13.3.25

12 ANOS DE PONTIFICADO


"Estou muito contente com a minha renúncia, porque Deus preparou, depois de mim, um fenómeno" disse o Papa Bento XVI sobre o seu sucessor, o Papa Francisco, sobre quem passam hoje doze anos sobre o seu pontificado!

E é, de facto, um fenómeno. Um fenómeno do que é ser-se Pessoa, e não apenas um conjunto de nervos, ossos e tendões.

Do que é ser-se Humano.
Na sua força e resiliência.
Na sua luta e sofrimento.

Com toda a vulnerabilidade que caracteriza a coragem da condição humana, em não a esconder em comportamentos e palavras que apenas traem quem o faz.

Um fenómeno de serviço e de entrega.
De humildade.
De um verdadeiro representante de Cristo.

Um fenómeno que atesta, não só pela fé, mas pelas diárias dificuldades com que continuamente é ferido, acossado, vilipendiado, por quem nele vê aquilo em que não acredita.


E, por isso, o tentam continuamente humilhar e encontrar algo que o desminta, com a vil certeza do que os factos negam.

Um fenómeno de força e paz.
De serenidade na maior provação comunitária e pessoal.

Só um espírito inabalável, só uma construção diária com gestos efetivos e não apenas palavras, podem colocar o Papa, neste caminho onde chove.


Ainda ainda assim, avança sozinho pela praça, carregando a noção da finitude humana, da vaidade dos homens, da soberba dos mais vis.

Este é o fenómeno de que falava o seu antecessor, Bento XVI.

Um fenómeno de quem tem uma extraordinária noção do que é, verdadeiramente, ser-se Pessoa.

E, tudo isto, a ausência da ilusória omnipotência ainda que em forma de arrogância, desprezo ou vaidade, que na sua maioria o mundo faz, advém-lhe, precisamente, pelo mesmo motivo do testemunho de Cristo, que na sua vida pública e Calvário, soube sempre manter a presença de espírito, a inteligência emocional, mesmo já na cruz.

Em ambos, a força nunca esteve ou está, nas crenças pessoais dos tantas vezes falaciosos pensamentos, que quase sempre vemos como a indefetível verdade.

A força esteve e sempre estará na capacidade de entender, para além do visível, para além da maledicência do ruído acrítico, que só a humildade pode suportar a fim de a converter em força, pujante e de vida, que não é visível senão pela sensibilidade de entender as ações.


Aqui chegados, com facilidade se conclui e infirmam as palavras de um grande doutor da igreja, Santo Agostinho, quando diz:

"Ama...e faz o que quiseres"!

É porque, só quem verdadeiramente conhece o Amor, o despojamento e a entrega, pode ser verdadeiramente livre.

E, só quem é verdadeiramente livre,pode quebrar as regras...

Parabéns, Papa Francisco!
⚜️

8.3.25

DIA DA MULHER


A foto superior esquerda e razão do dia de hoje, é a poesia e o romantismo que se celebra como sendo o Dia da Mulher. Uma foto assim.

Foi no dia 8 de Março de 1857, que as operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve e ocuparam a fábrica ao reivindicarem melhores condições de trabalho, nomeadamente a equiparação de salários com os homens.

E a manifestação foi reprimida com tal violência, que as trancaram dentro da fábrica, posteriormente incendiada, tendo morrido cerca de 130 tecelãs carbonizadas. Mas podia ter sido apenas uma que o drama não diminuía.

É esta a poesia que hoje celebramos. E, em 1975, a data é oficializada pela ONU, precisamente como homenagem a estas Mulheres e à sua Luta, estendendo-a a todas as mulheres.

Só que, tecnicamente, não devia existir este dia, uma vez que a igualdade é intrínseca ao género humano, seja em razão de cor da pele, raça, confissão religiosa, condição social, orientação sexual, etc.

Aliás, não é só o Dia da Mulher que, pelos motivos expostos, tecnicamente não devia existir, mas também tantos outros "dias de", onde também houve dramáticas histórias para, depois o celebrarmos, homenageando uma vitória ganha com sangue.

Mas, repito, é um lapso, já que a mulher vale pelo que é, e não por lhe ser dedicado um dia, reduzindo-a a uma espécie de minoria, como se não merecesse de per si, o estatuto que supostamente só o homem tem, como se houvesse uma casta humana, fruto da fabricação de preconceitos.

O que pretendo dizer, é que o simples facto de existir este dia, é porque ele existe por comparação, i.e., não pelo simples facto de serem mulheres!

(Acrescentem-se os outros "dias de ", como contra o racismo e xenofobia, homofobia, discriminação de pessoas com deficiência física ou psíquica, doentes, sós, divorciados ou solteiros, crianças, trabalhadores com funções socialmente desprezadas, emigrantes... a lista é infindável).



Este dia da Mulher, existe como uma espécie de quotas de paridade no parlamento ou em empresas. Existe como alguém de quem nos devemos lembrar de valorar, pelo menos neste dia, e é isso que é tecnicamente mau, não a instituição deste dia, por paradoxal que pareça!
Existir, por exemplo, o dia do homem, seria dizer que teria de lutar para ser Pessoa. O mesmo aqui. Ora, a dignidade da pessoa humana, tal como o Amor, não tem sexo.

É, de resto, lapidar, esta frase de Simone de Beauvoir:
"Não se nasce mulher! Torna-se!".

Porque nem todas as mulheres são senhoras, caindo em extremismos de afirmação, ou em altivez de condição social ou mera soberba intelectual.

Mas estas, as mulheres que também são senhoras, possuem a "força do sofrimento" para suprir o que falta, e a tudo acudir por piedade ou compaixão, não por obrigação da sua condição de género.

Esta dupla qualidade, não é qualquer pessoa que a tem! Tem-na, quem possui a inteligência do coração, e a bravura da alma, numa firmeza simples de Ser e de se dar como pessoa.

E para não ser treslido, o que pretendo, afinal, dizer, com isso de senhora?

O que, de facto, pretendo dizer, com este qualificativo de senhora, antes que alguma feminista, - por natureza pessoa extremista e não raras vezes de um desdém e falta de formação execráveis -, ressalvando, obviamente, as que com seriedade dignificam o papel da Mulher, sem estes dentes afiados contra tudo e todos, num comportamento totalmente assimétrico, cínico e incongruente, além de ruidoso -, encontre aqui putativas condições favoráveis ao seu próprio veneno.


Quero dizer, tão só, isto: são aquelas pessoas, que tendo enterrado as mãos na terra, não deixam, por isso, de acolher com o perfume do amor, e a suavidade da generosidade, aquilo que o próprio Homem e a vida, lhes esbofeteiam, deixando-as nas cinzas do abandono, discriminação e solidão.

Que choram, lutam, sofrem, sem que nada ou ninguém pareça fazer jus a uma tal luta interior, que quase parece tão natural uma força humana
assim. E, porém, a revolta não se instaura no seu espírito de forma definitiva, nem o desprezo ou a generalização do que lhe acontece.

Sabe vestir-se com o dom da oblação e da partilha, da sensualidade e rectidão de sentimentos, de agradecimento a si mesma, à vida e a quem sabe que lhe quer bem.

Sabe dançar e pisar o tapete vermelho das suas próprias glórias, sem que, por isso, cobre nada do que faz, ou sequer ostente o seu dorido troféu.

E, isto, numa espécie de atitude de natural resiliência, mas que as mulheres, as mulherzinhas que não saem de gritos e combates estéreis, nem sequer conseguem entrever.

Mulherzinhas também, porque tanta vez mais reivindicativas, do que efetivamente lutadoras na sua própria vida pessoal, que consideram um exclusivo onde só legitimam o que querem.

Há sempre Trumps no meio de Bidens ou Obamas, falando na generalidade.

Não conhecem, nem sabem, o que é a elegância de uma Senhora, que tendo posto as mãos na terra e na lama das adversidades, e mesmo injustiçada nos pântanos sociais, tantas vezes travestidos em falácias, não deixa, por isso de ser uma Senhora! É isso que lhe dá autoridade: não o contínuo vociferar em estéril ruído.

Sem querer particularizar, e apenas porque acaba de me assomar à mente, escrevi a propósito de minha Mãe, pelo seu dia de anos ou dia da Mãe, que era, simultaneamente, tanto uma flor delicada, uma frágil pétala na sensibilidade, quanto um cato do deserto.

Porque enquanto cato, aprendendo a sobreviver às piores secas, numa bravura a que chamamos resiliência, e escondendo nos aparentes picos afiados, a pétala que também era.


Mas a vida não se padece de contemplações, e, por isso, essa dualidade de luta/fruição numa espécie de saudável bipolaridade na vida, nem sempre é perceptível, quer, por outras mulheres, quer, por vezes, ainda menos pelos homens.

Sempre foi, a minha Mãe, um exemplo do que digo. Uma enorme grandiosidade de espírito, da qual não se parecia dar conta, num impressivo exemplo de Mulher-Senhora.

Nomeadamente a sua bonomia, generosidade, empatia, simpatia, acolhimento, sem que deixasse de ter o currículo do sofrimento da condição humana, quantas vezes auto superando-se, não efusivamente, mas com a tristeza solitária pelo que de adverso lhe cabia.

E, ainda assim, sem nunca se comparar ou invejar com quem quer que fosse, porque a responsabilidade é sempre individual na condução da nossa vida.

E, é esta inteligência do coração, é esta inteligência emocional que parece inata a determinado calibre de pessoas, que sumaria bem a polivalência da mulher, talvez porque ao contrário dos homens, se preocupem menos nos considerandos e egos, e mais com o pragmatismo e os afectos.
De resto, só por isso, já são uma lição para tantos homens...

BRINCAR ÀS ELEIÇÕES COM O MUNDO EM EBULIÇÃO?

Escrever sobre política nunca foi qualquer paixão minha, e sempre que, tal como agora, ocasionalmente o fiz, nunca foi por ideologia política, mas por um férreo sentido de justiça que, de situações tão gritantes, me obriga a exprimir que, é exatamente por essa questão de justiça que escrevo, e não por partidarismos ou afins!

Trump e, na generalidade, a distopia mundial (é que nem é só internacional), e agora com as gigajogas de moções de censura, inquéritos parlamentares e moção de confiança, onde, obviamente, o interesse parlamentar da oposição é aproveitar espremer a "teta" até conseguir diminuir politicamente o primeiro ministro a fim de , finalmente, conseguir algum pretexto para o derrubar, vamos, então para eleições outra vez?

Isto está assim tão mau para brincarmos às eleições? E tendo, sobretudo, em conta, o momento fragilíssimo e perigoso da nova e emergente ordem geopolítica, e, pior, MILITAR?
Mas e, também como disse o PS, - (que despoletou toda a situação, acompanhado por um jornal de referência (o "Expresso" ), a fazer de pasquim ou de "Correio da Manhã)" - , se queriam tanto aferir da putativa obtenção de privilégio na empresa familiar do primeiro ministro, porque não deixar isso para a tal Comissão de Inquérito, nesta ou na próxima legislatura, como o próprio PS referiu?

Em vez disso, e de se terem posto a brincar com o fogo porque, nesta conjuntura, o que no imediato tem de importar, é a estabilidade política para poder fazer face, não só às realidades do país, como à urgência coletiva da Europa em se reestruturar e repensar, tornou-se-lhes indiferente ir a eleições! A SÉRIO?!?

Quanto tempo teria durado o governo de António Costa, - embora Pedro Nuno Santos e, precisamente por causa disso, mesmo tendo sido ministro, e se tenha afastado há muito dos costistas -, quanto tempo a maioria absoluta de Costa durante aquele ano teria durado?

Se a dureza e excesso de zelo atuais da oposição, não pela coisa em si, mas por mero exercício de ataque providencial político, tivesse sido usado no ominoso governo maioritário e autoritário de António Costa, na forma e na substância, quanto tempo teria o anterior governo durado?

Mas já todos se esqueceram da tão grande mixórdia de casos, que se tornou numa triste anedota, semana sim semana não, haver sempre um novo problema, um novo ministro, um novo secretário de Estado, uma nova taxa, cada uma das situações mais grave do que a anterior?

Foi tanta, mas tanta a pouca vergonha leviana, autoritária e desprovida de qualquer respeito mínimo pelas próprias instituições (que pessoalizaram a seu bel prazer) , e pelo povo, incluindo a maioria socialista que, ciclicamente parece uma cassete a votar cegamente, como se a realidade não fosse dinâmica nem houvesse uma unha a apontar ao seu dirigente, antes pelo contrário?

Quanto tempo teria durado aquele que se tornou objectivamente um ditador nesse ano de maioria absoluta, se se tentasse, com este mesmo afinco, e podendo-se, repito, tirar dúvidas de algo que me parece quase obrigar um homem a cortar-se ao meio a fim de poder acalmar o aproveitamento meramente político da oposição, encabeçado pelo PS?

Então porque é que durou? A oposição não fez nada na altura? Fazer, fez, ou melhor, tentou, mas acabou por perceber que com um Costa, que sempre foi vira casacas ainda era presidente da Câmara de Lisboa, nunca iria conseguir nada, por ter uma maioria tão absoluta, que até explicações deixou de dar ao país de tantos episódios verdadeiramente graves, os tais que se tornaram numa infeliz anedota!

Mas Costa, diga-se em abono da verdade, sempre foi igual a si mesmo. E conseguiu, inconcebivelmente, a maioria absoluta (até ali era poder tripartido, primeiro formalmente, e depois informalmente), apresentando de forma trocista na televisão, quando perguntado qual o orçamento de Estado que iria apresentar, com o mesmo dossier onde constava o mesmo orçamento de Estado.

Precisamente o que tinha feito cair o seu governo com o apoio da esquerda.
E respondeu "Este! O mesmo!"
E fê-lo na pior forma lacónica e verdadeiramente triste.
Mas a culpa é de quem vota!

E Costa sempre foi igual a si mesmo, nomeadamente na forma como chegou a primeiro ministro, para legal mas ilegitimamente, ter feito o arranjinho puramente aritmético, e assim ir com a esquerda radical, colegialmente governar.

Legal mas ilegítimo porquê? Eu explico para quem só olha à rama, e se esquece ou não cuida saber dos pormenores, que são sempre os mais importantes!

Legal, porque está constitucionalmente prevista a figura de um acordo de incidência parlamentar para formação de um governo; mas não basta para ser legítimo: há um grande MAS!

É que, quer no espírito do legislador, quer mesmo na letra, desse acordo de incidência parlamentar que tenha de vir a ser usado, resulte um governo o mais próximo possível daquilo que foi a vontade popular expressa nas eleições!

Ora o resultado da expressão popular, foi de um governo de centro / centro direita, e através de um expediente parlamentar, a representação do povo passou a ser a oposta, i.e., uma esquerda radical?

A expressão popular foi ignorada e subvertida em nome do tal arranjinho aritmético, mas não é por se conseguirem mais deputados, que automaticamente o resultado das eleições mudou!

Este princípio não foi acautelado pela única pessoa que tinha a obrigação ética, moral e constitucional de o fazer, recusando usar esse expediente de formação de um governo com incidência parlamentar, precisamente por não estar de acordo com o que é exigido (um governo o mais representante, o mais próximo possível, daquilo que foi a manifestação do resultado do voto popular).

Então, porque não o fez? Porque, muito embora em fim de mandato, o Presidente da República estava politicamente desgastado, e como que a sua credibilidade pareceria menor, muito embora formal e tecnicamente nunca o fosse! (Diga-se, já agora que retrospectivo Costa, que também Cavaco Silva foi um perfeito ditador quando foi primeiro-ministro, e mais: tal como na governação de Costa, a corrupção era visível).

Quanto tempo teria durado, pois, o governo de maioria absoluta de Costa, se fosse, como o atual, de uma minoria?

É que não é, exceto por grosseiro absurdo, equiparável ao caso atual!

O PS é, de entre todos os partidos, - e eu costumo votar naquele que me parece mais coerente quando há eleições, sejam autárquicas, legislativas ou presidenciais (embora aqui, supostamente independente de partidos, mas, ainda, assim, por eles apoiados) -, o mais fiel ao chavão de que uma mentira muitas vezes repetida, torna-se verdadeira!

Quanto tempo teria durado esse governo de maioria absoluta que perdeu para o atual governo, se esta coscuvilhice de bairro parvónia, também tivesse existido e, repito, só não aconteceu porque com maioria absoluta, Costa depauperou, degradou o próprio Estado de Direito, impedindo um escrutínio responsabilizador!?

E fê-lo, nomeadamente, através das instituições do Estado, e com atitudes indignas de uma democracia, recusando-se a qualquer tipo de explicações, nas tais infelizes anedotas semana sim semana sim, cobrindo sempre todos os seus ministros e secretários de Estado, em tanta mas tanta trafulhice e corrupção despudorada, que já nem tentavam dissimular.

Isso tornou-o, não apenas cúmplice, como autor moral por omissão, como fomentador da lei de "isto é tudo nosso, temos maioria, não seremos fiscalizados, e comigo sabem bem que podem contar por pior a vossa asneira/aproveitamento".

É que, os casos foram, de facto, tantos, e a memória é tão curta em política, em especial nos eleitores, que já mal se lembram apenas de alguns, como as indemnizações por baixo da mesa e a TAP, e todas as semanas um escândalo político sempre sob a proteção de Costa, o despedimento de um alto funcionário por whatsapp e com direito a ameaça de ataque físico, sem falar em algo tão mas tão importante, como a vida pessoal de cada português.

Dado que Costa quis seguir uma política de direita (e isto, tal como tudo o que escrevi de factual até aqui, é exatamente isso: factual e não opinativo), fez uma belíssima figura em Bruxelas, apresentando um super avit e, com ele, amortecendo uma considerável parte da dívida externa portuguesa, o que é, objetivamente ótimo, desde que não tivesse como custo simétrico, um empobrecimento brutal de todos os portugueses.

Ninguém se parece ou quer lembrar, de não sentirem dinheiro no bolso, em particular nesse ano de governação socialista, que precedeu este governo.

Ninguém se atrevia a pensar em ir de férias algures, de tão mal estavamos, mas não existia contestação social, porque foi uma larguíssima maioria que votou nesse mesmo governo de António Costa, anterior a este, e por uma questão ideológica não se iam contradizer nas ações.

Então com um excedente orçamental, com um super avit, Costa embeiçou-se pelos holofotes de Bruxelas esquecendo-se que também precisava de governar para dentro, sabendo do empobrecimento em que todos nos encontravamos, precisamente por não ter sido equitativo na gestão do super avit! Deveria, obviamente, ter sido mais equitativo na gestão do excedente orçamental.

A sério? Eleições antecipadas?

Escrevo numa sexta feira, em pleno turbilhão de tudo, e já com a moção de confiança marcada pelo governo para a próxima terça feira, dia 11, depois de duas moções de censura. Mas, e se estas [as eleições] vierem mesmo a acontecer? Não deveria pelo menos o partido com maior responsabilidade (ou suposta) na oposição, ser o que menos esbracejasse e fomentasse, tornando-o num gravíssimo caso de lesa pátria, que não é, exceto pela forma como cada um entende agravar os motivos de acordo com o seu interesse partidário?

Se estas eleições vierem mesmo a acontecer, não que me sinta revoltado (isso fiquei com a falta de ética e decência na formação de um governo legal mas ilegítimo - mas os valores éticos parecem andar de mãos dadas entre eleitores ideológicos e partidos), então havendo eleições não ficarei desta vez revoltado, mas triste. Sinceramente.

É como se meia dúzia tentasse convencer uma maioria de pessoas que os ajudem no bem de todos, em particular agora com uma crise internacional e, sobretudo, uma errática e sempre imprevisível política de Trump, tão perigosa quanto mísseis aleatórios, mas ninguém achar isso grave e, pelo contrário, desdenharem dos tempos deveras negros em que vivemos. E teremos de acomodar a nossa quota parte de investimento em armamento, agora que a Europa deixou de poder contar com os Estados Unidos! Tal, significa que haverá menos dinheiro orçamentado, que na prática significa sacrificar alguns setores da sociedade e do Estado.

É que temos um lunático mor, acompanhado de outros psicopatas com poder, respetivamente Trump e Musk, mas também toda a administração, obviamente, como o arrogante Secretário de Estado Vence, ou a porta voz, que ajudam a legitimar o impensável em tão grande retrocesso civilizacional a que assistimos.

O avanço dos tão incrivelmente difíceis direitos da pessoa humana, com o preço de milhares de vidas, conquistados ao longo dos séculos, e a primazia de um Estado de Direito e obrigações jurídicas internacionais, nomeadamente em caso de guerra, tendo na matriz judaico cristã (que não tem que ver com credos confessionais), quanto a Democracia, a Ética, a Responsabilidade e Solidariedade, o seu diapasão.

Passámos das legítimas guerras económicas entre países, (de resto a Rússia estava relegada porque as potências eram basicamente os Estados Unidos e a China, e a Rússia passou a ser um ator secundário como qualquer outro país, o que também dá para reflectir), ou seja, passámos de um mercado livre, de economia aberta, para o mercado das armas, que sempre houve, mas embora nada se possa fazer em países cujas ditaduras e teocracias só funcionam assim, o Ocidente estava bem mais evoluído e concertado, pós II Guerra Mundial, para agora, incredulamente, regredir ao tempo dos canhões, com a agravante de outtos tipos armas mortais!

E, voltamos, então, a uma afirmada e aberta lei da selva, como se ainda estivéssemos no império de Alexandre, o Grande, conquistando terras!

É tudo tão instável e perigoso, num mundo co dependente, que gostaria de lembrar o que nunca devia ser esquecido, e ironicamente foi nos Estados Unidos que vi:

"TOGETHER WE STAND!
DIVIDED WE FALL"!

5.3.25

LEMBRA-TE QUE ÉS PÓ...

 

Hoje é 4.feira de Cinzas. A História da Humanidade, tem tanto de heroísmo como de cobardia. Certo é que serpenteamos entre a ética e a coisificação; entre o amor e o poder.
E, porém, como no tempo quaresmal que hoje se inicia, "lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar!"
Absurdamente, porém, assistimos a um dos piores períodos da História da Humanidade! A guerra já começou há três anos, pelo ocioso motivo de querer invadir a casa do vizinho, tornando-a sua, não se coibindo de chacinar quem lá se encontre, mesmo recebendo a legítima oposição!
Cristo soube fazer a denúncia do achincalhamento da dignidade humana, sem se render aos poderes instituídos, políticos e religiosos embora também sem os desrespeitar ou convidar à insurreição.
Mas não pactua: denuncia. E fê-lo com frontalidade e coerência, ao ponto de perder amigos, como previra com a negação de Pedro ou a traição de Judas!
Zelensky faz-me lembrar, salvaguardadas as diferenças, o próprio Cristo, e também, numa escala macro, a negação de países europeus na ajuda da sangrenta batalha ab initio, ou a infame traição, não dos Estados Unidos, mas de um ominoso Trump e sua administração, que não representam o que tem sido esse país.
Mas há mais nesta Quarta Feira de Cinzas, em que o sacerdote coloca na testa dos cristãos, cinzas feitas das palmeiras do Domingo de Ramos do ano anterior, ou seja, de quando Cristo é aplaudido como o Messias, recebido como o grande libertador político!
Vladimir Zelensky tem sido de um estoicismo, de uma bravura, de uma resiliência, desde o primeiríssimo minuto, que evoca Cristo como um mestre de Inteligência Emocional.

António Damásio, que fez anos há cerca de uma semana, neurologista e neurocientista português conhecido por obras como o "Erro de Descartes" e tantos outros, trabalha no estudo não só do cérebro mas, sobretudo, das emoções.
Cristo é um belíssimo exemplo de inteligência emocional, sabendo perceber a necessidade do outro e de calçar os seus sapatos.
Zelensky ou qualquer homem na sua posição e com a sua postura, faz precisamente aquilo de que trata a Inteligência Emocional. Como lidar com as suas emoções e com as dos outros? Muitos outros. Diferentes outros. Ao ponto de ter de negociar uma invasão?
Em que absurdo vivemos, para, sequer, imaginar a presente situação mundial?
Não é, porém, muito difícil, saber porque entrámos nesta distopia de territórios invadidos, como também em Gaza, e de traições e indiferenças!
Trump chegou a publicar um vídeo de IA há exactamente uma semana, que, pessoalmente, nem aqui quis reproduzir. Nesse vídeo, a Faixa de Gaza aparece transformada num resort de luxo.
Vêem-se figuras do próprio Donald Trump em estátuas de ouro e souvenirs, bem como de Elon Musk ou Benjamin Netanyahu, a celebrarem ostensivamente uma suposta “libertação” daquele enclave palestiniano, onde já morreram mais de 47 mil pessoas, vítimas da guerra de Israel contra o Hamas.
E ali estão as imagens egoicamente autistas de praias paradisíacas, iates luxuosos, arranha-céus modernos, e Elon Musk, não só multimilionário, dono do X e da Tesla, mas também Conselheiro da Casa Branca, surge várias vezes a lançar notas de dinheiro ao ar, e o primeiro-ministro israelita aparece de fato de banho, ao lado de Trump, a beber cocktails junto a uma piscina.
É assim, devagarinho, sem nos importarmos com o fogo que arde, que vamos legitimando e normalizando com o tempo, aquilo que corrompe a natureza humana em toda a sua bondade e humanidade.
Porque um gesto egoísta em cada quadrado pessoal da existência humana, pode parecer inócuo, isolado, sem cuidarmos, sequer, se não é já uma metástase de outros que assobiamos para o lado.
E, tal como aconteceu com o nazismo,literalmente o império do mal! O relativismo passa a norma. E, é por isso, que falar da formação humana, indo contra a corrente hedonista dos nossos dias numa sociedade perdida de valores, onde cada um acaba por ir organizando erraticamente os seus,
é tão importante quanto o ar que respiramos.
E em pleno alto mar de redes sociais, da urgência de fazer scroll sem parar, com tempo, tudo se torna concomitante, e damos por nós num caos organizado! Mas que é anti natura. É caos.

É, também, quando temos de parar.
De voltar ao início.
De fazermos um reset coletivo, mas que não se consegue sem começar pelo individual.
E lembrar o que lembra o dia de hoje:
"Lembra-te que és pó
e ao pó hás-de voltar!"
Até lá, não podemos continuar "passivamente indiferentes", legitimando, por omissão, literalmente tudo, porque os imperativos éticos do bem e do mal parecem, agora, pertencer, ao que cada um concecione ser bem ou mal.
Só que não. É objectivamente Mal, a distopia em que vivemos, por maiores os argumentos invocados, incluindo jurídicos, já que o facto de ser lei, não significa que seja justa ou moral...
Se perdemos os valores em nome de uma modernidade doentia, então os doentes somos nós!