5.12.21

DIA INTERNACIONAL DO VOLUNTÁRIO


No dia internacional do voluntariado que hoje, domingo, se comemora, importa começar por dizer que as necessidades umbilicais de quem faz de si o centro do universo, radicam numa desatenção ao próprio valor, que sendo de pouca profundidade, traveste-se numa revalorização exagerada!

A infalibilidade humana torna-se ainda mais ilusória do que já sabemos ser, quando nos colocam no regaço problemas e dúvidas, dramas, angústias e anseios, e muitas vezes tudo o que podemos dar, é um sorriso de compreensão para atenuar a densidade do drama, acolhendo também pela nossa história, o sofrimento que se quer erradicado.

Escutar, é já um meio de desapertar a tensão emocional, e melhor voluntariado natural não pode haver.

Claro que existem também ferramentas várias ao nível do trabalho psicológico que devemos fazer, que ajudam e contribuem na conversa.

É a escuta de quem não pode resolver o problema, mas o ouve, diagnostica em modo conjunto, e aponta caminhos, mesmo sem saber a solução. Porque essa será encontrada na dinâmica da vida, na desconstrução do problema e não apenas nos conhecimentos que recebeu.

Essa é a parte racional, a de aprender o que fazer, mas o processo da exequibilidade é, não raras vezes, longo, e vem sempre de dentro de nós, com altos e baixos, com algumas receitas, sim, mas generalistas, e que só pelo trabalho do reconhecimento das nossas emoções, poderemos com paciência e, aí sim, com inteligência - que é uma mera ferramenta, um meio para um fim, já que é no tecido emocional que se plasma a vida e reconhece como e quem somos -, aceitarmos o que for inevitável, encontrando outros caminhos sem negar o que nos trava.

Porque a vida é dinâmica, e aquilo que hoje é um drama já não é amanhã, tal como aqueles que achamos perfeitos e muito felizes, podem revelar, afinal, um tsunami interior.

Precisamos de tempo!

E é isso o que dá um voluntário, não meramente nessa qualidade, mas de partilha.

Darmos ao outro o nosso tempo, é uma das maiores dádivas, mas tê-lo também para nós, é imperativo!

Não podemos ajudar ninguém se não estivermos nós equilibrados e com a mente arejada.

É importante reorganizar o espaço interior, sob pena de ficarmos enclausurados em arritmias com a capa do ritmo certo! A higiene mental e o revigoramento anímico passam por aqui.

Negarmos este espaço diário de silêncio interior para nos percebermos melhor e melhor reconhecermos as nossas emoções, é diminuir a capacidade de ouvir o outro e de percebermos como vai o nosso próprio valor...

Darmo-nos tempo, é também darmos tempo ao outro sem as desculpas de o não termos...

Porque mais importante que um vinho caro, uma prenda bonita, ou um restaurante fino, é o tempo que damos, na partilha, no abraço mesmo sem palavras, e na escuta, como se presos num elevador da vida onde todos os segredos são expostos, porque nos permitimos ser, sem capas, nalgum encalhe de vida, quando temos ali ao lado o outro que nos ouve.

Quando a aparência se sobrepõe, e o tempo é artificial, está tudo enquinado, e cabe-nos a nós interromper esse ciclo.

No dia do voluntariado, é tão louvável e meritório o que cada uma dessas pessoas em contextos sociais, comunitários e também pessoais faz, quanto a higiene mental e o arejar de alma que connosco e com os outros possamos ter.

"Foi o tempo que perdeste com a rosa que tornou a rosa tão importante para ti", dizia o Principezinho.

Neste caso, é a importância do desbloqueio pelo tempo em que fomos inteiramente nós, coisa a que raramente nos damos ao luxo por defesas e mecanismos vários, legítimos, mas muitas vezes exagerados e, por isso, pouco inteligentes nessa hermetização que fazemos de nós mesmos.

Todos os caminhos vão dar à fonte que abandonámos.

É, por isso, que oferecermos o nosso tempo, mesmo que apenas para abraçar, é uma das mais nobres provas de amizade, ainda que com desconhecidos, porque somos todos estranhos até nos conhecermos...