20.3.23

DIA DA FELICIDADE


 
A felicidade, cujo dia internacional hoje se comemora, juntamente com o início da primavera, é aquilo que cada um concepcione ser, mas há alguns conceitos que precisam de ser desmontados, como quem atribui à riqueza a sua fonte.

Ter dinheiro, proporciona bem estar, conforto, prazer pessoal, imensa alegria, potencia a própria felicidade, mas não é a felicidade em si. Senão vejamos: uma pessoa deixada numa ilha paradisíaca com tudo ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial se não houvesse a partilha, o sentimento de que é desejada, amada, apreciada, de que ela mesma pode contribuir para a felicidade alheia, pelo que é, e não pelo que tem.

Uma pessoa, que por. ex. tenha um índice de felicidade de 45, e que por força de algum euromilhões passe para 90, ao fim de algum tempo, tende a voltar ao 45.

Sim, houve um pico no bem estar, no poder fazer tudo o que o dinheiro pode comprar, mas isso passa, porque a felicidade é insusceptível de avaliação pecuniária.

O dinheiro não compra o Amor, os Amigos de Verdade, a Saúde.

O dinheiro é uma necessidade inequívoca que contribui para nos sentirmos bem, sem apertos financeiros, o que nos alivia imenso e provoca um estado de desafogo e alegria;

é necessário para garantir as nossas necessidades básicas e os caprichos a quem o pode, porque não...?!

o dinheiro faz falta pelos mais diversos motivos, e por isso tem uma importância incontornável, potenciando, como digo, a própria felicidade, mas não pode substituí-la.

Porque a Felicidade somos nós que a fazemos pela atitude que tomamos (como estar agradecido pelo que se tem, sem se querer sempre mais e mais, qual criança que vai passando de brinquedo em brinquedo, porque cada um dos outros já não a satisfaz).

É sentir que caminham connosco, que somos compreendidos e desejados, que nos tornamos solidários com pessoas e causas.

É afagar um gato, receber as lambidelas de um cão que nos ama e, é feliz só por isso;

é sermos livres para não nos deixarmos levar pela maledicência e filtros sociais ou jogos escondidos;


é não ter medo de não ter esses mesmos filtros sociais, precisamente porque somos interiormente livres (o que requer coragem e liberdade...)...

É sermos simples e genuínos, aceitando tudo, excepto o que colida com valores universais de transparência, diferentes formas de amar (a Amizade, o Amor fraterno e o romântico, o simples Amor), bem como o sentido de justiça, independentemente de ser ou não connosco, porque o silêncio perante a maldade, é apenas outra forma de a não impedir...

É ser abraçado, ter o coração a palpitar, ver o mar e a lua, o nascer do sol, secar uma lágrima, entenderem a nossa, rirmos desbragadamente inocentes sem clichés sociais do politicamente correcto, fazer caminho com pessoas inteiras, ter saúde, partilhar, ouvir a noite, oferecer e receber um sorriso, pugnar pelos que necessitam de atenção e não pelos que a ostentam, sermos compreendidos, aceites, valorizados, livres...

É sempre nas coisas simples que se encontra a felicidade, e, sobretudo, na relação com o Outro.

E não se é feliz todos os dias, e por vezes parecemos amorfos, depressivos, tristes, nostálgicos, insatisfeitos, mas é próprio do ser humano não ser perfeito, pelo que, quem disser que o é, apenas está a mentir a si próprio...

E não se ser feliz todos os dias, como se houvesse um contínuo impacto de felicidade, é também sinal de uma mente saudável, já que, é tantas vezes ela, que nos gera sensações que não reconhecemos bem ou nem as sabemos ler e, por isso, nos provoca uma espécie de melancolia, sendo que a própria tristeza é uma tensão de equilíbrio.

É, aliás, também, por isso, que devemos estar continuamente atentos àquilo que sentimos, porque essas tensões de equilíbrio, essas emoções, surgem, precisamente, para nos alertar para a toxicidade de outras.

Tudo o resto é importante, mas acessório a que possamos dizer com propriedade que somos felizes, porque sem o Amor nas suas diversas vertentes, o mero hedonismo é um diamante reluzente perdido no deserto, mas ofuscado pelo sol que verdadeiramente brilha, sem precisar do uso nem do esplendor do diamante.

Como alguém que comprasse os maiores luxos, casas palacianas, carros topo de gama, mas que, depois, não tivesse com quem partilhar...

A partilha, é, ela mesma, um sintoma de felicidade, porque se faz sempre gratuitamente, e nunca as coisas estarão à altura de nos completar, se houver esse vazio humano.

Só o Amor, o que recebemos e damos gratuitamente, nos liberta e dá razão à existência...

8.3.23

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 



Tecnicamente, não devia existir o Dia Internacional da Mulher que hoje se comemora, porque, antes de mais, a igualdade é intrínseca ao género humano, como a cor, a raça, orientação sexual, condição social...
Foi, aliás, no dia 8 de Março de 1857, que as operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve e ocuparam a fábrica reivindicando melhores condições de trabalho, nomeadamente a equiparação de salários com os homens.
A manifestação foi reprimida com total violência, e as mulheres foram trancadas dentro da fábrica, posteriormente incendiada, tendo morrido cerca de 130 tecelãs carbonizadas. Em 1975, a data é oficializada pela ONU em homenagem a estas Mulheres e à sua Luta, estendendo-a a todas as mulheres...
E, já que se comemora o Dia da Mulher, que tem muito pouco de romântico, como muitos "dias de...", dado que são uma homenagem a algo trágico, e porque estamos atrasados em preconceitos,
(a desigualdade é um preconceito, tal como tudo o que ostraciza em função de uma ideologia pessoal, acrítica e seriamente danosa, a começar na dignidade da pessoa humana, efectivando-se também nas causas, nos direitos, na falta de respeito pelos valores alheios),
então que estes dias tenham a putativa pedagogia de dignificar simbolicamente, homenageando...
É lapidar esta frase de Simone de Beauvoir:
"Não se nasce mulher! Torna-se!".
E é isto que aprecio numa Mulher: a alma guerreira que nada deve ao género masculino, sem, por isso, deixar de ser uma Senhora!
Porque nem todas são mulheres e senhoras, caindo em extremismos de afirmação, ou em altivez de condição social ou soberba intelectual.
Mas estas, as mulheres que também são senhoras, e vice versa, possuem a "força do sofrimento" para suprir o que falta e a tudo acudir por piedade ou compaixão, não a obrigação ou resignação!
No entanto, são igualmente delicadas, como se não tivessem enterrado as mãos na terra, e acolhessem com o perfume do amor, e a suavidade da generosidade, aquilo que o próprio Homem e a vida, esbofeteiam no Outro, deixando-O nas cinzas do abandono e solidão...
Esta dupla qualidade, não é qualquer pessoa que a tem! Tem-na, quem possui a inteligência do coração, e a bravura da alma, numa firmeza simples de Ser e de se dar como pessoa...

2.3.23

DA SIMPLICIDADE COMO SINÓNIMO DE FELICIDADE


As coisas simples são sempre as melhores. As pessoas simples, são sempre as melhores. Uma vida simples, é sempre a melhor.


As explicações simples, eram a máxima de Einstein, pretendendo dizer que na complexidade e amaranhados intelectuais, está precisamente o engano.

Como a lei de Newton quando lhe "cai uma maçã na cabeça". A partir daí, bastou formular perguntas simples até chegar ao célebre "Eureka".

Por que é que uma maçã cai sempre perpendicularmente ao chão? Prque não se desloca lateralmente, ou para cima, mas constantemente em direção ao centro da Terra?

É óbvio que a razão é que a maçã é atraída pela Terra. Deve existir uma força de atração na matéria. E daí nasce o princípio da gravidade.

As respostas estão sempre nas coisas mais simples, voltava a dizer Einstein.

Só precisamos de pegar num próprio pensamento simples, e tentar aprender a língua daquilo que já se encontra à nossa volta.

Aliás, é famosa a frase de Einstein: "Nunca fiz qualquer descoberta através de processo racional do pensamento".

Uma vida simples, é sempre a melhor. Até, porque, tudo o resto é artificial ao ser humano, são necessidades que criamos e não as que precisamos mesmo de satisfazer.

As pessoas simples são as melhores...

22.2.23

QUARTA FEIRA DE CINZAS

 



Hoje é 4.feira de Cinzas, com as quais, simbolicamente, é feito o sinal da cruz pelo sacerdote na cabeça dos crentes, enquanto diz "Lembra-te que és pó, e ao pó hás-de voltar".

É um gesto a lembrar ao Homem de que nada vale a sobranceria, maledicência, orgulho, inveja, carros, roupas caras, relógios de ouro, excepto as atitudes que teve perante a vida e com o Outro, já que a vida somos nós que a fazemos, não uma predestinação a cumprir.

Chegando o seu último suspiro, tudo o que tinha deixou de ter, e de que lhe valeram as guerras, o dente afiado, a hipocrisia, o constante alimento do ego, o desejo infantil de querer agradar a todos, porque as coisas acontecem na mesma independentemente do nosso desejo?


Está, agora, literalmente reduzido a cinzas (como nos crematórios), e é apenas pó, e nem no caixão leva absolutamente nada, nenhum troféu ou o mais raro e valioso bem material que possuía...

António Damásio, - o neurologista e neurocientista português, conhecido por obras como:
"O Erro de Descartes",
"Consciência de Si",
"Sentir e Saber", ou
"A estranha Ordem das Coisas",

entre outros, trabalhando, não só no estudo do cérebro, mas, sobretudo, na implicação das emoções -, tal como o celebrizado Daniel Goleman, ou Carl Rogers, entre outros, tratam precisamente de um tema onde Jesus Cristo é um belíssimo exemplo: a inteligência emocional.

Há autores que escreveram precisamente sobre isso, aplicando o tema a casos concretos, como o psicoterapeuta Augusto Cury ("Análise e Inteligência de Cristo" ou "O Mestre da Sensibilidade"), analisando a sua atitude perante si mesmo, e tentando perceber a dos outros, tal como a sua reacção perante os acontecimentos, espelhada numa dinâmica comportamental.

Cristo soube fazer a denúncia do achincalhamento da dignidade humana, sem se render aos poderes instituídos, políticos e religiosos, embora, também, sem os desrespeitar ou convidar à insurreição!

Geraram-se grupos à sua volta, que o apoiavam como o libertador de querelas políticas, mas Cristo sabia ler acima das minudências e manigâncias, e também do aproveitamento que dele tentavam fazer.

Mas não pactua: denuncia. E soube denunciar com frontalidade e coerência, ao ponto de perder amigos, como previra com a negação de Pedro ou a traição de Judas!

É um tempo de reflexão, a Quaresma que hoje se inicia, e que termina no Domingo de Páscoa.

Saber dar a vida por aquilo em que, conscientemente acreditamos;

viver de forma coerente, independentemente do apreço ou troça alheios;

entender e compreender as emoções começando por ouvi-las, para depois as sabermos gerir;

fazer silêncio dentro de nós, por oposição ao ritual frenético do ruído da existência, e do excesso de estímulos a cada segundo...

repensar as nossas crenças sobre nós mesmos e sobre os outros,

desconstruirmo-nos diariamente, para diariamente nos voltarmos a construir...

Independentemente do plano divino e espiritual, Cristo era, igualmente, um Homem e, por isso, se irou contra os vendilhões do Templo,

sentiu a solidão enquanto os amigos (apóstolos) dormiam;
a negação de Judas e a traição de Pedro;

o caminho a pé, a determinada altura já de joelhos com a cruz às costas que os soldados romanos o obrigavam a levar,

a humilhação da néscia população, que quando lhe foi perguntada por Pilatos, quem queriam que soltasse por não ver culpa em Cristo, e perguntando à multidão "que crime cometeu ele?", mas sabendo que o tinham entregue por terem inveja dele, e porque não conseguia acalmá-los,

( embora, sabendo em consciência, que seria uma decisão iníqua e sem qualquer justiça, ou fundamentação que não a inveja),

vendo que o não podia libertar depois do julgamento, e com o povo a começar a revoltar-se, mandou, então, trazer água, e diante da multidão lavou as mãos e disse que não era responsável perante a morte daquele homem, rematando: "isso é com vocês".

Mandou, depois, soltar Barrabás como tinham pedido, ordenando, a seguir, que o chicoteassem e entregassem para ser crucificado...

a dor de ver as lágrimas da mãe pelo caminho enquanto carregava a cruz até ao Calvário;

a crucificação excruciante como faziam aos malfeitores e criminosos, pregando-o literalmente numa cruz;

o olhar para a mãe e um amigo mais próximo, João, dizendo "Mãe, eis aí o teu Filho", e voltando-se depois para João, dizendo: "Filho, eis aí a tua mãe"... expirando, de seguida, na cruz...


Em todas estas e outras situações, foi sempre o controlo das emoções, a entrega incondicional pelos homens, a autoconfiança na sua pregação,

- (um discurso que equivaleria hoje ao autodesenvolvimento, à independência relativamente às circunstâncias, valorizando primeiro a sua autoestima, mas sempre colocando o Outro no mesmo nível de atenção e ajuda, não um mero emponderamento pessoal, que, se não estivermos vigilantes sobre nós mesmos, tem o efeito da sobrevalorização, e, com isso, um padrão comportamental de superioridade), -

foi esse controlo, bebendo no seu próprio interior a força e a forma como (re)direcionava as emoções, que o ajudaram a suportar com a serenidade possível, num quadro profundo de angústia e ansiedade, toda a trama política e religiosa de que foi alvo...

Perguntaram a várias crianças o que era o amor, e Max, uma criança de 5 anos, respondeu: "Jesus podia ter dito palavras mágicas para os pregos caírem no chão, mas ele não disse isso. Isso é amor".


21.2.23

CARNAVAL


Não ligo muito ou quase nada ao Carnaval, mas percebo que a máscara tem o sentido catártico de uma disciplina socialmente imposta, como interregno lúdico se se declinassem as normas.

Todos os dias temos os mais variados corsos, onde o papel principal é sempre o nosso, já que os carros alegóricos (pessoais ou colectivos) passam sempre por nós.

Entre a defesa e a hipocrisia, entre o real e o intencional, as máscaras são produto de personalidades prensadas no despotismo de muitos.

Neste aspecto valorizo os simples, a simpatia do (sor)riso, a desresponsabilização salutar por tantos males do mundo! E esses sim, sabem brincar. Sem precisar de corsos ou trajes forçados.

O homem médio é, sem dúvida, o mais feliz.

De resto, a brincadeira despreconceituosa e simples do quotidiano, o humor e a alegria, - mesmo quando não temos muitos motivos para isso, mas cabe-nos fazer a nossa parte -, são imperativos numa sociedade tão dada ao formal, ao poder, ao status e ao dinheiro, como se apenas legitimassemos o ar pomposo e descredibilizássemos a simplicidade do ser.

Há pessoas que são os seus próprios campos de batalha.



Como diz Luidgi Pirandelo:

"Ao longo do teu caminho,
 conhecerás todos os dias,
 milhões de máscaras 
e pouquíssimos rostos..."



3.12.22

DIA INTERNACIONAL DO DEFICIENTE





Hoje é o Dia internacional do Deficiente! Ora, eu, não confio nas pessoas perfeitas, nas que se arrogam certezas que não têm, nas que salivam fel embrulhados em sorrisos, nas que não sabem rir, nas que não sabem actualizar decisões, nas que trocam a simplicidade pelo orgulho, a mentira pela verdade, a sabedoria pelas suas crenças, a humildade pela soberba intelectual!
Gosto dos simples e bem dispostos, dos que sabem apreciar o pormenor, dos que falam com o coração e têm a sensibilidade de viver, ao invés de competir!
Geralmente, é o ego a fonte do desamor, que caminha a par com a vaidade e a superficialidade, e, quando distorcido, o ego torna-se confuso e legitima tudo o que faz.
Há um statement que diz que a minha personalidade é quem eu sou, mas a minha atitude depende de quem tu és.
Hoje é o Dia Internacional do Deficiente? Está bem visto! Precisamos sempre de saber, que há espelhos que se negam a validar as nossas suposições, ou, dito de outra forma, que em todas estas situações, os deficientes somos nós!

20.11.22

DIA UNIVERSAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA



E os adultos, Senhor? Hoje é o Dia Universal dos Direitos da Criança, e houve um tempo em que ser criança era quase sinónimo de sub humano, vergadas às imposições dos adultos e quase equiparadas a coisas, mas fez-se uma tão grande apologia em contraposição a outros inglórios tempos, que o paradigma quase mudou, e além de já nascerem numa época ainda mais globalizada e tecnológica, só falta virem com livro de reclamações.
A pedagogia educacional reveste-se sempre de uma importância maior, quando se acentuam declives onde, ter, é um direito adquirido e reclamar é uma consagração!
As crianças merecem tudo, e educar é sempre uma tarefa exigente, mas igualmente um tremendo desafio numa era de convulsão de valores, onde, paradoxalmente, os pais e educadores em particular, se tornaram os escravos dos caprichos das crianças, endeusando muitas vezes egos em construção, sem se aperceberem que agora, os oprimidos são eles...
Não é perguntando constantemente às crianças o que é que elas querem, ou enchê-las de coisas, apenas coisas, sem pedagogia nem encanto nem magia, como os videojogos ou a tecnologia em geral, que se dá o melhor! É preciso estimular o dom da apreciação, do encanto, do tradicional, do simbolismo, da partilha e dos valores de entreajuda, do acessório e do essencial, e não da engorda cega de panfletos para escolherem o que querem, ou da tecnologia e hedonismo onde os valores estão ausentes e a formação humana desvirtuada, para não assistirmos a situações onde em vez de crianças temos Trumps e Bolsonaros em formação, caprichosos, néscios e arrogantes...
É suposto que os adultos sejamos nós...

19.11.22

DIA INTERNACIONAL DO HOMEM

 


No Dia Internacional do Homem, fica precisamente a pergunta do que é ser Homem!
É-se Homem quando assumimos as fragilidades, a condição humana de que somos precisamente isso.
Inculcámos em nós esta convicção do mais, da eficácia e da força, do ser mais e ter mais, da competição tácita, do tempo ocupado.
Tem-se a ideia de que ser-se Homem é ser autosuficiente, mas ninguém se faz e, muito menos, se realiza sozinho. Um homem deixado numa ilha solitária, com todas as mordomias ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial!
Esta terrível ideia de que ser Homem é bastar-se a si mesmo, é uma falácia das piores, porque se limita a endeusar o ego, tornando-se vítima de si mesmo, e viciosamente encontrando argumentos e desculpas para o seu próprio vazio!
É sempre na relação com o Outro que sabemos mais de nós, quer no processo individual de autoconhecimento, quer nos padrões mentais e comportamentais que nos levam à integração da nossa própria história.
A realização pessoal estará sempre incompleta, se não se fizer também no processo relacional, mesmo naquele que possa incomodar, porque é nesse incómodo que o Outro nos provoca sem saber, que somos interpelados a descobrir e interpretar o seu significado.
Sempre que recusamos a emoção e o sentimento, estamos a diminuir a nossa altura, artificialmente compensada com a imagem de tudo poder, e de tudo poder sozinho. É muito pouco inteligente, aquele que reprime as emoções, porque se auto limita e não cresce!
Não se trata dos serviços mínimos das defesas comuns para tapar fragilidades, mas da negação de que, ser Homem, é proteger e ser protegido, é dar afecto e saber que precisa também dele, é animar o outro sem esquecer que também sofre, é ajudar a secar as lágrimas, porque também ele precisa de chorar... até porque uma pessoa continuamente forte, segura e feliz, algures perdeu a noção de quem é, na imagem que forçadamente quer dar de si...
Muitos pensam que ser Homem, é ser um Super Herói, mas geralmente, quem pensa e age assim, é porque é ele que está a precisar que o salvem...


8.11.22

TO BE....

 




Tirando a conjugação do verbo "To Be", que já é viral no tweeter (por querer chamar a atencão sobre a importância do "I am"...oh welll), Cristina Ferreira lá usou alguns clichès, e até alguma linguagem de muitos mentores de desenvolvimento pessoal, quando pretendem retirar a carga negativa de algo, dizendo "...e está tudo bem"! Sim e não, mas isso seria outra conversa.

Todavia, disse, igualmente, algo já ouvido e conhecido: "Se não consegues realizar o teu sonho, é porque o teu sonho não era para ti"....
Ora, ou "está tudo bem", i.e., ou aceitamos a derrota e as falhas, não como uma imobilização e sensação de frustração e incapacidade, mas como aceitação de que não somos perfeitos, para voltar à carga, cada vez mais confiantes, ou pensamos "como não consigo fazer isto, é porque não é para mim"...
É um clichè, como digo, já ouvido, mas importa reflectir sobre ele, na generalidade, já que, cada caso é um caso!
"Doutor, não sei, não consigo realizar o meu sonho e, por isso, passo a vida frustrado e descontente"... diria, hipoteticamente, alguém a um psicoterapeuta! E, o psicoterapeuta, fazendo um atalho lógico e de imediato raciocínio, respondia: "Então, mas se já viu que não consegue, largue isso.".... Ou seja, em vez de tentar perceber do real interesse do que o paciente/cliente queria atingir, demove-o logo....
Obviamente que, como digo, cada caso é um caso, e é muito importante termos a noção dos nossos limites, para saber se não gastamos energias em vão, até porque, também há algo que todos devíamos saber: não basta sonhar: o sonho tem de ser exequível, além de ser necessária a profunda reflexão quanto àquilo que desejo, e àquilo que, verdadeiramente, quero alcançar.
Se, por exemplo, eu pensar que vou ser o astronauta que pisou pela primeira vez, Marte", (nem astronauta, quanto mais), obviamente não vou, é um sonho lídimo mas não exequível; ou ser um Nobel da Física ou da Química (quando, mal sei o básico, sou um perfeito retardado nessas matérias como em enésimas outras, mal sei a fórmula da maioria dos elementos da tabela periódica, quanto mais, e se me explicam em linguagem acessível algo que nunca dominei (nem que fosse física quântica para criança), retardadinho outra vez, e só conseguiria dizer "sim, sim, aham..." para não julgarem que era da Cercis...
Pois é, temos de ter muito cuidado, em sermos muito claros e objectivos connosco mesmos...
Sendo o sonho exequível, por maior dificuldade que haja na sua concretização, obrigando a uma enorme perseverância - resiliência, um termo em voga em psicologia mas que não é originário dela, e que não gosto de usar, embora não por isso -, e obstinação volitiva, uma férrea vontade, portanto, ao ponto de remar com muito sacrifício e durante muito tempo, então a concretização do sonho depende, efectivamente de mim, com todos os escolhos que irei enfrentar, até chegar onde, verdadeiramente, queira estar.
Todas os grandes sonhos, de Abraham Lincoln a George Lucas ou Rui Nabeiro, tiveram por detrás desencanto, desilusão, mas também uma tenacidade colada à pele, que passava por cima do tempo que levava; dos "nãos" recebidos; da angústia do investimento na incerteza (mais do que no próprio projecto), a realizar um único sonho...
No fim vale a pena, porque, tenha levado o tempo que levou, com imensos custos de dúvida, luta e espera, nunca se tornaram maiores do que o sonho. Por vezes, basta um momento pleno de realização pessoal, para, ainda assim, não lamentar todo o tempo e sacrifîcio, porque não há nada pior, do que vivermos uma vida que não era a nossa...


(Nota: atenção que não sou nenhum exemplo de automotivação, sou um perfeito amante da Simplicidade, dos pequenos nadas, da delicadeza dos gestos, de tal forma que, alguém sabendo disto, dir-me-ia "hás-de ir longe".
Mas eu falo em felicidade, sucesso é outra coisa, porque o dinheiro e a fama não trazem o Amor, o Afecto e Carinho de que todos necessitamos, e, também "a contrario senso", podemos levar uma vida de sucesso mas à míngua da felicidade...
Eu tenho a noção do preço a pagar por isso, mas nem todos nasceram com uma energia e determinação tais, que parecem aqueles oradores motivacionais tão convictos, que não é aconselhável haver tetraplégicos na sala, já que o discurso é tão empolgado e exagerado, que só falta dizer: "Levanta-te dessa cadeira! Tu consegues" com uma força vocal, que a seguir não tinhamos paraplégicos curados, mas todos esbardalhados no chão, hipnotizados por um não pedagógico exemplo (pronto, "caídos por terra" em vez de 'esbardalhados' que não fica bem a pessoas muito sérias)...

2.11.22

DIA DOS MORTOS?

 



Celebra-se hoje, dia 02, o dia dos Fiéis Defuntos.

No entanto, mais do que lembrar os mortos, é necessário reflectir sobre os vivos, e não na dor arrancada ao peito pelos que amámos e perdemos, como se também uma parte de nós se tivesse extinto, mas no juízo colectivo do socialmente correcto, nos cumprimentos e favores capciosos que fingem altruísmo e atenção, no passaporte obsessivamente carimbado com o visto da casa, do carro, do emprego e da família até à contracapa da reforma!
Se viver for isto, então, mais do que lançar um olhar ao passado pela recordação sentida de quem amámos, há que atribuir-lhes o exclusivo da vida, porque se os mortos têm a natural legitimidade de nada poder fazer, nós temos a ínsita obrigação de saber morrer antes do dia final. Morrer não é extinguir-se, mas dar-se. E dar é um acto de amor, de criatividade e de Vida!
A questão que se coloca, não pende para os que desapareceram do nosso convívio, nem para a dor que nos arranca a alma por já não termos quem amamos, mas para nós que continuamos o fado da criação, seguindo exemplos, moldando atitudes, aprendendo o erro! A experiência faz-nos! A morte também.
Afinal, que catálogo de emoções seguimos, ao ponto de hipotecarmos a vida?
A que prescrições sociais estamos restritos? À lógica do racionalismo puro? À moral egoísta? E tudo isto para quê? Credibilidade social?
Nada vale do que teorizamos na metafísica do viver.
Nada vale sem o amor inteiro e não pluri-partido, como uma baby-sitter que presta atenção a todos e a ninguém!
Porque, como o Sol irradia o seu brilho e fulgor, sem se importar com a sensibilidade de quem passa à luz, assim o Amor deve fazer, sem cuidar do egoísmo alheio.
Muita gente foi ontem e vai hoje aos cemitérios, mas talvez, afinal, que muitos dos mortos sejamos nós.