A foto superior esquerda e razão do dia de hoje, é a poesia e o romantismo que se celebra como sendo o Dia da Mulher. Uma foto assim.
Foi no dia 8 de Março de 1857, que as operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve e ocuparam a fábrica ao reivindicarem melhores condições de trabalho, nomeadamente a equiparação de salários com os homens.
E a manifestação foi reprimida com tal violência, que as trancaram dentro da fábrica, posteriormente incendiada, tendo morrido cerca de 130 tecelãs carbonizadas. Mas podia ter sido apenas uma que o drama não diminuía.
É esta a poesia que hoje celebramos. E, em 1975, a data é oficializada pela ONU, precisamente como homenagem a estas Mulheres e à sua Luta, estendendo-a a todas as mulheres.
Só que, tecnicamente, não devia existir este dia, uma vez que a igualdade é intrínseca ao género humano, seja em razão de cor da pele, raça, confissão religiosa, condição social, orientação sexual, etc.
Aliás, não é só o Dia da Mulher que, pelos motivos expostos, tecnicamente não devia existir, mas também tantos outros "dias de", onde também houve dramáticas histórias para, depois o celebrarmos, homenageando uma vitória ganha com sangue.
Mas, repito, é um lapso, já que a mulher vale pelo que é, e não por lhe ser dedicado um dia, reduzindo-a a uma espécie de minoria, como se não merecesse de per si, o estatuto que supostamente só o homem tem, como se houvesse uma casta humana, fruto da fabricação de preconceitos.
O que pretendo dizer, é que o simples facto de existir este dia, é porque ele existe por comparação, i.e., não pelo simples facto de serem mulheres!
(Acrescentem-se os outros "dias de ", como contra o racismo e xenofobia, homofobia, discriminação de pessoas com deficiência física ou psíquica, doentes, sós, divorciados ou solteiros, crianças, trabalhadores com funções socialmente desprezadas, emigrantes... a lista é infindável).
Este dia da Mulher, existe como uma espécie de quotas de paridade no parlamento ou em empresas. Existe como alguém de quem nos devemos lembrar de valorar, pelo menos neste dia, e é isso que é tecnicamente mau, não a instituição deste dia, por paradoxal que pareça!
Existir, por exemplo, o dia do homem, seria dizer que teria de lutar para ser Pessoa. O mesmo aqui. Ora, a dignidade da pessoa humana, tal como o Amor, não tem sexo.
É, de resto, lapidar, esta frase de Simone de Beauvoir:
"Não se nasce mulher! Torna-se!".
Porque nem todas as mulheres são senhoras, caindo em extremismos de afirmação, ou em altivez de condição social ou mera soberba intelectual.
Mas estas, as mulheres que também são senhoras, possuem a "força do sofrimento" para suprir o que falta, e a tudo acudir por piedade ou compaixão, não por obrigação da sua condição de género.
Esta dupla qualidade, não é qualquer pessoa que a tem! Tem-na, quem possui a inteligência do coração, e a bravura da alma, numa firmeza simples de Ser e de se dar como pessoa.
E para não ser treslido, o que pretendo, afinal, dizer, com isso de senhora?
O que, de facto, pretendo dizer, com este qualificativo de senhora, antes que alguma feminista, - por natureza pessoa extremista e não raras vezes de um desdém e falta de formação execráveis -, ressalvando, obviamente, as que com seriedade dignificam o papel da Mulher, sem estes dentes afiados contra tudo e todos, num comportamento totalmente assimétrico, cínico e incongruente, além de ruidoso -, encontre aqui putativas condições favoráveis ao seu próprio veneno.
Que choram, lutam, sofrem, sem que nada ou ninguém pareça fazer jus a uma tal luta interior, que quase parece tão natural uma força humana
assim. E, porém, a revolta não se instaura no seu espírito de forma definitiva, nem o desprezo ou a generalização do que lhe acontece.
Sabe vestir-se com o dom da oblação e da partilha, da sensualidade e rectidão de sentimentos, de agradecimento a si mesma, à vida e a quem sabe que lhe quer bem.
Sabe dançar e pisar o tapete vermelho das suas próprias glórias, sem que, por isso, cobre nada do que faz, ou sequer ostente o seu dorido troféu.
E, isto, numa espécie de atitude de natural resiliência, mas que as mulheres, as mulherzinhas que não saem de gritos e combates estéreis, nem sequer conseguem entrever.
Mulherzinhas também, porque tanta vez mais reivindicativas, do que efetivamente lutadoras na sua própria vida pessoal, que consideram um exclusivo onde só legitimam o que querem.
Há sempre Trumps no meio de Bidens ou Obamas, falando na generalidade.
Não conhecem, nem sabem, o que é a elegância de uma Senhora, que tendo posto as mãos na terra e na lama das adversidades, e mesmo injustiçada nos pântanos sociais, tantas vezes travestidos em falácias, não deixa, por isso de ser uma Senhora! É isso que lhe dá autoridade: não o contínuo vociferar em estéril ruído.
Sem querer particularizar, e apenas porque acaba de me assomar à mente, escrevi a propósito de minha Mãe, pelo seu dia de anos ou dia da Mãe, que era, simultaneamente, tanto uma flor delicada, uma frágil pétala na sensibilidade, quanto um cato do deserto.
Porque enquanto cato, aprendendo a sobreviver às piores secas, numa bravura a que chamamos resiliência, e escondendo nos aparentes picos afiados, a pétala que também era.
Sempre foi, a minha Mãe, um exemplo do que digo. Uma enorme grandiosidade de espírito, da qual não se parecia dar conta, num impressivo exemplo de Mulher-Senhora.
Nomeadamente a sua bonomia, generosidade, empatia, simpatia, acolhimento, sem que deixasse de ter o currículo do sofrimento da condição humana, quantas vezes auto superando-se, não efusivamente, mas com a tristeza solitária pelo que de adverso lhe cabia.
E, ainda assim, sem nunca se comparar ou invejar com quem quer que fosse, porque a responsabilidade é sempre individual na condução da nossa vida.
E, é esta inteligência do coração, é esta inteligência emocional que parece inata a determinado calibre de pessoas, que sumaria bem a polivalência da mulher, talvez porque ao contrário dos homens, se preocupem menos nos considerandos e egos, e mais com o pragmatismo e os afectos.
De resto, só por isso, já são uma lição para tantos homens...