13.6.21

SANTO ANTÓNIO E NÓS



 

Com ou sem covid, somos impelidos ao Outro, somos impelidos à comunhão, somos seres relacionais, está inscrito no nosso código genético.

É natural que Santo António receba tantos pedidos, conhecido como o santo casamenteiro. Pedidos de Amor e de Amizade....

As Festas dos Santos Populares, não são o Teatro Nacional de São Carlos, uma ópera, um concerto de música erudita, uma palestra literária ou um bailado russo. Também não são um concerto de música hard-rock, eléctrica ou uma rave.
Podem ser, aqui e ali, um misto de canções populares com uma espécie de música de carnaval after hours, mas são diferentes. Também não é fado, que é do povo. É o outro lado do fado, é o lado alegre que o português não tem. Mas é também a Partilha.
"O meu bairro é liiiiiindo" não cheira a competição mas a partilha. As pessoas saem de casa e sentem colectivamente momentos assim, porque a noção de pertença e de partilha estão intimamente ligadas, convocando do fundo de nós a saudável abertura de
um abraço
a um desconhecido, como um único coração na praça grande que são as ruas e a vida.
É assim que a humanidade se humaniza: na partilha!
Mas voltemos ao início: a quantidade de pedidos secretos de amor e amizade, é sempre maior do que supomos; a vida é dinâmica, uns casam, outros namoram, outros suspiram, outros acham que têm muitos amigos, outros simplesmente não têm nenhuns, outros gostam de estar sós, mas não é desse silêncio salutar que falo, mas da solidão de quem não tem companhia, excepto a intervalos avulsos que serão sempre insuficientes para uma maior doação e realização como pessoas.
Resta-nos oferecer gratuitamente o nosso sorriso a quem passa, reconhecer e intuir as dores escondidas, perceber que nem todas as alegrias são alegres, mas que também nem todo o sofrimento é dramático, e com manjericos ou martelinhos, com cartas ou sardinhas assadas, com selfies ou pinotes, há sempre alguém que está só...