26.11.18

IN & OUT

Vivemos na feliz contemplação do desencanto. Uns porque são magoados, outros porque esperam para além do possível, outros ainda porque não encontram nada que lhes outorgue a felicidade. 

A vida é uma viagem insuportável para uns, um fardo consentido para outros ou uma ilusória aceitação de quotidiana alegria. 

Somos muito mais do que somos, mas afunilamo-nos em imperativos sociais e jogos de poder, mesmo os subreptícios e pessoais, e invariavelmente perdemo-nos labirinticamente em espaços que pintamos com cores garridas e sorrisos que só a mecânica dos maxilares legitima. 

Outros, porém, convivem com realidades tão pessoais que se endeusam e auto satisfazem até à assunção, muita vezes tardia, de uma vida inautêntica e frívola.

Carl Jung, colega de Freud, dizia que não aguentava excessos de realidade, e muito embora calhe tão bem dizê-lo mesmo não tendo outro remédio que não aceitá-la, certo é que são estas cores com que pintamos abismos interiores e estados de alma que protegem do já frágil tecido de auto preservação, donde inventamos sóis na pior das noites...

Vivemos sozinhos juntos, e é por isso que os paradigmas existenciais se acentuam ainda mais. Mas é também na capacidade de aceitação da vulnerabilidade e solidão pessoais, que todo o resto se ergue e alavanca. Na natureza humana a camuflagem convive directamente com a autenticidade, qual homem prepotente ou arrogante cuja raiz do mal está na inferioridade que se reconhece, mesmo não o admitindo.

Vivemos encantadoramente felizes no desencanto que também nós criamos, e só estendendo as mãos e os braços ao Outro, fazemos brilhar o sol prisioneiro nas nuvens despóticas do eu! O resto é vaidade e desconhecimento de que somos finitos, limitados, mesmo com portais de sabedoria que só a experiência humana da partilha e da humildade poderá dar...