18.4.10

ASSUMIREI O TEU AMOR


Deixas cair, por fim, a tua cruz. Pego nela  não a merecendo. Indigno de a levar mas orgulhoso por tão grande honra. Como um dia de chuva sereno onde nos encontramos só nós. No teu jardim. No jardim que agora irei plantar. Onde continuarás sempre tu no meio das flores e do verde que só as tuas mãos têm sabido cuidar com o coração.

Assumirei o teu amor. O teu grande amor. E com ele a tua cruz. Se for digno. Como alguém que continua a caminhada erguendo o archote que alumia a alma e o mundo, aquece os corações e afugenta a noite. Terei, por fim, a iniciação concluída, e com ela a responsabilidade de continuar o teu caminho. 

Sentirei o ancinho que de minhas mãos trabalhará a terra suave que tanto tempo recebeu o teu carinho. Deixarei cair sementes que se renovarão, ano após ano, como o olhar triste de um cachorrinho que espera eternamente pelo dono que não vem.

O teu braço será o meu amparo, e a tua mão o pão de minha boca. O teu olhar alimentará a minha alma, e serei feliz num jardim que só nós conhecemos. Só nós. Depois, perder-me-ei nele para te encontrar todos os dias, como quem rega com o pranto do amor a tua presença sagrada.

Sim, levarei a tua cruz regada com cada pétala da tua nobreza para que não fiques caído no caminho como quem passou o testemunho.

Não. Não te deixarei só. Tu irás comigo.
Serão apenas os meus ombros a substituir os teus.

E semearás pelo caminho sementes prenhes de vida e de esperança e de amor  mesmo que eu não sinta o cheiro dos álamos ou a fragrância dos ciprestes. Mas tu estás lá. Porque para sempre, serei eu a levar-te às minhas costas. Sereno, confiante,  triste, mas só até me acariciares o rosto e fizeres prosseguir a caminhada.  Para que nada tenha sido em vão.