, e que os primeiros cristãos adoptaram para esta altura devido ao solstício de inverno, onde se comemora a festa da luz, sendo Cristo apresentado como a Luz. O Menino Jesus nasce despojado de grandezas numa gruta entre animais e, é por isso, que o verdadeiro Natal, é sempre o presépio do nosso coração.
 
Quem dorme nas palhas da fealdade da vida, dos cobertores que cobrem o frio da rua, dos envergonhados na pobreza e humildade, estão tantas vezes - nesses estábulos que indiferenciamos ou nem reconhecemos os sinais -, muito mais perto daquele Presépio verdadeiro, do que muitos de nós com cânticos natalícios regados com vinhos, perus, bacalhau, borregos, doces de toda a espécie, estonteamento material de prendas e risos, circos finos e mesas fartas e até missas do galo.
Natal é simplicidade e interioridade.
 
Longe ou perto, na multidão ou no silêncio, é na amizade que se faz Natal.
A todos os que me acompanham por aqui...
...                                                                     Boas festas 

18.12.17

NATAL (PARTE II)


No enfrentar sereno da vida, o amor é a condição fundamental. Podemos ter vidas espantosas e empolgantes ou extraordinariamente simples e discretas. Podemos ser conhecidos para o bem e para o mal, ou praticamente ignorados pelos holofotes da fama, mas aquilo que é decisivo é o amor, dado e recebido, nesta escolha que é necessário fazer todos os dias, e que tem também a ver com o escutar a alma.
 
Também a confusão de sempre, de que o Natal é aquela época do consumismo puro, das... prendas e galhardetes! A deturpação dos símbolos, com centros comerciais transformados em viveiros de oficinas ambulantes do pai Natal, e a azáfama de baratas tontas que acomete as pessoas em particular no dia 24, é natural que muitas pessoas não se identifiquem com a época.
 
Dou tanto mais valor aos dias anónimos do ano, aqueles de 2ª a 6ª em que ninguém se lembra de ninguém e muito menos são épocas festivas.... Como nesses dias sabe bem uma sms, um livro, um sorriso, um gesto, um estar uns momentos fora do ruído no fim do dia, presentear abraços e presença! E, sendo assim, parece que as prendas institucionais do Natal perdem maior significado, porque sabemos presentear durante todo o ano com amizade imaterial e em gestos concretos de amor.
 
Um grande violinista tocava uma música celestial na Central Station em Nova York, com um violino Stradivarius valioso (3.000.000 de dólares), mas ninguém lhe ligava. O mesmo violinista tinha tocado uma semana antes no teatro principal de Nova York diante de uma plateia entusiasta, onde o preço de cada bilhete de entrada era pelo menos 500 dólares.
 
É a velha questão que costumo falar de darmos valor ao socialmente correcto e aceite, de idolatrarmos os famosos só porque o são, sem reconhecer intrínseco valor a outros que socialmente não estão nos holofotes mas têm essa centelha divina da importância que farisaicamente apenas reconhecemos nos que já estão creditados!
 
E então, nesta sociedade consumista e materialista, onde só se fala de finanças, não haverá lugar para valores que não têm preço? Não haverá lugar para a gratuidade?
 
"Vai onde não possas/
vê onde não vês:
escuta onde não ressoa
e assim estarás onde Deus fala" - escreve Angelus Silesius.
 
 
Isso, meus amigos, independentemente das crenças, é Natal!

5.12.17

DIA INTERNACIONAL DO VOLUNTARIADO

Precisamos de tempo! E é isso o que dá um voluntário no dia internacional que hoje, 3.feira, se comemora! Darmos ao outro o nosso tempo, é uma das maiores dádivas, mas tê-lo também para nós, é imperativo! Só quando estamos connosco mesmos, alimentamos a alma, ordenamos os pensamentos e ficamos com outra perspectiva!
 
Aquietar a mente, abrandar a azáfama louca de tudo e de nada, e reorganizar o espaço interior, é tão importante como respirar, sob pena de já não entendermos nad...a e não fruirmos o mundo nem a vida, enclausurados em arritmias com a capa do ritmo certo! A higiene mental e o revigoramento anmico passam por aqui, exactamente como quando estamos com amigos e confraternizamos sem grandes preocupações!
 
Negarmos este espaço diário de silêncio connosco, é diminuir a capacidade de ouvir o outro e de percebermos como vai o nosso próprio valor... Darmo-nos tempo é também darmos tempo ao outro sem as desculpas de o não termos... Porque mais importante que uma prenda bonita, um jantar imaculado ou uma roupa cara, é o tempo que damos na simplicidade da alegria e do encontro interior, que se faz sempre assim, sem pressas, como se presos num elevador da vida onde se ouve o mar e o silêncio, como se fosse de noite, uma paz que atravessa a alma e os diálogos e estamos ali, sem pressa, a darmo-nos...
 
Quando a aparência se sobrepõe e o tempo é artificial, está tudo enquinado, e cabe-nos a nós interromper o ciclo do vazio! Hoje que se comemora o dia do voluntariado, é tão louvável e meritório o que cada uma dessas pessoas faz além do seu próprio tempo, quanto a higiene mental e o arejar de alma que connosco e com os outros possamos ter... Porque só quem tem, pode dar...

3.12.17

DIA MUNDIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA?

 
 
Não confio nas pessoas perfeitas, nas que se arrogam certezas que não têm, nas que salivam fel, nas que não sabem rir, nas que lhes falta liberdade interior, nas que não sabem actualizar decisões, nas que trocam a simplicidade pelo orgulho, a sabedoria pela arrogância, a humildade pela soberba intelectual!
 
Gosto dos simples e bem dispostos, dos que sabem apreciar o pormenor, dos que falam com o coração e têm a sensibilidade de viver ao invés de competir! Geralmente é o ego a fonte do desamor, que caminha a par com a vaidade e a superficialidade!
 
Hoje, dia 3, comemora-se o Dia Internacional do Deficiente! Está bem visto! Precisamos sempre de saber que há espelhos que se negam a validar as nossas suposições, ou, dito de outra forma, que em todas estas situações os deficientes somos nós!