8.12.20

O COVID E NÓS

 


Tirei esta foto há um ano dos armazéns do Chiado, antes de ir a um jantar aqui a meio da rua Garrett. Com todos os problemas que todos temos, porque não há ninguém imune a vicissitudes, todos éramos um bocadinho mais felizes mesmo sem o sabermos pelo simples facto do que revela a fotografia: ajuntamentos despreocupados, vivência natalícia ou qualquer outra da forma mais aberta possível, encontros, saídas, ausência de receio de contactos...

Quando tudo tiver passado com este monte de matéria orgânica que nem vírus é, baptizado de covid, e já não forem precisas máscaras nem cuidados maiores do que os normais mesmo antes do sars cov 2, muita gente continuará excessivamente cautelosa, quer por mero receio, quer pelas sequelas psicológicas do tempo dos confinamentos e uso de máscaras.

Nunca me coibí da vida social, salvaguardada a distância mínima sem exageros, ou de máscara colocada sem necessidade estrita. Sempre achei exagerado quem se barricou em casa ou se desinfectava várias vezes ao dia incluindo a roupa. Se quem faz parte dos grupos de risco tiver alguma distância e máscara, e um lavar de mãos mais frequente, pode fazer a vida normal naquilo que é possível, dado que estamos quase sem actividades sociais e tudo se olha de soslaio com um temor exagerado. É tão desinteligente quanto ir são a uma enfermaria covid sem protecção.

As vacinas estão a caminho, o tempo demorará ainda, mas provavelmente no verão, quando todos já terão sido inoculados e o risco é tão residual quanto apanharmos quaisquer outras doenças, as sequelas sociais da máscara, da desinfecção e do distanciamento, ainda perdurarão (não falo das sequelas na saúde mental, nem nas crianças que isso é outra história muito séria), e sendo o homem um ser relacional, os afectos serão sempre importantes para preservar essa mesma saúde mental, num mundo que já era frio de interioridade e comunhão e, que, agora, por dois ou três anos, continuará a ser com o efeito psicológico de tanta emergência.

Precisamos de nos conectar de novo, mesmo correndo riscos moderados, porque é isso que é a vida: por natureza um risco, e não há nenhuma pandemia que possa alterar o DNA da Humanidade: o de sermos com o Outro...