30.7.21

DIA INTERNACIONAL DA AMIZADE

 


Gosto de quem sofre. Porque está a sofrer. De quem abre o coração e lhe entra uma flecha. Porque a confiança foi traída. De quem acredita e é destituído. Porque entrou no desencanto. De quem investe e sai perdido, porque precisa de voltar a acreditar. Porque é aqui que ainda devem entrar mais os Amigos!

Gosto de amigos simples e sensíveis. Gosto dos amigos reais e dos virtuais, dos amigos que nos amam. Dos que não comadram nem fazem crochet, dos que tiram as coisas a limpo, sem se ficarem pelo que eventual e mal intencionadamente ouviram dizer.
Gosto dos solitários, porque simplesmente não têm amigos. E, então, temos de ser nós os nossos próprios amigos.
E quando os temos, gosto dos que cometem loucuras e riem connosco!
Dos que o são de verdade e não por conveniência. Dos que dão tudo e não olham às hipocrisias do socialmente correcto.
Dos que com lágrimas vencem a dureza da rocha, e dão um murro à lamentação sem desrespeitar a mágoa que precisa de ser curada.
Dos que efusivamente abraçam, mesmo que os outros achem um desrespeito. O que interessa, é que o abraço seja sentido, com os dois braços, e não uma cortesia momentânea.
Dos que estão presentes antes de chamar. Dos que mostram a sua dor porque também me ajudam a mostrar a minha.
Porque os amigos, os amigos de verdade, mesmo os que não precisam do tempo para se ter intimidade e empatia, seguram connosco a chave mestra da vida: sermos em plenitude, na sensibilidade, na alegria e no encanto, no sofrimento e na dor.
E é por isso que é tão importante esse amor universal da amizade... E de as criar, construir, alimentar e fazer, porque também há amigos que fazemos hoje, como se os tivéssemos tido desde sempre; basta que destapemos o crédito social, a vergonha ou as defesas exageradas, na atenção e no encontro que tantas vezes abortamos à nascença mas com vontade de os ter.
Gosto que me digam "estou aqui", porque posso ter receio ou vergonha de dizer "fica comigo"!
Mas é Vinícius de Morais, quem tão bem diz este meu sentir:
"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grande chuvas e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo".
Gosto muito desta citação do Vinicius, porque expressa tão bem a Amizade, e porque a Amizade é o gesto presente nos dias comuns e anónimos, de presença na ausência, de sorriso e partilha, de silêncio e palavras! O quotidiano carece tão mais de gestos amigos, do que longos momentos em que todos brindam, para depois todos voltarem a ficar sós. É aí, no dia a dia, que se revela em toda a sua verdade, porque é nos gestos efectivos que o amor (se) transforma. Caso contrário, seremos meros reagentes a acenos de amizade...
30 de Julho é o dia instituído pela ONU como o dia internacional da Amizade... e como me identifico com a tristeza dos solitários, mesmo que os sinais sejam defesas que também nos cabe ler, porque ninguém gosta de mostrar a sua dor, e dos que no silêncio de um pássaro encontram a sua liberdade, a sua voz e a pureza das suas lágrimas...