27.7.20

PASSOS DA ALMA

É preciso abrandar a caminhada. Ouvir as nossas emoções e estar atento à dos outros. E se nada nos disserem, dizermos nós que estamos ali, e que esperamos também que o outro esteja para nós.
Por vezes, falar no silêncio é suficiente, porque o outro percebe a identificação ou o abraço interior. Outras vezes, é preciso insistir uma e outra vez, porque intuimos que algo não vai bem, perceber se se passa alguma coisa, se está triste, o que lhe vai na alma... E se não houver resposta sabendo que há dor, abraçar mesmo sem nada dizer, mas não usar o silêncio como desculpa para não querer falar, porque a ausência do verbo pode ser apenas o constrangimento de o transmitir, a vergonha de o assumir, mas a dor está lá.
Se dermos um abraço apertado, o outro pode falar por lágrimas. Se falarmos nós por lágrimas, o outro dar-nos-á um abraço apertado. Porque toda a dor magoa, e consciencializar o problema é só meia solução, porque é na noite que as estrelas se mostram como são, e cada um de nós pode ser essa noite que ilumina, o bálsamo que muitos sóis apenas disfarçam.
Em tudo isto, precisamos de abrandar a caminhada, aquietar a dor, enxugar as lágrimas, mesmo sem ninguém, mas a alma só se cura com amor, o nosso e o que tivermos a sorte de receber. Caso contrário, seremos erráticos condutores julgando encontrar no diagnóstico, a solução do problema.
Uma música suave e doce tem a mesma energia de uma música vibrante que faz pulsar a alma convidando ao festim da vida. E ambas são necessárias para um caminho mais feliz.
O que é importante, é que ir depressa a lado algum, é o mesmo que estarmos perdidos, e sem o Outro, sem a esfera relacional mesmo com um estranho, sem abrandarmos o ritmo para sentir as nossas emoções, a nossa força estará diminuída para defrontar a sólida rocha com a provocação da nossa própria vulnerabilidade.
Só assim se faz caminho. Porque vive mais autenticamente quem mais ama, e não quem mais triunfa...