3.7.09

...TU ÉS?...

foto tirada a um restaurante


Para além de habitarmos um mundo confuso e desordenado, legitimamo-lo pelas nossas acções e pelos nossos silêncios. Em nome do progresso, da mudança, dos interesses pessoais e de uma felicidade de plástico; em nome do dinheiro e do status, das conveniências e do orgulho, legitimamos o Mal e chamamos de ultrapassado aquilo que deve ser imutável, como os valores morais e humanos regidos por uma ética, mas a que torcemos o nariz como quem olha uma peça de vestuário perdida num sótão e que teve o seu tempo. A amizade passa a companheirismo, a honra a falsidade, a palavra a verborreia, o amor a sexo, a verdade a cinismo, a alegria a um espectáculo artificial. A tudo isto junta-se uma boa dose de know how social, um jogo de cintura encapotado com as mais nobres intenções, e vamos lá esquecer a ética, a moral, ou gestos tão desusados como a capacidade de entrega, o desinteresse e a simplicidade.

Somos cada vez mais frágeis numa enorme massa de betão leve, usando defesas que não necessitaríamos se não confundíssemos o valor da vida com as modas do mundo. Vemo-nos de cal e pedra, mas se nos tocarmos somos animais feridos, ou com uma enorme propensão para isso. Negar a capacidade de sermos pessoas e não meros seres vivos, colide com o que realmente somos, podendo mesmo ter manifestações na própria saúde mental.

Tornamo-nos violentos, depressivos e instáveis. Inalamos a poluição humana com hiper-criticismo, e tornamo-nos elos de uma massa informe. Não admira que às tantas demos por nós a tomar atitudes menos cordiais com os amigos (ou o que possa restar deles), a defender posições que não comungamos, e a resvalar para uma vida que não queremos, embora a justifiquemos. É tão bom o aconchego dos amigos que nos deixam confortavelmente ignorantes. Daqueles que não sabem ser equidistantes e tomam partido sem cuidarem do problema de fundo.
Empolamos um pouco a emoção para logo a seguir encontrarmos motivos racionais que justificam o injustificável. Esquecemo-nos que somos nós que criamos o mundo pela reacção em cadeia de um mal que permitimos: a subvalorização arrepiante do sentido e do valor da vida humana.

...E, todavia, é tão difícil ser-se. Simplesmente ser-se. Sabem porquê? Porque temos de usar a química do anti-veneno, já que outros animais rastejam, com pegadas que só a pessonha conhece.

E..., todavia, é tão difícil ser-se. Simplesmente ser-se. Sabem porquê? Porque os outros se acham senhores da razão, qual adolescente que aos dezasseis anos ainda pensa que o mundo vai mal porque não o foram consultar lá a casa.

Sermos. É urgente ser... mesmo no meio de tanta gente que, ou não presta, ou ainda não fez o crescimento do qual já se julga doutorada.

Não seria natural simplesmente ser-se?

Até já. E sejam :)