5.3.25

LEMBRA-TE QUE ÉS PÓ...

 

Hoje é 4.feira de Cinzas. A História da Humanidade, tem tanto de heroísmo como de cobardia. Certo é que serpenteamos entre a ética e a coisificação; entre o amor e o poder.
E, porém, como no tempo quaresmal que hoje se inicia, "lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar!"
Absurdamente, porém, assistimos a um dos piores períodos da História da Humanidade! A guerra já começou há três anos, pelo ocioso motivo de querer invadir a casa do vizinho, tornando-a sua, não se coibindo de chacinar quem lá se encontre, mesmo recebendo a legítima oposição!
Cristo soube fazer a denúncia do achincalhamento da dignidade humana, sem se render aos poderes instituídos, políticos e religiosos embora também sem os desrespeitar ou convidar à insurreição.
Mas não pactua: denuncia. E fê-lo com frontalidade e coerência, ao ponto de perder amigos, como previra com a negação de Pedro ou a traição de Judas!
Zelensky faz-me lembrar, salvaguardadas as diferenças, o próprio Cristo, e também, numa escala macro, a negação de países europeus na ajuda da sangrenta batalha ab initio, ou a infame traição, não dos Estados Unidos, mas de um ominoso Trump e sua administração, que não representam o que tem sido esse país.
Mas há mais nesta Quarta Feira de Cinzas, em que o sacerdote coloca na testa dos cristãos, cinzas feitas das palmeiras do Domingo de Ramos do ano anterior, ou seja, de quando Cristo é aplaudido como o Messias, recebido como o grande libertador político!
Vladimir Zelensky tem sido de um estoicismo, de uma bravura, de uma resiliência, desde o primeiríssimo minuto, que evoca Cristo como um mestre de Inteligência Emocional.

António Damásio, que fez anos há cerca de uma semana, neurologista e neurocientista português conhecido por obras como o "Erro de Descartes" e tantos outros, trabalha no estudo não só do cérebro mas, sobretudo, das emoções.
Cristo é um belíssimo exemplo de inteligência emocional, sabendo perceber a necessidade do outro e de calçar os seus sapatos.
Zelensky ou qualquer homem na sua posição e com a sua postura, faz precisamente aquilo de que trata a Inteligência Emocional. Como lidar com as suas emoções e com as dos outros? Muitos outros. Diferentes outros. Ao ponto de ter de negociar uma invasão?
Em que absurdo vivemos, para, sequer, imaginar a presente situação mundial?
Não é, porém, muito difícil, saber porque entrámos nesta distopia de territórios invadidos, como também em Gaza, e de traições e indiferenças!
Trump chegou a publicar um vídeo de IA há exactamente uma semana, que, pessoalmente, nem aqui quis reproduzir. Nesse vídeo, a Faixa de Gaza aparece transformada num resort de luxo.
Vêem-se figuras do próprio Donald Trump em estátuas de ouro e souvenirs, bem como de Elon Musk ou Benjamin Netanyahu, a celebrarem ostensivamente uma suposta “libertação” daquele enclave palestiniano, onde já morreram mais de 47 mil pessoas, vítimas da guerra de Israel contra o Hamas.
E ali estão as imagens egoicamente autistas de praias paradisíacas, iates luxuosos, arranha-céus modernos, e Elon Musk, não só multimilionário, dono do X e da Tesla, mas também Conselheiro da Casa Branca, surge várias vezes a lançar notas de dinheiro ao ar, e o primeiro-ministro israelita aparece de fato de banho, ao lado de Trump, a beber cocktails junto a uma piscina.
É assim, devagarinho, sem nos importarmos com o fogo que arde, que vamos legitimando e normalizando com o tempo, aquilo que corrompe a natureza humana em toda a sua bondade e humanidade.
Porque um gesto egoísta em cada quadrado pessoal da existência humana, pode parecer inócuo, isolado, sem cuidarmos, sequer, se não é já uma metástase de outros que assobiamos para o lado.
E, tal como aconteceu com o nazismo,literalmente o império do mal! O relativismo passa a norma. E, é por isso, que falar da formação humana, indo contra a corrente hedonista dos nossos dias numa sociedade perdida de valores, onde cada um acaba por ir organizando erraticamente os seus,
é tão importante quanto o ar que respiramos.
E em pleno alto mar de redes sociais, da urgência de fazer scroll sem parar, com tempo, tudo se torna concomitante, e damos por nós num caos organizado! Mas que é anti natura. É caos.

É, também, quando temos de parar.
De voltar ao início.
De fazermos um reset coletivo, mas que não se consegue sem começar pelo individual.
E lembrar o que lembra o dia de hoje:
"Lembra-te que és pó
e ao pó hás-de voltar!"
Até lá, não podemos continuar "passivamente indiferentes", legitimando, por omissão, literalmente tudo, porque os imperativos éticos do bem e do mal parecem, agora, pertencer, ao que cada um concecione ser bem ou mal.
Só que não. É objectivamente Mal, a distopia em que vivemos, por maiores os argumentos invocados, incluindo jurídicos, já que o facto de ser lei, não significa que seja justa ou moral...
Se perdemos os valores em nome de uma modernidade doentia, então os doentes somos nós!