29.1.10

PRÉMIO LOBINHO (parte II)


Na sequência do Prémio que instituí por ocasião do primeiro aniversário deste meu canto e que a todos ofereci (e continuo a oferecer), tendo embora enfatizado alguns destinatários específicos sem prejuízo de que, quem quer que seja que por aqui passe possa levar o prémio distribuído por dois selos (a taça e o diploma) - por isso, quem ainda não levou, faça favor de se sentir à vontade para o levar -, na sequência deste gesto houve quatro pessoas que de forma directa me interpelaram para que eu igualmente respondesse. Na realidade, não fiz as perguntas para mim, e o meu perfil aí na tecla Lobinho ao lado, fala muito de mim sem contar os posts em si, mas por insistência vou responder ao Fragmentos Culturais (que me escreveu directamente para o mail e por aí respondeu e sobre quem faço alusão no final deste post), à Eli, à Carla e ao Tiago David (ah e ao Gonçalo) que, como digo, me interpelaram a responder ao meu próprio desafio. Não penso que as minhas respostas façam alguém determ-se aqui muito tempo, mas a mim fizeram-me parar o tempo suficiente (à medida que ia lendo as respostas a quem ja respondeu ao desafio) para achar que o questionário por muitos considerado longo, afinal era curto, porque ia conhecendo mais do outro, e nesse sentido é legítimo que me invectivem a responder também. E é só por isso que o faço, já que não se trata de perguntar pela cor preferida ou qual o clube desportivo. Bem, então lá fica:


a) Tens medo de quê?

Penso que não tenho medo de nada. Muito sinceramente. É como um certo desencanto ou abulia vivencial que me faz sentir livre. Mas on a second thought talvez tenha medo de terminar sozinho, não sei...

b) Tens algum guilty pleasure?

Estava a pensar qual seria quando leio uma resposta que é a minha: dormir muito. Adoro dormir. Dá-me prazer. Embora saiba que possa, nalguns casos, ser uma fuga à realidade que pretendo.

c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade?

Indubitavelmente e por ambos os motivos. Ainda hoje faço. Tudo o que tenha a ver com o ser humano, com o tecido de sentimentos e emoções, sejam amizade ou amor, merece gestos plenos de loucura, ou para arrebitar o outro, ou para surpreender, ou para demonstrar o quanto se gosta do outro independentemente do móbil ser meramente afectivo ou amoroso. Somos humanos, nao andróides, só gtemos uma vida e este é o local para a expressarmos. Também publicamente. O mundo é a nossa casa.

d) Qual o teu maior sonho? [Não vale responder Paz, Amor e Felicidade ;) ]

Juro como me chamar Daniel, que é fazer o que sempre fiz: amar incondicionalmente como fazem as crianças ainda na inocência da idade, depuradas embora para este exemplo, das birras e afins. Esse é o motivo pelo qual um dia a minha lápide podia ter a inscrição "eis aqui alguém que muito amou" assim como o motivo pelo qual não ambiciono nada de mais na vida que não a doação, a entrega, a simplicidade genuína e amizade naturais. Depois vamos vendo que as coisas não são assim, por orgulho, maneira de ser, etc. etc., amor mas ainda há quem resista ;)  Acreditem que uma casa sumptuosa, dois jeeps e dois carros, um jardim a la Versailles ou um heliporto no cimo do telhado, sem partilha, nao traz felicidade a literalmente ninguém. Já o contrário nao é verdade.

e)Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? (Não vale brincar)

Sempre fiz a hemodiálise dos afectos, i.e., se estou abatido, ninguém me pode fazer nada. Geralmente recorro à música até descompressar esse abatimento. A tal hemodiálise. Sempre fui bombeiro de serviço e nunca me habituei a ter aquele amigo especial a quem contamos tudo. Acho que talvez gostasse, mas já devo ter muitas defesas. Todavia, necessito muito de colo mesmo que não esteja abatido. E uma simples palavra para mim faz toda a diferença no estado de espírito. Eu nunca disse que era adulto, pois nao? ;)

f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta?

Considerando que incorporo ambas as naturezas numa razão, diria de 50-50 (por isso este blogue tanto podia ter o rosto que tem como podia ter um registo completamente desabrido, havendo por isso posts híbridos sendo sempre eu) seria difícil optar por alguém comunicativo, espontâneo ou mais reservado. Tudo o que peço é feedback e sinceridade no que transmite, nas forma como transmite, etc. Pessoas aparentemente sensíveis e calmas mas se calhar com défices de raiva interiores que não manisfetam, têm de ser avaliadas com calma sob pena de julgar estar a falar com alguém que é exactamente como se apresente e afinal nao ser. Por natureza sou extrovertido. Na alma tenho tanto sol e energia como oceanos húmidos de lugares longínquos numa para-melancolia e subliminidade arrasadoras, mesmo para mim. E porque incorporo muito bem essa ambivalência, ser-me-ia difícil escolher um tipo de pessoa, embora mais inclinado para a abertura de onde supostamente se é mais verdadeiro... com tudo o que possa implicar de cortesia social, que não gosto!

g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável?

Sim, claro que há insatisfações para além do desejável.

h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas)

Muito mais crítico. Mas fundamentando. Não gosto de opinar pelo que sinto no momento, na hora, e depois saber que a minha opinião não tem correspondência com argumentos válidos no real. Mas sim, sou hiper-crítico.

i) Julgas-te impulsivo, de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral)

Sou impulsivo sim, faço filmes também, mas sobretudo sou muito exigente porque também dou tudo o que tenho. E isto aplica-se em quaisquer relações: sociais, com amigos, familiares, profissionais...

j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade)

Decididamente não. O que não invalida a vontade indómita de lhe pregar um sermão de duas horas pejado de razões que me levem a esse comportamento.

k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...).

Quem se contém já se está a anular como ser humano. Abraço, beijo, rio, faço tudo o que sentir privada ou publicamente. Não me refiro a patetices como rir alto numa cerimónia formal ou infantilizar atitudes. Mas não me contenho se o sentir conforme a ocasião. A sociedade é feita por nós, e os preconceitos, visões colectivas, socialmente aceites ou rejeitadas, surgem de uma energia invisível que são as nossas atitudes. Logo, disfarçar um sentir porque estou em público, é não apenas redutor de mim mesmo, como nao fomentar gestos iguais nos outros que assim, paulatinamente, poderão começar a expressar-se mais também em locais públicos, como um adulto que entrasse num escorrega sem problemas de saber que é dirigido a crianças.

l) Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia?

Orgulho não. Teimosia sim.

m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção?

Eu sei que fui quem formulou as perguntas mas isto daria resposta para um post. Sim e não com motivos para ambos. Mas nao conseguiria reproduzir aqui os argumentos de ambas as posições. Como disse daria para um post. Logo, como tenho ambas as respostas, daria uma óptimo advogado porque defenderia ambas as partes, embora regra geral tenha posições muito definidas. A priori a resposta tem de ser SIM, mas... não deixo de encontrar argumentos válidos para alguns nim. Sobretudo na adopção, já que o casamento até contradiz as actuais formas de união de casais hetero, e que são as uniões civis, de facto.

n) O que te faz continuar com o blogue?

A partilha. Tout-court. Li em muitas respostas de quem já levou o prémio Lobinho, que é uma necessidade, porque gostava de escrever, etc. Não é o meu caso. É mesmo pela partilha. por isso talvez nem sempre fale muito de mim. Ah... e também porque teoricamente posso conhecer outras pessoas... e enriquecer com elas... ainda que pelos blogues.

o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue?

Não diria influenciar, mas estimula. Gosto muito de ver comentários e leio-os sempre todos até antes de os ver no blogue. Por isso, não me é indiferente ter ou não comentários mesmo que eu tenha o hábito de, por regra, não os comentar.

p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela?

Antes de mais haver uma espécie de portal de bloggers onde se fizesse pesquisa como se fosse um googleblogger. Vamos dar a vários blogues de forma completamente acidental, e muito raramente intencional, dado que não existem páginas amarelas de bloggers portugueses, embora exista algo assim no Brasil. Depois, a blogosfera ideal seria aquela em que nao se tenta trazer para o mundo virtual as projecções de frustrações mais ou menos conscientes, irascibilismos, maledicência, críticas sociais, politicas, etc. a tudo  e a nada só porque sim, mas um pouco mais de cada um num mundo que permitiria (pelo menos virtualmente) a afabilidade e a amizade que eventualmente contingências sociais ou de outro cariz possam invalidar parcialmente. Mas até aqui se tomam as pessoas mais como potestativos inimigos do que simples bloggers. A comunhão do abraço, da simplicidade e da unidade na diversidade. Seria essa a blogosfera ideal.

q) Deviam haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê?

Participei num onde me decidi mesmo à última da hora. Fiz amizades e como ponho muito de mim em tudo o que faço, não gosto de banalizar nem ver num jantar uma espécie de encontro fortuito que se fica por ali. Devemos levar algo de nós e manter essa chama acesa se o outro também o merecer. Mas rotinizar ou generalizar os encontros de bloggers, pode banalizar o sentido, e também pode cair no mesmo que parcialmente caiu este questionario/descoberta/partilha que promovo, e onde muitos, de tão habituados a perguntas e desafios, o levaram quase para os mesmos moldes não aprofundando respostas e alguns quase telegraficamente respondendo, ou seja, banalizando o questionario, neste caso, banalizar o encontro é torna-lo um encontro como quem vai ali e já volta. Mas claro que também tem a ver com a disposição de cada um.

r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias)

Só pode rir do outro quem souber rir de si, por isso sim, sei rir de mim e rir dos outros, não como quem goza, e obviamente sei brincar comigo mesmo e brincar com os outros (só quem não é livre tem problemas e invoca o respeito para nao brincar consigo mesmo, ou seja, nao saber rir de si).

s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos?

Sou afectivo-dependente, demasiado entregue, acredito muito na Humanidade e particularizo isso com cada pessoa que se atravesse na minha vida, mas tenho de percebecer que nem todos ficaram na idade da inocência, o que me deixa (acreditem) triste.

t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso?

Referem sempre a minha boa disposição e riso contagiantes, inteligência, sensibilidade e cultura, e de facto orgulho-mo apenas no que à sensibilidade diz respeito (porque também sou muito inseguro e vulnerável e também já não tenho pachorra para as necessidades de afirmação que se têm na fase da adolescência ;).. No entanto, o lado reverso é que me vêem sempre muito confiante, seguro, auto-suficiente, (acredito que possa transmitrir essa imagem) mas nisso nao tenho orgulho nenhum pelo simples facto de parecer e não ser. E isso deixa-me desconfortável.

u) Entre uma televisão, um computador e um telemóvel, o que escolherias?

Um telemóvel, porque me permitiria comunicar, enquanto que com uma televisão seria difícil e um computador obrigaria a que estivessem on-line. Claro que me reporto sempre às interacções, porque não vejo a vida do ponto de vista meramente individual. Nao consigo imaginar-me a ser hedonista sem haver a componente humana e das emoções. Nao é por acaso que a solidão e o vazio dá lugar, no limite, ao suicídio. Poque fomos feitos para nos relacionarmos e nao para viver sozinhos em puro hedonismo.- Façam a experiencia. Vao morrer por dentro. É uma constação nao tao empírica quanto isso.

v) Elogias ou guardas para ti?

Elogio sempre e acho estranho porque é que as pessoas por norma, simplesmente nao elogiam. Percebo que elogiar, pode ser para algumas pessoas sinónimo de se diminuirem um pouco (os nossos mecanismos psicológicos são assim mesmo) mas isso acontece se as pessoas não os trabalharem. Logo, se ha algo a elogiar, deve-se faze-lo a torto e a direito. Não por ser nosso amigo ou familiar ou... mas pelo simples facto de que merece o elogio, ou as suas atitudes. Elogiar SEMPRE, desde que o sintamos, nunca por cortesia.

w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente?

Sim. Um sim sem quaisquer dúvidas.

x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática?

Sensível.

y) Perdoas com facilidade?

Já perdoei quando o outro ainda está a balbuciar palavras. Apenas tenho de saber que o outro reconheceu ter sido menos feliz por actos ou mesmo omissões. Ou seja, não reato (embora não hostilize) sem haver gestos mais ou menos declarados, mas basta existirem, e já nem me lembro do que passou. Nao guardo nada , a nao ser que objectivamente o outro se pense com razão e então fico-me num impasse.

z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa?

A morte de minha mãe. Mas já cá não está fisicamente, por isso...

***

Missão cumprida :) E espero que aqueles que agora levarem os selos, me imitem na decomposição das respostas :)

Entretanto, agora que a greve dos enfermeiros marca a quase actualidade, deixo-vos três blogues onde é tema recorrente nos posts e dois de partilha:

FRAGMENTOS REPARTIDOS
Espaço (Ysse)
Meu Mundo, Meu Arco Íris
Enfermeiro, o Enfermo
Murmúrios