O que é a felicidade? Comemora-se hoje o seu dia, mas o que é, afinal, a felicidade?
Cada um poderá ter para si um conceito mais ou menos difuso, mas há alguns conceitos que precisam de ser desmontados, sob pena de auto viés. O dinheiro, por exemplo. Proporciona bem estar, conforto, prazer pessoal, potencia a própria felicidade, mas não é a felicidade em si.
O poder, fama, sucesso. Mantém o ego nas alturas, proporciona um sensação de omnipotência, potencia (ou tem esse potencial) a própria felicidade, mas não é a felicidade em si.
Senão vejamos: uma pessoa deixada numa ilha paradisíaca com tudo ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial. Porquê? Porque está na nossa própria inscrição genética, que o Homem é um ser relacional.
O dinheiro (de tão necessário que é, mas que apenas o refiro na ótica do seu peso naquilo que verdadeiramente torna uma pessoa feliz), não compra o Amor, os Amigos de Verdade, a Saúde ou o Tempo.
Tal como não compra os valores universais dos imperativos éticos. É, aliás, por isso, que também o dinheiro não evita a injustiça, a incompreensão, o desamor e a desestruturação como pessoa.
Porque o dinheiro, o sucesso, poder, fama, potenciam o sentimento de felicidade, mas não a substituem. É uma das mais perfeitas ilusões. Mas se formos felizes, o dinheiro abrilhanta a própria felicidade. Porém, o contrário não acontece.
É que a Felicidade vem de dentro, e é totalmente insuscetível de avaliação pecuniária. É sentir que caminham connosco, que somos compreendidos e amados, que somos apreciados.
Então e agora que faço com todo este dinheiro, suposta fonte de felicidade, se não tiver quem me ame nas diversas vertentes do Amor (universal, de amizade, fraternal, romântico...)!?
A suposta felicidade oriunda dos bens materiais, é igual à de um náufrago sobrevivente de um luxuoso cruzeiro numa ilha deserta e perdida, com tudo ao seu dispor. O próprio sentido de auto preservação seria corrompido. Tal como tantas vezes acontece por falta de significado na vida.
E não há significado que não esteja intimamente ligado à nossa necessidade relacional. É sempre nas coisas simples e na relação com o Outro, que a Felicidade desponta.
E não se é feliz todos os dias, mas não por não termos amor.
É, aliás, também, por isso, que devemos estar continuamente atentos àquilo que sentimos, porque essas tensões de equilíbrio, essas emoções, surgem, precisamente, para nos alertar para a toxicidade de outras.
Tudo o resto é importante, mas acessório a que possamos dizer com propriedade que somos Felizes. Porque sem Amor, o Homem nunca se realiza, nem que seja ajudando o outro, porque existe recompensa instantânea.
O dinheiro brilha, tenta e confunde. Mas não cura um coração ferido. Não se compadece da mais profunda dor. Não traz de volta quem nos perdeu ou quem perdemos. Só o Amor.
Sim, o dinheiro é uma das mais perfeitas ilusões, já o disse, de tão reluzente! Mas só até ser ofuscado pelo sol. Aí percebemos o que verdadeiramente brilha.
E, é este sol que confundimos com a luz artificial das coisas, que nos faz bater o coração e acordar todos os dias com um propósito. É ele que nos dá o verdadeiro sentimento de felicidade. Voltamos ao exemplo do náufrago com tudo ao seu dispor e, porém...
Tal como alguém com os maiores luxos, casas palacianas, infindos bens materiais, mas sem ninguém que o ame pelo que é.
Só por amor conseguimos aliviar o peso de um coração triste. Só por amor conseguimos aliviar a fome de um mendigo que verdadeiramente a tem, ou tornar menos pesada a cruz dos que, habituados à dor, já nem se queixam ou estendem a mão.
Só por amor somos resgatados de uma existência fúnebre, doentia, como quem foi traído nos alicerces que nos trazem vivos.
Só pelo amor dos outros suportamos a doença, a injustiça, a maldade, a inveja. As lágrimas de quem nos partiu como que levando um pedaço de nós.
Só o amor extingue a solidão. Um coração que sangra, uma depressão que se instalou.
A felicidade existe ao ver o Bosquinho tão confortável no seu dormitar, que passou a ser minha. Existe, quando, no hospital, recebemos a notícia de que já podemos ir para casa. Ou de que, quem fomos visitar, continuará vivo e não morrerá, como pelo seu quadro se julgava.
A felicidade existe, sempre que amamos e somos amados. Tudo, literalmente tudo, incluindo os bens materiais e a capacidade financeira que nos abrilhanta a vida, vem sempre depois do Amor.
É aí que reside a Felicidade.
Porque só o Amor dá razão à existência!